Sandra Torres e Bernardo Arévalo, candidatos à Presidência da Guatemala | Foto: AFP

O oposicionista Bernardo Arévalo, do movimento Semente, e a ex-primeira dama, Sandra Torres, da União Nacional da Esperança (UNE), passaram ao segundo turno das eleições presidenciais da Guatemala no dia 20 agosto, numa disputa entre 22 candidatos em que os votos nulos superaram os 17% e os brancos chegaram a 7%. O vencedor substituirá o presidente direitista Alejandro Giammatei, que chega ao fim do mandato com 76% de rejeição, conforme a pesquisa ProDatos.

Numa eleição em que o voto não é obrigatório, 40% simplesmente não compareceram às urnas. Conforme o Tribunal Superior Eleitoral, Torres alcançou 857.482 votos (15.68%), contra 648.704 votos (11.86%) de Arévalo.

“Nosso profundo e total agradecimento às pessoas que nos deram seu voto de confiança. Obrigado por sua coragem e por dar um passo à frente”, declarou Arévalo, sociólogo de 64 anos, filho do presidente reformista Juan José Arévalo (1945-1951). Seu pai foi o primeiro presidente democrático após décadas de ditadura, encerrando o mandato de Jorge Ubico, um admirador de Hitler que sujeitou maias a trabalhos forçados. Confiante, disse que não estava para ganhar as pesquisas, mas as eleições.

Arévalo nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1958, devido ao exílio de seu pai na América do Sul e na França depois que Jacobo Árbenz foi derrubado em 1954 por uma invasão patrocinada pelos Estados Unidos. Durante a campanha eleitoral como candidato do movimento Semilla, ele prometeu seguir os passos do pai e investir na melhoraria da educação e na geração de empregos, reduzindo a violência e a pobreza que afeta 59% dos 17,6 milhões de guatemaltecos.

Deputado pelo partido Movimento Semente, entre outros cargos, Arévalo foi embaixador da Guatemala na Espanha entre 1995 e 1996 e vice-ministro das Relações Exteriores entre 1994 e 1995, no governo de Ramiro de León Carpio. Integrou as comissões de Relações Exteriores, Direitos Humanos, Assuntos de Segurança Nacional, Integração Regional, Segurança Social e Previdência, Interior e Educação, Ciência e Tecnologia do Congresso.

Candidata da UNE, Sandra Torres como empresária do ramo têxtil foi proprietária de maquiladoras – empresas conhecidas pela precarização da mão de obra e importação de materiais sem o pagamento de taxas – no México. Na Guatemala, esteve detida em 2019 acusada de financiamento irregular do partido, mas o caso foi encerrado em 2022.

Nestas eleições, Torres repetiu o mesmo discurso feito em 2015 e 2019, quando perdeu o confronto no segundo turno, dizendo declarar-se “confiante na vitória” com o seu programa de retrocesso.

De acordo com as projeções – uma vez que os votos ainda não foram todos apurados -, o partido Vamos, de Giammattei, teria a bancada majoritária no Congresso com 40 das 160 cadeiras, apontou o jornal Prensa Libre. O partido de Torres teria alcançado 27 deputados e o de Arévalo 24.

O principal protagonista do primeiro turno, com 17,39% do eleitorado, o voto nulo foi quatro vezes superior ao de 2019, refletindo o grande desinteresse e a enorme desconfiança dos guatemaltecos pelo jogo de cartas marcadas.

Números das organizações de direitos humanos falam em 250 mil mortos e desaparecidos, mas há quem aponte 400 mil vítimas das matanças, torturas, estupros e massas e mutilações entre 1960 e 1996.

O diretor da ONG Transparência Internacional detalhou que os grupos que haviam perdido com as investigações da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig) “voltaram com mais força”. “Está se consolidando um regime, não uma ditadura tradicional, mas uma ditadura corporativa, o que é muito mais perigoso porque não há uma figura visível”, assinalou.

Como recordou Eduardo Galeano, “este pequeno país de índios analfabetos e mortos de fome se erguia sob seus pés. Arévalo e Árbenz, eleitos sucessivamente pelo voto popular, haveriam de encabeçar a difícil aventura da afirmação nacional”. “Nacional, digo, no sentido que transcendia as fronteiras da Guatemala: destes governos nasceram os melhores e mais intensos esforços para reconstruir, sobre novas bases, a perdida unidade centro-americana”, enfatizou.

Fonte: Papiro