Mao Ning, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China | Foto: MRE da China

A porta-voz da chancelaria chinesa, Mao Ning, rechaçou na quarta-feira (21) como “extremamente absurdos e irresponsáveis” os comentários do chefe da Casa Branca, Joe Biden, em um evento de arrecadação de fundos para campanha ocorrido na véspera na Califórnia, em que este, do nada, chamou o presidente Xi Jinping de “ditador”. Uma “provocação política aberta” que viola a etiqueta diplomática e a dignidade da China, reiterou Mao, acrescentando ainda que “contradiz os fatos”.

A provocação foi devidamente postada no site oficial da Casa Branca, embora quatro dias antes Biden houvesse encerrado um discurso com um bizarro “Deus Salve a rainha, cara”. Sua declaração de “ditador” aconteceu menos de 24 horas após a viagem de seu secretário de Estado, Antony Blinken, aliás, realizada por insistência de Washington.

Após discussões com o chanceler Qing Gang, consideradas como “sinceras e produtivas”, Blinken acabou sendo recebido pelo presidente Xi, o que apontava para um avanço no que era a primeira visita à China de um secretário de Estado norte-americano em cinco anos. Também houve a aceitação, por Pequim, do convite ao chanceler chinês para uma visita oficial a Washington.

O que, como observou o portal Moon of Alabama, sugeria que os dois lados tinham encontrado “um terreno comum – particularmente a necessidade de laços mais estáveis e de reduzir o risco de conflito militar”. Então, em apenas 24 horas, “o presidente Biden estragou tudo”.

Diante dos rubricadores de cheques de campanha, Biden se esbaldara e, depois de se gabar de ter “derrubado aquele balão com dois vagões cheios de equipamento de espionagem”, chamou o presidente Xi de “ditador” que “não sabia que [o balão] estava lá”. Disse também que Xi “ficou envergonhado” e “negou que estivesse lá”.

Biden ainda se meteu a dar preleções sobre a economia da China, país que, na avaliação do FMI, crescerá três vezes mais que os EUA em 2023. Aos doadores de campanha, Biden disse que “a China tem dificuldades econômicas reais”. “O ponto muito importante é que ele está em uma situação agora em que deseja ter um relacionamento novamente. Tony Blinken acabou de ir até lá – nosso secretário de Estado fez um bom trabalho. E vai demorar”.

Ainda nessa arrecadação de fundos, Biden asseverou que “ele [Xi] me ligou” para “não reunir o Quad” porque “o colocaria em apuros”. E acrescentou, em evidente mentira: “Tudo o que estamos fazendo – não estamos tentando cercá-lo-, estamos apenas tentando garantir que as regras internacionais com rotas aéreas e marítimas permaneçam abertas. E não vamos ceder a isso”.

Não há registro de tal “telefonema” de Xi a Biden. A propósito, o chefe do Pentágono é que anda pedindo que por gentileza Pequim atenda seus telefonemas.

Esse tipo de atitude de Biden só acentua o contraste entre ele e o presidente Xi, enquanto estadistas das duas maiores economias do planeta.

Ao receber Blinken, o presidente Xi afirmou que “o planeta Terra é grande o suficiente para acomodar o respectivo desenvolvimento e prosperidade comum da China e dos EUA” e pediu que os EUA respeitem a China e honrem as declarações positivas e o consenso feito em sua reunião com o presidente Biden no ano passado em Bali.

Xi apontou que “o mundo precisa de uma relação China-EUA geralmente estável” e “se os dois países podem encontrar o caminho certo para se dar bem depende o futuro e o destino da humanidade”.

Ele pediu aos EUA que adotem uma atitude racional e pragmática e trabalhem para o mesmo objetivo com a China, chamando a “traduzir as declarações positivas em ações para estabilizar e melhorar as relações China-EUA”.

“Nenhum dos lados deve tentar moldar o outro por sua própria vontade, muito menos privar o outro lado de seu direito legítimo ao desenvolvimento”, acrescentou.

Ao elaborar os laços bilaterais, Xi disse que a China sempre espera ver uma relação China-EUA sólida e estável e acredita que os dois principais países podem superar várias dificuldades e encontrar o caminho certo para conviver com base no respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha.

BLINKEN PROMETE ENVOLVIMENTO DE ALTO NÍVEL

Segundo a mídia, Blinken transmitiu as saudações de Biden a Xi. Ele disse que Biden acredita que os EUA e a China têm a obrigação de administrar com responsabilidade suas relações, acrescentando que isso é do interesse dos EUA, da China e do mundo. Blinken acrescentou que Washington “mantém os compromissos assumidos pelo presidente Biden”.

Ou seja, os EUA “não buscam uma nova Guerra Fria, nem mudar o sistema da China” e suas alianças “não são direcionadas contra a China, não apoiam a ‘independência de Taiwan’ e não buscam conflito com a China”.

Ainda segundo o secretário de Estado, o lado dos EUA espera ter um envolvimento de alto nível com o lado chinês, mantendo linhas de comunicação abertas, gerenciando diferenças com responsabilidade e buscando diálogo, intercâmbio e cooperação.

Segundo “observadores” citados pelo Diário do Povo, “Xi fez seus comentários a Blinken em um momento em que Washington persiste em reprimir e intimidar a China enquanto esvazia o princípio de Uma Só China”.

Na segunda-feira, Wang Yi, membro do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China e diretor do Gabinete da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do PCCh, também se encontrou com Blinken. Wang pediu aos EUA que “parem de exaltar a ‘ameaça da China’, suspendam as sanções unilaterais ilegais contra a China, parem de suprimir o desenvolvimento científico e tecnológico da China e se abstenham de interferir nos assuntos internos da China”.

Fonte: Papiro