Cartaz denuncia: "90% das pessoas mortas pela polícia são não-brancas" | Foto: Bertrand Guay/AFP

O governo francês mobilizou 45 mil policiais e gendarmes [guardas fortemente armados], e dezenas de cidades impuseram toque de recolher obrigatório na tentativa de conter a onda de protestos contra a polícia pela execução do adolescente negro Nahel M. em Nanterre, nos arredores de Paris, na terça-feira (27) à noite. Mais de 875 manifestantes foram presos e mais de 2.000 veículos já foram consumidos pelas chamas, na fúria da população exigindo Justiça.

Em frente à Prefeitura de Paris e em mais de 90 cidades, milhares de pessoas foram às ruas para exigir a renúncia do ministro do Interior, Gérald Darmanin. Os cartazes no alto desnudavam a triste realidade: “A polícia é racista e mata crianças”, “90% das pessoas mortas pela polícia não são brancas” e “Aos 17 anos não se brinca mais de polícia e ladrão”.

Um vídeo captado pelas câmeras de vigilância e popularizado nas redes sociais mostra quando o jovem de 17 anos foi morto e como lhe é disparado à queima-roupa. Se escuta claramente: “Você vai levar um tiro na cabeça”.

ÔNIBUS E BONDES FORA DE CIRCULAÇÃO

O governo admite que a situação é caótica, havendo 500 prédios danificados e centenas de empresas saqueadas. Darmanin informou que ônibus e bondes deixariam de circular “o mais tardar às 21 horas” em todo o país “todas as noites até novo aviso” na tentativa de reduzir a intensidade dos distúrbios noturnos. Não se pronunciou sobre a sua renúncia.

“No atual contexto de fortes tensões”, anunciaram as autoridades, todas as festas nos colégios e liceus da academia de Versalhes, a maior da França, estão canceladas até o final do ano letivo, enquanto a manutenção das feiras, para as escolas, será decidida “caso a caso”.

O município de Clamart foi o primeiro a introduzir um toque de recolher, em vigor a partir das 21 horas até às seis horas segunda-feira. Em Neuilly-sur-Marne, onde sete viaturas da polícia municipal foram consumidas pelas chamas, a Prefeitura decidiu impor toque de recolher em bairros da cidade. Em Compiègne, no Oise, até segunda-feira de manhã, menores de 16 anos desacompanhados não poderão andar à noite sem os pais ou um representante legal.

A prefeitura de Lyon proibiu todas as manifestações, mas convocações para comícios “contra o racismo, o crime e a violência policial” foram amplamente divulgadas nas redes sociais.

Diante da dimensão do protesto, o presidente da França, Emmanuel Macron, necessitou abandonar mais cedo nesta sexta-feira (30) o Conselho Europeu em Bruxelas e regressou a Paris para uma reunião de emergência.

“Um terço dos detidos ontem à noite são jovens ou muito jovens. Apelo à responsabilidade dos pais”, disse Macron, garantindo que serão tomadas “várias medidas nas próximas horas”, com a mobilização de “recursos adicionais” para fazer face às confrontações. Da mesma forma, disse que departamentos franceses “mais afetados” pela revolta vão cancelar todos os eventos festivos até nova ordem. Nem uma palavra sobre a mudança na criminosa política repressiva aplicada pela polícia contra a juventude, particularmente da periferia.

Completamente deslocado da realidade, o presidente francês elogiou a resposta “rápida e adequada” das forças de segurança, na sequência de três noites consecutivas de tumultos.

Acusado de homicídio, o policial responsável pela execução de Nahel foi detido e se encontra em prisão preventiva.

Fonte: Papiro