Moret foi abordado e detido por dois policiais na estação St. Pancras, em Londres | Foto: Reprodução

A polícia de Londres prendeu o jornalista francês Ernest Moret, gerente de direitos estrangeiros da Editora La Fabrique, sob a acusação de terrorismo baseada em sua participação em manifestações contra a reforma da previdência que aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, imposta pelo governo de Emmanuel Macron, cuja promulgação ocorreu passando por cima do Legislativo.

Ernest Moret chegou à capital inglesa para participar de eventos do setor editorial, particularmente a Feira do Livro de Londres. Sua detenção se deu assim que o trem parou na estação St. Pancras, na noite da segunda-feira (17/04).

Dois policiais o levaram para uma delegacia próxima, onde o jornalista foi enquadrado em uma denúncia com base na Lei do Terrorismo, que existe na Grã Bretanha desde o ano 2000 e permite manter a pessoa detida sem a presença de um advogado e o obriga a entregar seus telefones celulares e as senhas para acessar os mesmos.

O interrogatório de Moret durou seis horas, e após esse período ele foi levado à prisão “preventiva” sob a acusação de “obstrução à justiça”, por ter se negado a entregar as senhas de seus celulares.

Além de Moret, a editora francesa está sendo representada na Feira do Livro por Stella Magliani-Belkacem, que acompanhava o colega quando este foi abordado pela polícia. “Quando estávamos na plataforma, duas pessoas, uma mulher e um homem, nos disseram que eram policiais antiterroristas. Eles mostraram um papel chamado seção 7 da Lei do Terrorismo de 2000 e disseram que tinham o direito de perguntar a ele sobre as manifestações na França. Ainda estou tremendo. Estamos em choque com o que aconteceu”, assinalou.

Em Comunicado de Imprensa Conjunto de 18 de abril, a Éditions La Fabrique (Paris) e a Verso Books (Londres) afirmam:

“Estamos escrevendo este comunicado de imprensa para protestar contra o tratamento escandaloso ao cidadão francês Ernest, gerente de direitos estrangeiros da editora francesa Editions La Fabrique e do autor [conhecido de ficção científica] Alain Damasio (Editions La Volte).

Ernest veio a Londres ontem à noite, 17 de abril, pela Eurostar para a London Book Fair [Feira do Livro de Londres], que acontece no Olympia durante 3 dias, de 18 a 20 de abril. Ernest tinha mais de trinta compromissos marcados com editores estrangeiros e uma passagem de volta para Paris na sexta-feira, 21 de abril. Ele é convidado para a recepção esta noite no Instituto Francês, na qual estará presente o Embaixador da França.

Ao chegar à estação de St Pancras, Ernest foi puxado de lado por policiais agindo de acordo com o Anexo 7 da Lei do Terrorismo de 2000 e detido para interrogatório sem a presença de um advogado, supostamente para determinar se ele estava envolvido em atos terroristas ou em posse de material para uso em terrorismo.

Os policiais alegaram que Ernest havia participado de manifestações na França como justificativa para esse ato – uma declaração notavelmente inadequada para um policial britânico fazer e que parece indicar claramente cumplicidade entre as autoridades francesas e britânicas sobre o assunto.

Foi exigido que ele entregasse o telefone e passasse os códigos aos policiais, sem nenhuma justificativa ou explicação. Esta manhã, Ernest foi formalmente preso e transferido para uma delegacia de polícia, acusado de obstrução por se recusar a fornecer suas senhas. Ele permanece sob custódia da polícia.

Consideramos essas ações violações ultrajantes e injustificáveis ​​dos princípios básicos da liberdade de expressão e um exemplo de abuso das leis antiterrorismo.

Consideramos que esta agressão à liberdade de expressão de um editor é mais uma manifestação do deslize para medidas repressivas e autoritárias tomadas pelo atual governo francês diante do amplo descontentamento e protesto popular. É crucial que todos os defensores dos valores democráticos básicos expressem nos termos mais fortes que achamos isso intolerável e ultrajante.

Apelamos à embaixadora francesa, Helene Duchene, para solicitar a libertação imediata de Ernest.”

PRESSÃO DE EDITORES FAZ MORET SER LIBERADO

Segundo a agência Associated Press, em nota publicada na manhã desta quarta-feira (19/04), Moret foi libertado durante a noite de terça. A Polícia Metropolitana de Londres divulgou um comunicado esta manhã sem mencionar o nome do editor francês, mas afirmando que “um homem de 28 anos [a idade de Moret] foi detido por policiais na estação de trem de St. Pancras e preso sob suspeita de obstruir uma investigação. Ele foi libertado sob fiança na noite de terça-feira. Nenhuma acusação foi feita, mas a investigação continuou”.

Por sua parte, os representantes da Editora La Fabrique divulgaram uma nota afirmando que, uma vez libertado, Moret confirmou que “os oficiais que o interrogaram alegavam que sua prisão foi baseada em sua participou nos protestos contra a decisão do presidente francês Emmanuel Macron de impor sua reforma da previdência sem passar por uma votação no Legislativo”.

Fonte: Papiro