Michelle Bolsonaro | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A esposa de Jair Bolsonaro e ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, recebeu em mãos o segundo pacote de joias milionárias enviado de “presente” pela Arábia Saudita, revelou uma funcionária do gabinete de documentação da Presidência.

Segundo o Estadão, a Polícia Federal obteve essa informação durante as investigações sobre os vários presentes de luxo que Bolsonaro recebeu da família real da Arábia Saudita.

No dia 29 de novembro de 2022, no Palácio da Alvorada, Michelle Bolsonaro recebeu em mãos o estojo de joias que entrou ilegalmente no país.

Na mesma ocasião, Jair Bolsonaro inspecionou as peças. Depois, as incorporou em seu acervo pessoal.

A funcionária do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) narrou à Polícia Federal que seu chefe, o coordenador-geral do GADH Erick Moutinho Borges, foi quem disse que as joias chegariam no Palácio do Planalto para serem incorporadas ao acervo pessoal de Jair Bolsonaro.

Um servidor do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, foi até o Planalto para pegar as joias.

Depois, a funcionária recebeu uma ligação do pastor Francisco de Assis Castelo Branco, amicíssimo de Michelle Bolsonaro e responsável pelo gerenciamento do Palácio da Alvorada, confirmando que “a caixa com as joias já estava na posse da primeira-dama, Michelle Bolsonaro”.

O então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, conseguiu passar ilegalmente um conjunto de joias, enquanto o outro, avaliado em R$ 16,5 milhões, ficou apreendido pela alfândega do aeroporto de Guarulhos.

Segundo o GADH, o conjunto que entrou ilegalmente no país era avaliado em US$ 500 mil, equivalente a R$ 2.5 milhões.

O objeto mais valioso deste conjunto era um relógio da Chopard, famosa marca suíça de luxo.

O L.U.C. Tourbillon Qualité Fleurier Fairmined que Bolsonaro recebeu de presente tem apenas 25 unidades no mundo, sendo estimado em R$ 800 mil.

A “Qualité Fleurier” é uma certificação que atesta a qualidade dos relógios de luxo, enquanto a “Fairmined” é um certificado de “consciência ética”. O relógio é de ouro rosa com a correia de pele de crocodilo.

Além dele, Bolsonaro e Michelle ganharam uma caneta, um anel, um par de abotoaduras e um rosário árabe, sendo tudo da marca Chopard.

O pacote foi trazido para Bolsonaro pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que foi para a Arábia discutir a política de privatização da Petrobrás.

O ex-ministro não declarou à Receita Federal que estava trazendo um conjunto de peças milionárias destinadas a Jair Bolsonaro e não pagou os impostos necessários.

Por decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou o conflito ético existente no caso, uma vez que o então presidente da República recebeu presentes milionários de outro país, Jair Bolsonaro teve que devolver as peças ao estado brasileiro.

Bolsonaro falava que ficou sabendo da existência das joias pela mídia, que revelou o caso em março de 2023.

No entanto, um recibo da Presidência confirma o que foi relatado pela funcionária do Gabinete de Documentação Histórica: Jair Bolsonaro inspecionou as peças de luxo, em novembro de 2022, quando foram entregues.

Michelle Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre a revelação de que foi ela quem recebeu os presentes, depois de inspecionados pelo marido.

A mesma funcionária do GDAH afirmou à Polícia Federal que o gabinete de Jair Bolsonaro sabia da chegada dos presentes da Arábia Saudita antes mesmo da chegada de Bento Albuquerque de volta ao Brasil.

Em outubro de 2021, quando o ministro ainda estava na Arábia Saudita, foi aberto um processo no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) para registrar a que o Ministério de Minas e Energia traria para Jair Bolsonaro um “cavalo de ouro” de presente.

A escultura de um “cavalo de ouro” era parte do pacote de peças de luxo que foi trazido por Albuquerque, mas que ficou retido pela Receita Federal.

Além da estátua, foram retidos um relógio, um colar, um anel e um par de brincos, sendo todas as peças cravejadas de diamantes. Este conjunto é avaliado em R$ 16,5 milhões.

A servidora do GADH disse à Polícia Federal que nunca tinha visto um processo ser aberto no SEI para “alertar a futura chegada de um presente ao presidente da República”.

O normal, contou, é que isso ocorra depois que os objetos chegam no Brasil.

Depois de ver o seu “presente” ser apreendido pela Receita Federal, Jair Bolsonaro começou a mobilizar seu governo e seu gabinete pessoal para conseguir a liberação ilegalmente.

Além dos dois pacotes de joias já citados, Jair Bolsonaro recebeu um terceiro em mãos, quando esteve na Arábia Saudita em 2019.

Esse pacote tinha um relógio da marca Rolex de ouro branco cravejado de diamantes, cujo valor chega a R$ 364 mil.

As outras peças, como a caneta da Chopard, um par de abotoaduras em ouro branco, um anel em ouro branco e um rosário árabe, também carregavam diamantes e pedras preciosas. Ao todo, o conjunto foi avaliado pelo Estadão em, no mínimo, R$ 500 mil.

Também por decisão do TCU, o ex-presidente devolveu, a contragosto, o “presente” árabe ao estado brasileiro.