Panelaço e barricadas em Paris | Foto: AFP

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse, na noite desta segunda-feira (17), ouvir a “ira” da sociedade contra a sua impopular reforma da Previdência, que aumenta de 62 para 64 anos a idade mínima para as aposentadorias. Ao cobrir o país, o panelaço expressou o “clima de cólera” estampado para além das faixas e cartazes, mas também na radicalização dos conflitos com a polícia. E, consequentemente, na multiplicação de feridos e prisões de oposicionistas.

Sem maioria no parlamento para cortar na carne o direito de homens e mulheres que trabalharam ao longo de vários anos para ter acesso à jubilação, Macron aproveitou-se de um artifício legal para aprovar o assalto. Manipulou o artigo 49.3 da Constituição francesa, ou seja, adulterou uma espécie de cláusula pétrea sem passar pelo voto da Assembleia Nacional. Assim, atropelou a vontade expressa em todas as pesquisas de opinião, por meio de um “Conselho Constitucional” altamente duvidoso. Uma panelinha composta na sua maioria por aliados do governo.

Apesar dos protestos massivos, que levaram milhões às ruas, o presidente disse que a medida extremamente abusiva e autoritária era “necessária” e que entrará em vigor. O plano das autoridades, informou, é começar a aumentar a idade de aposentadoria em três meses por ano já a partir de 1º de setembro de 2023, até atingir 64 anos em 2030.

As Centrais Sindicais da França apresentaram propostas no terreno econômico para demonstrar que não seria necessária a drástica imposição reduzindo conquistas previdenciárias dos trabalhadores franceses.

PROTESTOS SE ESPRAIAM

Em Paris, Rennes, Bordeaux, Lyon, Angers e inúmeras outras cidades, além do estrondo das panelas, milhares de manifestantes ergueram e queimaram barricadas, confrontando a polícia de Macron, que disparou gás lacrimogêneo, atacou com cacetete e fez prisões por todo o país.

Em Marselha, as pessoas foram às ruas para exigir a renúncia do presidente, e protestar contra a medida que atenta contra os interesses dos franceses enquanto faz o jogo dos Estados Unidos e envia armas para alimentar o conflito da Ucrânia com a Rússia, além de acompanhar Washington nas sanções contra Moscou, fator desencadeador de inflação por toda a Europa.

Macron disse “ouvir” os gritos da revolta que se multiplica pelo país desde janeiro, ao longo de doze jornadas de greves e manifestações, e que continua ganhando força, pois “ninguém pode ficar surdo”. Abrindo mão da sua total irresponsabilidade pela manipulação, lamentou que “não tenha sido alcançado um consenso” – dois entre três franceses são contrários ao esbulho – e ainda tentou tergiversar sobre o descaminho seguido: “estas alterações foram necessárias e constituem um esforço”. Para quê ou para quem? Não respondeu. “Esta reforma está aceita? Obviamente que não”, admitiu, enquanto as panelas continuavam a ressoar, anunciando nova mobilização para o Primeiro de Maio.

Fonte: Papiro