Teve início nesta sexta-feira (28) e se estende até o dia 10 de dezembro, em São Paulo, a exposição “Imagem-Testemunho: experiências artísticas de presos políticos na ditadura civil-militar”. Iniciativa do Centro MariAntonia, da USP, onde as obras são exibidas, e o Memorial da Resistência, a mostra inclui 41 trabalhos, entre desenhos, pinturas, colagens e gravuras realizadas por 12 presos políticos durante os anos 70 em presídios da capital paulista. 

A exposição inclui, ainda, 16 outros documentos, sete depoimentos em vídeos especialmente produzidos para a mostra e um conjunto de atividades culturais e educativas a ela relacionadas ao tema. 

As imagens-testemunhos, reunidas durante anos pelos ex-presos políticos Alípio Freire e Rita Sipahi, integram, desde 2023, o acervo do Memorial da Resistência  de São Paulo, que conta atualmente com mais de 300 obras. A entrada é gratuita e a visitação acontece de terça a domingo, e feriados, das 10 às 18 horas.

Com curadoria da pesquisadora e crítica de arte, Priscila Arantes, a mostra traz produções criadas em diferentes presídios da cidade de São Paulo – Tiradentes, Carandiru, Penitenciária Feminina, Hipódromo, Presídio Militar Romão Gomes (Barro Branco) – e algumas vezes dentro do próprio Departamento de Ordem Política e Social (Dops). O acervo conta com obras de Aldo Arantes, Alípio Freire, Ângela Rocha, Artur Scavone, Carlos Takaoka, José Wilson, Manoel Cyrillo, Regis Andrade, Sérgio Ferro, Sérgio Sister, Rita Sipahi  e Yoshiya Takaoka

Obra de pirogravura de Aldo Arantes

A curadora explica que “esses registros são construídos durante uma experiência de violência política e a resistência no espaço prisional, pontuando o valor desta produção enquanto testemunho e fonte histórica dos duros anos de ditadura no país”. 

Priscila é filha do ex-deputado Aldo Arantes, que foi presidente da UNE e é membro do Comitê Central do PCdoB. Aldo, aliás, assina uma das obras da mostra. “Essa exposição é muito importante porque resgata a memória de um período sério, grave da história política brasileira, onde foram assassinados, presos e torturados inúmeros democratas e patriotas”, disse Aldo Arantes ao portal Vermelho. 

A inauguração da exposição aconteceu na quinta-feira (27). Aldo diz que na ocasião, lembrou uma passagem que traduz o real espírito daqueles que estava presos pela ditadura. “Rememorei a visita do senador Teotônio Vilela ao presídio do Barro Branco. Ao sair de lá, ele foi questionado pela Globo sobre o que ele tinha achado dos terroristas que havia lá dentro. O senador respondeu que não tinha visto terrorista, que tinha visto jovens que lutavam pela democracia, pela liberdade”. 

Trazendo aquela experiência para os dias de hoje, Aldo salienta que a exposição ganha especial relevância considerando o cenário de reconstrução democrática pelo qual o país passa após quatro anos da extrema-direita no poder. “O Brasil felizmente conseguiu derrotar a extrema-direita, mas nós ainda vivemos um momento grave e importante da luta em defesa da democracia, ela continua sendo a questão central”, diz. 

Obra de Carlos Takaoka

Nesse sentido, explica, “relembrar a luta contra a ditadura, o que aconteceu nos presídios e trazer à tona essa dimensão é muito relevante. E apesar da situação que nós vivíamos no presídio, encontrávamos oportunidade de elaborar obras de artes”. 

Ele lembra que não tinha experiência nenhuma em pirogravura antes da experiência no presídio. “Ficávamos ali muito tempo e tínhamos a necessidade de encontrar formas alternativas de enfrentar aquela situação. Então, a gente lia, fazia cursos, jogava futebol e passamos também a procurar uma atividade criativa. Foi assim que vários de nós passamos a fazer pirogravura — inclusive o Haroldo Lima —, pintura e várias manifestações artísticas”. 

Serviço:

Exposição Imagem-Testemunho: experiências artísticas de presos políticos na ditadura civil-militar 
De 28 de abril a 10 de dezembro de 2023, no Centro MariAntonia – Edifício Joaquim Nabuco: Rua Maria Antônia, 258 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô). Visitação: de terça a domingo e feriados, das 10 às 18 horas. Entrada gratuita. Classificação: livre