Milhares de empresas faliram na Alemanha sob a alta dos custos de energia causada pelas sanções | Foto: Divulgação

Acompanhando a Alemanha, a zona do euro entrou em recessão, com contração em dois trimestres consecutivos, mostraram os números da agência europeia Eurostat divulgados na quinta-feira (8), após revisão das estimativas prévias. O que reflete os choques de energia e alta da inflação, decorrentes das sanções contra a Rússia e da alta dos juros pelo BCE que, segundo o portal europeu Politico, “corroeram o ímpeto de crescimento durante o inverno”.

No primeiro trimestre de 2023, o produto interno bruto (PIB) da zona do euro caiu 0,1 por cento em relação ao trimestre anterior, depois de encolher 0,1 por cento no quarto trimestre de 2022. Os números revisados ​​ficaram abaixo das estimativas rápidas de 0,1% e 1,3% publicadas em 16 de maio; economistas previam expansão média de zero e 1,2%, respectivamente.

É a primeira contração de seis meses desde os lockdowns da pandemia de Covid-19. Fala-se de “recessão técnica” quando há queda da produção em dois trimestres consecutivos.

Segundo o Eurostat, sofreram contrações na zona do euro, Irlanda (-4,6%), o maior recuo; Lituânia (-2,1%), Holanda (-0,7%), Estônia (-0,6%) e Malta (-0,5%). Ao mesmo tempo, a Alemanha, a maior economia da zona euro, também não conseguiu evitar a queda (-0,3%).

De longe a maior economia da zona do euro, com quase 30% do PIB, a Alemanha também é o maior parceiro comercial de mais da metade dos países da União Europeia. Após as revisões, o PIB alemão se contraiu em 0,3 por cento no primeiro trimestre de 2023, depois de encolher 0,5 por cento no último trimestre de 2022.

A revisão de números da Eurostat foi ironizada pelo portal norte-americano Zero Hedge: “A sorrateira revisão para baixo continua uma tendência observada primeiro sob o governo Biden de divulgar impressões econômicas iniciais ridiculamente mais fortes do que o esperado, e depois revisá-las discretamente (muito) para baixo alguns meses depois, quando ninguém se importa”.

Segundo o portal Político, a fraqueza da zona do euro no primeiro trimestre se deveu a uma queda nos gastos do governo e das famílias, com os estoques dando contribuições negativas e o comércio sustentando a produção.

Para o portal, a pequena mudança nos números do PIB não muda o que as famílias já estão experimentando: “preços crescentes no supermercado, pagando mais juros em suas hipotecas à medida que o Banco Central Europeu aumenta as taxas e lutando por salários que acompanhem o aumento do custo de vida”.

SOMBRAS SOBRE BERLIM

A grande discussão é se a Alemanha vai seguir arrastando para baixo os demais 19 integrantes da zona do euro, nesse quadro em que o bloco europeu se meteu de mala e cuia na guerra por procuração dos EUA contra a Rússia na Ucrânia, trocando a energia barata e garantida russa pelo caro gás de fracking norte-americano.

Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank, expressou ceticismo sobre as perspectivas para a economia alemã: “Queda: Após o declínio significativo no clima de negócios do Ifo, todos os principais indicadores importantes para a indústria (Ifo, PMI, entrada de pedidos) agora estão apontando para baixo. Não entendo por que a maioria dos economistas ainda espera uma recuperação na segunda metade do ano. Uma melhoria fundamental não está à vista”.

Segundo a Organização dos Países Industriais (OCDE) de Paris, a produção econômica alemã vai estagnar este ano, como informa o Berliner Zeitung. Especificamente, o consumo privado cairá 1,4% este ano, após aumentar 4,9% no ano passado. O que contrasta com a previsão do governo Scholz de crescimento econômico de 0,4% na primavera.

Os assalariados na Alemanha sofreram uma perda real de salários de 2,3% no primeiro trimestre de 2023 (reajuste de 5,6% diante de inflação de 8,3%), em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, conforme o bureau de estatística alemão Destatis.

De acordo com a mídia alemã, milhares de empresas faliram desde 2022 sob a pressão de custos de energia dramaticamente crescentes e outras condições desfavoráveis. “Surpreendentemente, a indústria alemã mais uma vez teve que aceitar pedidos em queda em abril”, conforme o Destatis: menos 0,4% em relação ao mês anterior.

Economistas consultados pela agência de notícias Reuters esperavam um aumento de 3,0 por cento nos pedidos as fábricas. A queda em abril segue uma queda acentuada em março. Com 10,9%, isso foi ainda mais pronunciado do que se sabia anteriormente. Em comparação com o mesmo mês do ano passado, os pedidos recebidos em abril de 2023 caíram 9,9%.

“O otimismo no início do ano parece ter dado lugar a um senso de realidade”, disse o economista do ING Bank, Carsten Brzeski, apontando para o declínio do poder de compra, carteiras de pedidos industriais reduzidas, bem como as esperadas perdas de preços mais apertados e crescimento mais fraco dos EUA. “Além desses fatores cíclicos, a guerra em curso na Ucrânia, a mudança demográfica e a atual transição energética pesarão estruturalmente na economia alemã nos próximos anos.”

Como noticiou o Handelsblatt, a economia da zona do euro contraiu-se “surpreendentemente” no início do ano. Quanto ao que a espera, a Capital Economics disse que as perspectivas para a economia da zona do euro são ruins, com uma provável contração novamente no segundo trimestre, devido ao impacto das taxas de juros mais altas, registrou o Zero Hedge.

Mais otimista, a S&P Global Market Intelligence disse prever uma recuperação no segundo trimestre, liderada pelo setor de serviços, seguida por uma desaceleração subsequente e um risco de nova recessão no final de 2023 ou início de 2024, à medida que condições financeiras mais rígidas entrarem em vigor. “Em outras palavras, pode-se obter uma recuperação modesta… e depois uma queda dupla”, sublinhou o ZH.

“Apesar de injetar bilhões de euros na economia durante este período (principalmente na forma de subsídios ao preço da energia), os formuladores de políticas provavelmente ficarão desapontados por ainda não terem conseguido evitar uma recessão ‘técnica’… a tempo”. “Especialmente desde que uma recessão de mergulho duplo agora parece inevitável após uma recuperação modesta no segundo trimestre e/ou terceiro trimestre”, acrescentou o ZH.

Fonte: Papiro