Secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ao lado do porta-voz Stéphane Dujarric | Foto: AFP

As escutas telefônicas utilizadas pelo governo dos Estados Unidos contra autoridades da ONU são inconcebíveis e “incompatíveis com as obrigações enumeradas na Carta e na Convenção das Nações Unidas sobre privilégios e imunidades”, afirmou o porta-voz da organização, Stéphane Dujarric.

Diante deste atropelo às leis internacionais, a ONU externou para o governo Joe Biden sua preocupação sobre a espionagem do secretário-geral da organização, António Guterres, publicadas com vazamentos de documentos secretos do Pentágono.

“Expressamos oficialmente ao país anfitrião [a sede da ONU fica na cidade de Nova York] nossa preocupação com relação aos relatórios recentes de que as comunicações do secretário-geral e de outros altos funcionários da ONU foram monitoradas e grampeadas pelo governo dos Estados Unidos”, sublinhou Stéphane Dujarric.

Na semana passada, uma reportagem publicada pela BBC fez referência a vários documentos que descrevem comunicações privadas entre Guterres e a secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Amina Mohammed, sobre a situação na Ucrânia e outros assuntos. O The Washington Post também esmiuçou como os vazamentos do Pentágono confirmam que os estadunidenses espionam Guterres.

PRISÃO

Na quinta-feira (13), um aviador da Guarda Nacional, Jack Douglas Teixeira, de 21 anos, foi preso em Boston acusado pelo vazamento de documentos do Pentágono, que incluíram também o monitoramento ilegal de regimes aliados, como a Coreia do Sul e Israel, e até mesmo das Nações Unidas.

Aliás, como todas as organizações de imprensa em todo o mundo veem denunciando, o editor que expôs ao mundo com uma montanha de provas os crimes de guerra dos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão, Julian Assange, completou no dia 11 de abril quatro anos de cativeiro na prisão de segurança máxima de Bersmarsh, conhecida como a ‘Guantánamo britânica’. Apesar dos protestos de todo o mundo, Assange é mantido encarcerado sob ameaça de ser extraditado por ‘espionagem’ para um calabouço da CIA pelo resto da vida.

O novo vazamento de arquivos sigilosos da inteligência norte-americana na Internet destapou o esgoto de parte das recentes ações sanguinárias dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no envolvimento, financiamento e preparação das Forças Armadas da Ucrânia. Além disso, expuseram pessoas vigiadas secretamente por Washington, como o presidente ucraniano Vladimir Zelensky, e divulgaram análises feitas pelo governo Biden sobre a necessidade de boicotar o plano de paz apresentado pelo presidente Lula.

Sabendo que a bisbilhotagem partiu, o secretário-geral da ONU disse “não estar surpreendido” com as escutas telefônicas.

O porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, reagiu ao vazamento apontando que o que se viu ali registrado só reforça o fato de que “não há a menor dúvida sobre o envolvimento direto ou indireto” dos EUA e da Otan na guerra na Ucrânia e que “esse nível de envolvimento está aumentando”.

Marionete do Pentágono, o regime de Kiev, tentou atribuir o conjunto de denúncias, devidamente comprovadas, à “desinformação russa”. “O propósito do ‘vazamento’ de dados supostamente secretos é desviar a atenção dos preparativos reais para o próximo estágio da guerra… Semear certas dúvidas e suspeitas mútuas entre os parceiros”, disse o conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podolyak, na verdade omitindo o incômodo pelo fato do chefe do regime de Kiev ter sido espionado.

Fonte: Papiro