"Liberdade para Assange - Jornalismo não é crime", diz faixa na Austrália, no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa | Foto: AAP

Repudiando a recusa de libertação de Julian Assange pelos Estados Unidos, apoiadores do jornalista em Washington realizaram uma manifestação, nesta quarta-feira (3), para exigir a saída do fundador do WikiLeaks da prisão de Belmarsh, no Reino Unido.

“Não há grandes chances de perdão a Assange, já que tanto republicanos quanto democratas preferem manter silêncio sobre sua libertação”, afirmou a jornalista investigativa de Nova Iorque, Lucy Komisar, à Agência Sputnik.

A ação coincide com o 30º aniversário do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado anualmente no dia 3 de maio.

A “declaração de liberdade de imprensa de Washington é [uma ação de] relações públicas” e “a prisão de Julian Assange prova que a ‘liberdade’ de imprensa é permitida, é tolerada, desde que o jornalista ou editor não ameace o apoio público ou mesmo a conscientização pública da realidade dos EUA na política externa”, assinalou Komisar.

Ela insistiu que “não há liberdade de imprensa. Esta se limita aos apoiadores do governo ou mesmo a críticos fracos, mas não àqueles que mostram evidências públicas dos crimes de guerra dos EUA, como Assange fez em vídeos e reportagens sobre os ataques dos EUA no Iraque”.

O líder trabalhista inglês, Jeremy Corbin, somou-se ao repúdio à manutenção da detenção de Assange:

“No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, nós conclamamos pela imediata libertação de Julian Assange, que já está há quatro anos em uma prisão de segurança máxiam. Não podemos ficar indiferentes e deixar que governos silenciem aqueles que buscam expor a verdade. Hoje, vamos defender o jornalismo livre e democrático em todo canto”.

“A prisão de Assange é hoje a maior ameaça à liberdade de imprensa”, afirmou a entidade Aliança de Mídia, Artes e Entretenimento, da Austrália, país de nascimento e cidadania do jornalista.

O WikiLeaks, liderado por Assange, foi fundado em 2006, mas ganhou destaque em 2010, quando começou a publicar vazamentos em larga escala de informações confidenciais do governo, incluindo documentos vazados sobre crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Desde abril de 2019, Assange está detido na prisão de alta segurança de Belmarsh, em Londres, enquanto enfrenta processos nos EUA sob a Lei de Espionagem. Se condenado, o fundador do WikiLeaks pode pegar 175 anos de prisão. Em dezembro de 2022, ele apelou ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos para contestar sua extradição.

Quando perguntada sobre os líderes do México, Brasil e Argentina instando o presidente dos EUA, Joe Biden, a retirar as acusações contra Assange, Komisar disse que “é muito bom que eles façam isso, mas não acho que os líderes dos EUA se importem”.

“Eles consideram os EUA a hegemonia do mundo, então o que os líderes de outros países pensam ou dizem lhes é secundário. Por outro lado, isso é importante como uma indicação da rejeição do Sul Global à falsa afirmação de Washington de que acredita em uma imprensa livre. […] É uma rejeição da afirmação dos EUA de sua superioridade moral”, enfatizou a jornalista de Nova Iorque.

Sobre a ausência de campanhas de mídia de massa em apoio a Assange, ela disse que “a grande mídia [dos EUA] apoia a linha do governo e, embora alguns façam declarações de apoio ao fundador do WikiLeaks, eles nunca fazem ou se juntam a uma campanha. […] Esses meios de comunicação e organizações não se comprometem com uma imprensa livre, mas com a política do governo dos EUA”.

De acordo com Komisar, em questões relacionadas à política externa dos EUA, a grande mídia norte-americana “muitas vezes é preguiçosa na melhor das hipóteses — ‘você dita, nós escrevemos’ — ou corrupta na pior das hipóteses”.

Lucy Komisar é conhecida pelo seu trabalho nos documentários “Gaming Wall Street (2022) e “The Wall Street Conspiracy”.

Fonte: Papiro