Em 25 de abril, italianos celebraram em Milão a vitória contra o fascismo e repudiaram o envio de armas à Ucrânia | Foto: Luca Bruno/AP

O Comitê Itália Pela Paz e outras entidades estão mobilizadas para conseguir a realização de um referendo sobre o envio ou não de armas à Ucrânia, registrou a agência de notícias russas TASS, que entrevistou um dos organizadores, Hugo Mattei.

“Estamos planejando um grande protesto em toda a Itália, inclusive contra a política de [des]informação da direção da emissora estatal RAI”, disse Mattei.

Outras ações contra o ingresso da Itália na guerra por procuração dos EUA contra a Rússia na Ucrânia vêm ocorrendo. Em 13 de maio, no centro de Roma, ativistas da Frente da Juventude Comunista organizaram um protesto contra a visita de Zelensky e contra o envio de armas a Kiev. Estivadores de Genova também já se manifestaram contra o bombeamento de armas para o regime imposto pelo golpe de estado da CIA em 2014.

A realização do referendo também foi defendida pelo jurista Fabio Marcelli, em artigo publicado no jornal Il Fatto Quotidiano, aliás, segundo o autor, o único jornal italiano de certa dimensão que soube “opor-se eficazmente ao pensamento único dos belicistas, divulgando informações completas e equilibradas sobre as causas e circunstâncias concretas do a guerra na Ucrânia, contribuindo para desmascarar o conto de fadas infantil banal do demoníaco Putin que quer tomar a Ucrânia como o primeiro passo para a conquista do mundo”.

Marcelli chamou a “retomar a mobilização contra a guerra de forma mais geral, de modo a chegar em outubro a uma grande manifestação nacional com slogans claros e inequívocos, que pedem acima de tudo que a Itália aja em consonância com o princípio pacifista fundamental afirmado de uma vez por todas pelo art. 11 da nossa Constituição”.

“IMPERIALISTAS E NEONAZIS”

O jurista também condenou no Il Fatto Quotidiano a “censura ao pensamento pacifista”, solertemente apresentado como “cúmplice das tiranias” enquanto “um manto benevolente de esquecimento” é colocado sobre “os séculos de delitos imperialistas das potências ocidentais” bem como sobre Zelensky, que na realidade “é uma expressão do pior nacionalismo pan-ucraniano com veias fortes e evidentes de autêntico nazismo”.

O jurista italiano chamou a “estar cientes” de que se está apenas no início de um caminho que exigirá, caso prevaleçam as intenções da Sra. Clinton e outros ‘estrategistas ocidentais’, “um longo período de morte e destruição diária, visando esgotar a Rússia, redimensionar a China e interromper todo intercâmbio e cooperação entre eles e a Europa, reduzida à covarde e deprimente categoria de colônia de Washington”.

“MÉDICOS E NÃO BOMBAS!”

Marcelli denunciou ainda “a domesticação da opinião pública”, que deve ser convencida por bem ou por mal de que “não há alternativa à guerra, pelo menos até que a Rússia seja humilhada e as reivindicações do revanchismo plenamente satisfeitas”. O que, apontou, “faz parte desse caminho”.

“Crimeia e Donbass seja qual for a vontade das populações que aí residem, e que já demonstraram não estar nada contentes com o regime de Kiev que alçou o pró-nazista e anti-semita Bandera como seu herói nacional, autor de enormes massacres a serviço do Terceiro Reich”.

“Os governantes europeus imitam Benito Mussolini e sua conhecida pergunta às massas: ‘Você quer manteiga ou armas?’, mas eles já deram a resposta em desprezo a qualquer democracia possível. Canhões e outros instrumentos de morte em vez de saúde, educação, direito e alimentação. Von Der Leyen e Cia. revertem a declaração de Fidel Castro, ‘Médicos e não bombas’”.

Na verdade – ele destacou -, querem bombas e não médicos e essa linha política demente se traduz imediatamente em realidade nas periferias mais obscuras e irrelevantes do Império, como a Itália governada por Meloni – que não encontra dinheiro para pagar médicos e garantir aos cidadãos cuidados médicos minimamente decentes, mas os encontra para a guerra”.

“DAR VOZ À PAZ E À DEMOCRACIA”

Os referendos contra o envio de armas para a Ucrânia são de fundamental importância, concluiu o jurista, “porque, neste quadro desolador caracterizado pela difusão de um pensamento único que quer aniquilar qualquer soberania nacional e popular possível, afirma-se vice-versa a necessidade de dar voz à democracia e à paz, liberando informação e opinião pública enjauladas por hacks belicistas de todos os tipos”.

Fonte: Papiro