Depois dos ucranianos, europeus são os que mais sofrem com a submissão dos governos a Biden | Foto: Reprodução

Para Sergei Lavrov, Washington “há tempo perdeu suas habilidades diplomáticas e agora só usa chantagem, coerção e sanções diretas para forçar os países a seguirem sua posição, especialmente na questão da Ucrânia”.

Na entrevista desta quarta-feira à TV russa, Tsargrad, o ministro das Relações Exteriores da Rússia advertiu que a Europa “perdeu completamente sua autonomia” e assinalou que, apesar das declarações de alguns líderes europeus, como as do presidente francês Emmanuel Macron, sobre “autonomia estratégica”, a Europa “cedeu todas as suas posições” aos EUA através de seu mecanismo de dominação da Europa, a Otan.

Sergei Lavrov esclareceu que “você pode ver que a parte mais afetada (além do povo ucraniano) pelo que está acontecendo na Ucrânia são os europeus”, referindo-se ao esgotamento dos orçamentos dos países da União Europeia devido “à linha que estão sendo obrigados a seguir” para dar sustentação ao regime de Kiev. A isso se somam os efeitos de bumerangue das sanções antirrussas sobre vários setores, incluindo os estratégicos como a energia e alimentação, acabando por afetar o conjunto da economia.

Sobre o estiolamento da diplomacia no atual momento de tensão mundial, Lavrov declarou que a Rússia “já se acostumou com isso nos últimos anos”.

“Sem nenhuma nuance, o Ocidente, em vez da diplomacia – que na execução ocidental agora está caindo no esquecimento – está protegendo o regime que chegou ao poder como resultado de um golpe inconstitucional sangrento e ilegal”, observou referindo-se ao golpe de 2014 na Ucrânia.

ASSOCIAÇÃO COM UM REGIME NAZISTA

Lavrov lembrou também as declarações do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, e da ministra de Relações Exteriores do país, Annalena Baerbock, nas quais afirmaram que a Ucrânia “luta e derrama sangue pelos valores europeus”.

“Assim, eles se associam a um regime nazista que não esconde suas linhas de reabilitação da criminalidade”, apontando as marchas do regimento nacionalista ucraniano Azov (proibido e rotulado de terrorista na Rússia) com símbolos nazistas e da Alemanha de Hitler.

Além disso, enfatizou que os Estados Unidos e vários países europeus “fizeram sua escolha e dizem que ‘a Rússia deve sofrer uma derrota estratégica’”, bem como que as autoridades ucranianas afirmaram repetidamente que seu objetivo é a destruição física dos russos que vivem na Crimeia e nas Repúblicas Populares de Donbass e Lugansk. “Esse regime está matando os russos, agridem a cultura russa, o mundo russo em qualquer uma de suas manifestações, destruindo fisicamente os russos que eram seus cidadãos”, frisou.

Segundo o chanceler russo, a última tentativa de abordagem diplomática foram os Acordos de Minsk assinados em 2015 por um grupo de países formado por representantes da Ucrânia, da Rússia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que incluía representações da França e da Alemanha, visando resolver a situação no Donbass.

“Naquela época [quando os acordos foram assinados] muitos disseram que a Rússia havia aceitado um compromisso que não beneficiava os cidadãos da Ucrânia associados ao mundo russo. No entanto, foi o resultado da diplomacia: um compromisso”, disse o chanceler russo.

Lavrov salientou que, apesar do documento ter sido aprovado por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU, todos os signatários, a ex-chanceler alemã Angela Merkel, o ex-presidente francês François Hollande e o ex-presidente ucraniano Piotr Poroshenko, – exceto o presidente russo, Vladimir Putin – admitiram que não tinham intenção de aplicá-lo. “Então a ‘diplomacia da mentira’ é o que restou para esse período”, concluiu.

Questionado sobre as declarações dos países ocidentais sobre o isolamento da Rússia, o ministro disse: “A alegação de que o Ocidente ‘isolou’ a Rússia indica apenas uma coisa: que ele se considera o centro da Terra. Só essa condição pode explicar sua política atual.”

Assegurou que as tentativas do Ocidente de forçar os países do Sul Global a aderirem às sanções anti-Rússia “enfrentam o desejo da grande maioria dos países em desenvolvimento de construir suas políticas com base nos interesses nacionais” e independência.

Segundo Lavrov, embora os países ocidentais “apelem para os resultados da votação da ONU sobre resoluções provocativas”, a maioria dos estados não aderiu às sanções. “Se alguém está certo, não impõe sua razão aos outros por meio de chantagens, ameaças e sanções diretas. Isso sequer ocorre a quem tem certeza de que está certo. O Ocidente não tem certeza disso”, explicou.

Fonte: Papiro