Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) cobrou da Petrobrás medidas efetivas de combate ao assédio sexual na empresa, após uma série de denúncias vir a público nas últimas semanas. Os casos ganharam repercussão depois de denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro, no início de abril, que revelou assédio cometido por um funcionário da empresa contra colaboradoras terceirizadas.

Nesta terça-feira (11), atendendo à solicitação do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras, as diretoras da FUP, Cibele Vieira e Patrícia Jesus Silva, participaram de reunião com integrantes do Grupo de Trabalho da Petrobrás, que está discutindo mudanças nos procedimentos de tratamento e combate às denúncias de assédio sexual, que foram negligenciadas na gestão anterior. Conforme a própria empresa, foram 81 denúncias entre os anos de 2019 e 2022.

“O Coletivo de Mulheres da FUP vem cobrando há tempos medidas efetivas de combate aos assédios e abusos na Petrobrás. Esse, inclusive, foi um dos pontos da carta que entregamos a Jean Paul Prates, logo assim que ele assumiu a presidência da empresa”, lembra Patrícia, atual coordenadora do Coletivo.

Para Cibele Vieira, que também faz parte do Coletivo, e é diretora da FUP e do Sindipetro-SP, um trabalho de combate ao assédio requer atuação conjunta entre os sindicatos e a empresa.

O Ministério Público investiga assédio contra quatro mulheres de uma empresa terceirizada de serviços de limpeza no Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobrás), após denúncia feita em setembro. Uma delas teria sido estuprada – segundo a denúncia do Ministério Público, o acusado teria esfregado seu pênis nas nádegas da vítima em três ocasiões.

“Sabemos que esses ocorridos são de conhecimento da Petrobrás, tendo em vista que as trabalhadoras realizaram denúncia formal nos canais de denúncia da empresa e na delegacia”, diz ofício do Sindipetro-RJ (Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro), datado de 7 de novembro. “O pior desse caso, da negligência da empresa, é que o funcionário não foi afastado em nenhum momento das vítimas, que chegaram a ter contato com o agressor mesmo depois da denúncia”, diz a diretora do sindicato, Natália Russo.

Ela afirma que as vítimas não tiveram nenhuma atenção da empresa, como apoio social, psicológico, ou apoio ao emprego. “Uma delas chegou a pedir demissão porque não aguentou a pressão de ficar convivendo com o abusador”, conta Natália.

O caso deu origem a protestos de trabalhadoras e trouxe à tona os diversos relatos de assédios sofridos na empresa, coletados pelos sindicatos em um grupo de WhatsApp, agora divulgados pela imprensa. Nem todos os relatos foram transformados em denúncias formais.

Em nota, a Petrobrás informou diz que o empregado denunciado foi desligado da companhia. “Imediatamente após receber as denúncias, a Petrobras abriu uma apuração interna e adotou as medidas cabíveis dentro do âmbito administrativo”, afirma.

Conforme o presidente da empresa, Jean Paul Prates, os relatos “só reforçam que ainda há muito a ser feito”, e prometeu anunciar novas medidas para combater o assédio sexual.

“Quero me solidarizar com cada mulher que, em qualquer tempo, foi vítima de machismo, assédio ou violência, sobretudo quando isso ocorreu nas instalações da empresa […] Reforço que todas as situações que forem denunciadas pelo nosso Canal Denúncia terão garantias de não retaliação; proteção da privacidade das vítimas; investigação rigorosa e aplicação de sanções quando for o caso”, escreveu Prates, em carta aos funcionários.

Para Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, não é possível que mulheres ainda passem por situações de abuso dentro do local de trabalho. “A empresa é responsável por dar fim a esse tipo de comportamento, punindo os agressores de forma incisiva, para que essas agressões sejam extirpadas da companhia”, diz.

Fonte: Página 8