O 14º banco em ativos nos EUA quebrou após perder US$ 100 bilhões em depósitos | Vídeo

Chegou ao fim a agonia do First Republic Bank, cuja captura foi executada pelo FDIC, o órgão federal garantidor de depósitos norte-americano, depois de perder mais de US$ 100 bilhões de depósitos e sofrer derretimento de 97% no preço de suas ações. O banco foi agraciado ao maior banco dos EUA, o JPMorgan Chase. O FRB era o 14º maior banco dos EUA em ativos, US$ 233 bilhões no final do primeiro trimestre.

É a segunda maior bancarrota bancária da história dos EUA e, com o FRB, já são quatro os bancos que quebraram este ano. O próprio FRB, o Silicon Valley Bank, o Signature Bank e o Silvergate. Como cenário, a mais rápida elevação de juros nos EUA desde o “Choque Volker” dos anos 1980, com os juros do Fed indo de O% nominal para 5,0% em 12 meses.

Com a aquisição do FRB, intensifica-se a já imensa monopolização do sistema financeiro norte-americano. O JPM detém mais de 10% de todos os depósitos nos EUA e é um dos cinco ‘Too Big To Fail’ [Grandes Demais Para Falirem]. Como traduziu o portal Zero Hedge: “Finalmente, todos os clientes de alto patrimônio líquido do FR na Califórnia e em Nova York agora pertencem ao JPMorgan”.

Exatamente como foi dito logo após o colapso do Silicon Valley Bank em março, as autoridades norte-americanas juram que a medida impede que uma crise bancária prolifere.

O Tesouro dos EUA divulgou um comunicado na manhã de segunda-feira, dizendo que o sistema bancário dos EUA continua “sólido e resiliente”. “A boa notícia”, declarou o executivo-chefe do JPMorgan, Jamie Dimon, em relação às falências de bancos, e que “isso está chegando ao fim”. “O sistema é muito, muito sólido”, asseverou.

Com eleição marcada para o ano que vem, não fica bem na fita uma quebradeira de bancos nos EUA e, assim, as autoridades reguladoras, o Fed e o Tesouro não pouparam esforços para agraciar o JPMorgan no caso do First Republic.

De acordo com o anúncio do FDIC, o JPMorgan assumiu todos os US$ 92 bilhões em depósitos do First Republic – segurados e não segurados, incluindo os US$ 5 bilhões em depósitos dados pelo JPM ao First Republic em 16 de março – US$ 173 bilhões em empréstimos e US$ 30 bilhões em títulos.

Como parte do acordo, a Federal Deposit Insurance Corp. dividirá as perdas com o JPMorgan sobre os empréstimos do First Republic. A agência estimou que seu fundo de seguros sofreria um impacto de US$ 13 bilhões no negócio, que é exatamente o buraco que impediu que uma solução do setor privado fosse alcançada. O JPMorgan também disse que receberá US$ 50 bilhões em financiamento do FDIC para consumar o negócio, a uma taxa de juros camarada.

O FDIC fornecerá acordos de compartilhamento de perdas com relação à maioria dos empréstimos adquiridos: Hipotecas residenciais unifamiliares: 80% de cobertura de perdas por sete anos; Empréstimos comerciais, incluindo CRE: cobertura de perdas de 80% por cinco anos.

O JPM também divulgou que teria um ganho único de $ 2,6 bilhões após impostos no fechamento, sem incluir os custos de reestruturação esperados de $ 2,0 bilhões ao longo de 2023 e 2024; e talvez mais importante, as marcações de valor justo em empréstimos adquiridos são aproximadamente U$S 22 bilhões, com uma marca média de empréstimo de 87%, enquanto o acordo de compartilhamento de perdas do FDIC reduz a ponderação de risco em empréstimos cobertos, com uma ponderação de risco média de 25%.

Ainda segundo o ZH, a lógica do resgate do First Republican foi sobre “os contribuintes ficarem presos com a lama tóxica do FRB enquanto o JPMorgan recebia todos os bons ativos por centavos de dólar”. E, chama a atenção, com direito a “20% de IRR cortesia dos contribuintes”.

DIAS DE ESPECULAÇÃO

Até soçobrar, o FRB vivera dias de glória com seu foco na elite costeira dos EUA, nos tempos das taxas de juro ultrabaixas. Grandes depósitos de clientes com muito dinheiro financiado por hipotecas jumbo de baixa taxa para ricos compradores de casas na Califórnia e em Nova York. Na outra ponta, o FRB acumulou títulos do Tesouro de longo prazo, como garantia para cobrir os juros pagos aos depositantes.

Quando o Fed começou a aumentar as taxas de juros no ano passado para reduzir a inflação, os clientes começaram a exigir rendimentos mais altos para manter seu dinheiro no First Republic. O aumento das taxas também prejudicou o valor dos empréstimos que o banco fez quando as taxas estavam próximas de zero.

A casa veio abaixo com a implosão em março do SVB e a corrida aos bancos. O FRB tentou se manter à tona com empréstimos caros do Federal Reserve e do Federal Home Loan Bank – em que ganhava menos com seus empréstimos do que pagava com passivos. Só em um dia na semana passada, as ações do banco caíram quase 50%.

Na corda bamba, o First Republic dependia fortemente de depósitos não garantidos e tinha grandes perdas não realizadas em suas carteiras de empréstimos e títulos devido ao aumento das taxas. “Foi uma corrida ao modelo de negócios”, segundo um analista.

Quanto ao desdobramento da crise bancária nos EUA, há quem advirta que a próxima bolha a estourar é a dos empréstimos para imóveis comerciais, de que as carteiras dos bancos estão recheadas. E consideram os recentes episódios e as soluções encontradas, como dizem os norte-americanos, de tática de “enterrar a toupeira”. Como desgraça pouca é bobagem, as expectativas para a economia norte-americana este ano não são das mais brilhantes.

Fonte: Papiro