Casas e carros incendiados por vândalos israelenses na cidade de Turmus Ayya | Foto: Twitter

Em uma ação terroristas articulada, centenas de colonos judeus, que vivem em assentamentos construídos em terras assaltadas aos palestinos – uma sucessão de roubos de terras que tiveram início com a ocupação de 1967 – atacaram simultaneamente diversas aldeias palestinas, nos últimos dias.

Neste sábado, colonos fanáticos incendiaram plantações e colheitas na aldeia de Tuwane, ao sul da Cisjordânia.

Os vândalos estão vindo destes assentamentos e já invadiram as cidades de Luban a-Sharqiya, Huwara, Beit Furik, Burin, Urif, of Turmus Ayya, Sinjil, Um Safa, entre outras, para incendiar casas, carros, plantações e ainda uma escola e profanar uma mesquita.

Os ataques fazem lembrar os pogroms que vitimavam os judeus da Rússia e outras nações da Europa Oriental, assim como o que desencadeou a perseguição massiva aos judeus alemães na razia que ficou na história como a “Noite dos Cristais”, pela destruição em massa de vitrines de lojas de judeus na Alemanha.

Além de ser a maior onda de terror já perpetrada por civis israelenses, o ataque teve o agravante de, na maioria dos lugares onde ocorreu, os soldados israelenses presentes terem ficado passivos ou, em alguns casos atirado nos palestinos que foram em massa e desarmados às ruas para defender as cidades atacadas e vandalizadas.

INCITAÇÃO MINISTERIAL

Mais grave ainda foi a reação de dois dos ministros israelenses, exigindo uma intervenção militar mais agressiva ainda. Pegando o exemplo das chacinas israelenses contra a população da Faixa de Gaza, clamou por repetir a barbárie na Cisjordânia

“É hora de retornarmos aos assassinatos a alvos atacados pelo ar, de deixarmos prédios no chão, de erigir mais postos policiais nas estradas, de modo a expulsar terroristas e, finalmente, aprovar a lei determinando a pena de morte, a lei contra o terrorismo”, disse o ministro da Segurança Nacional, Ben Gvir, para quem os “terroristas” não são os vândalos fanáticos que habitam os assentamentos judaicos em terras assaltadas aos palestinos, mas os que resistem ao roubo de suas terras, às prisões em massa, às razias militares noturnas e à permanente humilhação nos postos policiais-militares israelenses estabelecidos às dezenas por todo o território palestino.

O outro ministro, virulentamente supremacista, Bezalel Smotrich, que acumula a pasta das Finanças e a Coordenadoria das Atividades de Governo nos Territórios [palestinos], chamou as forças israelenses a “bater nas cidades palestinas com tanques e helicópteros, sem dó, de tal forma que comunique que o dono da casa [judeus israelenses] enlouqueceu”.

“Chegou a hora de mudar das pequenas operações para uma campanha de amplitude”, acrescentou.

Ghassan Daghlas, funcionário da cidade árabe de Nablus, perto da qual ocorreram as razias dos colonos israelenses, disse que, na região, cerca de 40 palestinos ficaram feridos, um morreu e 140 carros foram incendiados, além de uma ambulância.

Alguns dos palestinos ficaram feridos quando saíram às ruas de suas cidades para defendê-las e foram atacados a tiros pelos vândalos. Foi o que aconteceu nas cidades Sinjil, ao norte de Ramallah e em Um Safa.

Na cidade de Turmus Ayya também houve resistência da população Palestina, mas foi impossível evitar as depredações perpetradas por 400 vândalos que partiram de assentamento judaico. Segundo o prefeiro Lafi Adeeb cerca de 60 carros foram incendiados na cidade e 30 casas foram incendiadas parcial ou totalmente.

Nesta, que foi uma das cidades mais duramente atacadas, as forças armadas interviram para agredir os palestinos que resistiam a incursão dos vândalos. No confronto, o jovem Omar Ketin, de 27 anos, foi morto por uma bala.

Amigos de Ketin, um eletricista que trabalhava para a Prefeitura local, pai de suas meninas pequenas, o descreveram como pacífico e muito trabalhador. Ele estava no local da agressão quando foi atingido mortalmente.

Um jornalista palestino foi atingido no rosto por uma pedra arremessada por um invasor.

Um garoto de 12 anos foi atacado a murros enquanto lhe apontavam uma arma, quando retornava a sua casa de bicicleta na cidade de Luban a-Sharqiya.

HAWARA: POGROM REPETIDO

A cidade de Hawara, que foi palco de uma outra depredação no início do ano – quando cerca de 400 moradores ficaram feridos e um palestino morreu no ataque – voltou a ser atacada com a malta incendiando carros e danificando propriedades palestinas.

A exacerbação das tensões – desde que o governo mais abertamente supremacista assumiu em Israel – fez com que 163 palestinos tenham perdido a vida desde o início do ano, enquanto que 24 israelenses morreram em confrontos militares com palestinos ou por ações armadas palestinas, como aconteceu nesta semana em que dois palestinos mataram quatro ocupantes de assentamentos judaicos, o que serviu de senha para a barbárie dos últimos dias.

Na cidade de Urif, os colonos profanaram uma mesquita, um deles é visto em um vídeo rasgando as páginas do livro muçulmano sagrado, o Alcorão, diante da mesquita profanada.

“O assalto pelos colonos continua sem nenhum esforço do exército para detê-los”, declarou, em carta aberta, a organização israelense defensora de direitos humanos, Yesh Din. “Os chocantes vídeos demonstram que o único propósito dos colonos e incitar um levante para cometer mais pogroms organizados”.

REPÚDIO INTERNACIONAL

O repúdio aos pogroms começou a partir de representações diplomáticas e de governos de diversos países.

Na França, o presidente Lula cobrou o fim a este estado de coisas: “A ONU precisa ter mais força política, a ONU foi capaz de criar o Estado de Israel e não é capaz de encontrar uma solução para a ocupação da Palestina”.

O embaixador dos Estados Unidos em Israel, Tom Nides, também se manifestou, dizendo que Washington não ficará apático diante da violência dos colonos e pediu que as forças israelenses tomem as medidas necessárias para prevenir “estes violentos incidentes”.

O ministério do Exterior da Turquia destacou que o país “condena o ataque perpetrado por um grupo de colonos judeus contra o nosso livro sagrado. Esperamos que os perpetradores deste crime de ódio sejam levados à Justiça o mais rápido possível”.

O ministério do Exterior da Jordânia, repudiou a “violência armada dos colonos”, e pediu à “comunidade internacional que intervenha para dar proteção ao povo palestino”.

O ministério do Exterior do Egito também se manifestou exigindo que “os ataques de colonos a aldeias palestinas cessem imediatamente”.

“O Egito afirma sua complete rejeição aos atos de intimidação e punição coletiva atingindo os cidadãos palestinos”, acrescentou.

No mesmo sentido, o ministro das Questões Religiosas do Egito, Mokhtar Gomaa, se somou às condenações dizendo que a ocupação e, agora, os ataques contra palestinos “são a fonte do terrorismo, do extremismo e do racismo que arranca todas as chances de coexistência e minam violentamente a liberdade de crença e da liberdade para as práticas religiosas.

Jonathan Greenblatt, líder da entidade judaica com a sede principal nos Estados Unidos a “Anti-Defamation League” condenou os “atos de colonos judeus extremistas” e denunciou como “vergonhoso” o ataque a “textos sagrados”.

Em matéria divulgada após as razias dos fanáticos que ocupam a região, o jornal israelense Haaretz pediu que os dirigentes governamentais atuem globalmente com medidas efetivas para deter a limpeza étnica que segue de forma cada vez mais escancarada pelo regime de Israel e se referiu às declarações dos governos acima afirmando: “Palavras não bastam”.

Fonte: Papiro