Queremos pintar a universidade de povo, diz candidata da UJS à UNE
A União da Juventude Socialista (UJS) já definiu quem será sua candidata à presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE). Trata-se da jovem Manuella Mirella, de 26 anos, que poderá ser a primeira mulher negra, nordestina e LGBT a liderar a entidade. O 59º Congresso da UNE (Conune), que elegerá a nova direção, acontece entre os dias 12 e 15 de julho, em Brasília. Para a disputa, a UJS lançou o movimento Bloco na Rua.
Nascida em Olinda, Pernambuco, Manuella é cotista e filha de uma empregada doméstica e de um feirante, um retrato vivo do povo brasileiro que, por muitos anos, se viu alijado do direito de acessar a universidade, realidade que começou a mudar com a lei de cotas. “É uma grande emoção ser candidata para a direção da maior e mais importante entidade do Brasil que é a União Nacional dos Estudantes. Eu sou uma mulher preta, nordestina, LGBT, cotista e pobre, represento um pouco do perfil pelo qual a gente sempre lutou para colocar na universidade”, contou Manuella ao Portal Vermelho.
Ela completa lembrando que é “filha das políticas públicas que foram bandeiras históricas e conquistas da UNE. E, por ter vindo desse cenário, vou lutar muito para que mais jovens como eu acessem o ensino superior. Tem uma frase que fala: ‘nada sobre nós sem nós’. Acho que resume um pouco do que essas características trazem para as lutas do próximo período”.
Manuella se formou em Química na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP). Ela conta que chegou ao curso com o sonho de transformar sua vida. “Lá eu conheci o sonho da coletividade; então eu juntei o meu sonho com o de ajudar a mudar a vida de milhares de jovens”.
Foi naquele momento, também, que brotou outra paixão: os biocombustíveis e as energias renováveis. “Terminei o curso e fui a primeira da minha família a ingressar e concluir o curso no ensino superior”, lembra. Hoje, ela estuda Engenharia Ambiental na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas Educacionais), em São Paulo, área na qual quer se especializar no futuro.
Ao longo de sua jornada universitária ainda em Pernambuco, Manuella, que é filiada ao PCdoB desde 2017, foi presidenta do diretório acadêmico do seu curso, ao mesmo tempo em que presidiu o DCE, além da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP Cândido Pinto) quando acontecia o “tsunami da educação”, primeira grande mobilização contra o governo de Jair Bolsonaro, liderada por estudantes em 2019.
Manuella quer usar a experiência que adquiriu nas mais variadas frentes e jornadas de luta para contribuir com o avanço da educação brasileira. “As bandeiras que a gente vai levar para o próximo período, se eu pudesse resumir numa frase, seria ‘estudante na rua e unidade para reconstruir o Brasil da esperança’. Queremos pintar a universidade de povo, não só para a entrada, mas também pela permanência desses estudantes nas universidades”.
Neste sentido, explica a jovem militante, “a gente vai defender, além das cotas, uma reforma universitária que tenha como base a gente pensar e atualizar a universidade brasileira, pensar inclusive numa regulamentação do ensino superior privado, o fim dos 40% do EAD (ensino à distância) no ensino presencial e o fim da cobrança de taxas abusivas das universidades privadas”.
Na avaliação de Manuella, a UNE terá papel central no próximo período. “Ao longo da história, lutamos muito pela democratização do acesso ao ensino superior. A gente vai precisar agora democratizar a permanência. A gente quer que o estudante que entrou possa continuar e concluir o seu curso. Então, acredito que uma bandeira-chave também do próximo período é a assistência estudantil, com o fortalecimento do Plano Nacional de Assistência Estudantil”.
Essas e outras lutas estão diretamente ligadas ao novo momento vivenciado pelo país desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado pela reconstrução do país em várias frentes, inclusive a da educação e das políticas para a juventude, após quatro anos de ataques sistemáticos do bolsonarismo.
“Eu costumo dizer que a gente derrotou o Bolsonaro nas ruas e nas urnas e a UNE teve um papel fundamental, junto com a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos), inclusive com a própria campanha para que a juventude tirasse o título de eleitor e pudesse decidir o rumo do Brasil. E a gente venceu o ódio que o governo Bolsonaro representava”.
Mas, salienta, “ainda temos muito pela frente. Vimos o que aconteceu no 8 de janeiro: o bolsonarismo ainda existe. O governo Lula iniciou com pautas emergenciais, mas a gente precisa também, no próximo período, de reformas estruturantes do nosso país”. Ela salienta que é fundamental “que a gente comece a debater uma reforma universitária, que a gente coloque no centro do debate não só a democratização do acesso ao ensino superior, mas que a gente consiga debater a permanência desses estudantes na universidade”.
Manuela conclui dizendo que os últimos quatro anos “foram de muita luta; nossas conquistas no governo Bolsonaro remetem à resistência. Os cortes aconteciam, a gente ia para a rua, a gente resistia e revertia. Mas não teve investimento na educação. Agora a gente vê a possibilidade de que, com muito estudante na rua, possamos colecionar conquistas e vitórias e mudar a vida de milhares de jovens”.