Cônsul da China em São Paulo, Chen Peijie, na recepção à imprensa brasileira | Foto: NB

“A modernização ao estilo chinês estabelece um novo paradigma para o desenvolvimento pacífico, de forma a defender a justiça internacional e promover o multilateralismo, propondo uma comunidade de futuro comum compartilhado para toda a humanidade, expandindo a amizade e a cooperação com outros países com base nos princípios de coexistência pacífica e promovendo valores comuns para construir um futuro mais promissor para a humanidade”, enfatizou a cônsul da China em São Paulo, Chen Peijie, em seu pronunciamento nesta quinta-feira, 13, ao receber a imprensa para um debate sobre o tema “Modernização Chinesa: oportunidades para as relações China-Brasil na nova era”.

No encontro que contou com as presenças de jornalistas da Hora do Povo, Globo, Folha de São Paulo, Revista Fórum, Revista China Hoje (entre outros), além do jornalista Chen Weihua, diretor da agência Xinhua em Português, a cônsul enfatizou o fato deste debate acontecer ao mesmo tempo em que o presidente Lula se encontrava com o presidente Xi Jinping e que Brasil e China firmavam uma pauta de acordos. “A visita de Lula inaugura nova era para as relações Brasil-China e empurra a parceria a um novo nível e gera novas contribuições à promoção da prosperidade e estabilidade regional e global”, destacou.

Lembrou as diretrizes apontadas pelo presidente Xi Jinping ao se dirigir aos delegados do 20º Congresso do PCCh quando propôs: “A Iniciativa de Civilização Global, enfatizando o respeito pela diversidade das civilizações mundiais, a promoção dos valores comuns, a importância do legado civilizacional e sua inovação, e o intercâmbio e a cooperação culturais e interpessoais”.

INDEPENDÊNCIA, COOPERAÇÃO E PAZ

“Dessa forma”, prosseguiu a cônsul, “vamos criar uma nova situação de intercâmbio e integração cultural e de entendimento entre os povos, para alcançar a paz, a cooperação, a abertura, a inclusão, o aprendizado mútuo e os ganhos recíprocos. Trata-se de experiência extraída das próprias práticas da China. A busca da independência, da soberania e do respeito recíproco e a adesão à abertura, à inclusão e ao aprendizado mútuo são propostas políticas comuns da China e do Brasil”.

PRODUTOS DA NOVA TECNOLOGIA

“Também convidamos várias empresas chinesas a expor neste local hoje. A exposição apresenta novos produtos que estão em alta no mercado brasileiro, como carros elétricos e TVs inteligentes, possibilitando a todos experimentar os frutos da modernização chinesa e do desenvolvimento de alta qualidade. Além disso, essa mostra ajuda a entender os resultados da integração da indústria de manufatura avançada da China com o mercado brasileiro e a vislumbrar as perspectivas promissoras da cooperação pragmática sino-brasileira em um novo patamar”, afirmou.

Os jornalistas puderam entrar em contato com modelos de carros elétricos expostos, da Great Wall Motors (GWM) e BYD, ambos com perspectivas de serem produzidos no Brasil nos próximos meses, além da TV TCL, que já fabrica a maior tela em oferta no Brasil.

O pronunciamento de Chen Peijie foi seguido por intervenções dos professores Marcos Cordeiro Pires e Luis Antônio Paulino (ambos do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da UNESP) e do advogado José Ricardo dos Santos, do escritório de advocacia Lide-China.

“A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil”, destacou o professor Marcos, acrescentando que a visita atual de Lula se dá em um contexto diferente do que havia na sua ida em 2009, pois vivemos uma situação de confronto capitaneada pelos Estados Unidos, que ataca a integração global e busca paralisar a OMC ao não indicar representantes para Órgão de Apelação, buscando reduzir a capacidade de intervenção do organismo internacional para evitar práticas comerciais abusivas.

O professor Marcos lembrou a criação do bloco AUKUS que reúne EUA, Reino Unido e Austrália, ameaçando trazer estruturas similares à Otan para o continente asiático. “Apesar das enormes dificuldades que ordem internacional enfrenta, o relacionamento Brasil-China segue o seu curso e os laços construídos ao longo de cinco décadas se fortalecerão”, afirmou.

Já o professor Luis Antonio Paulino destacou que a modernização da China busca “a prosperidade comum para todos, cujo objetivo é atender às aspirações das pessoas por uma vida melhor”.

Lembrou que “a modernização de estilo chinês segue o caminho do desenvolvimento pacífico, ou seja, não segue o antigo caminho de alguns países que, para se modernizar, o fizeram através da guerra, da colonização e da pilhagem”.

Para ele a parceria Brasil-China pode ajudar o Brasil e outros países da América Latina a mudar uma condição que existe há séculos onde “o desenvolvimento da região está subordinado aos interesses das grandes potências, tanto no contexto colonial até o século 19, como na Guerra Fria do século 20”.

Em decorrência dessa possível transformação, “na área tecnológica essa parceria poderia abrir um novo caminho para a inserção do Brasil nas cadeias globais de suprimento de bens industriais e tecnológicos de maior valor agregado”.

INTERCÂMBIO NA ÁREA EDUCACIONAL

O professor Paulino destacou o intercâmbio na área educacional com “o Instituto Confúcio enviando em 15 anos 600 estudantes brasileiros para atividades na China”.

O advogado José Ricardo também destacou o avanço do comércio entre a China e Brasil que “no ano 2000, por exemplo, … totalizou a módica cifra de US$ 2,303 bilhões, com volume de exportação brasileira à China e o volume de importação de US$ 1,219 bilhões. Vinte anos depois, a relação comercial sino-brasileira em 2020 bateu um recorde histórico: foram US$ 102,566 bilhões comercializados pelos dois países em plena pandemia da COVID-19, em 2021 a cifra de 135,4 bilhões e em 2022 o recorde histórico de US$ 150,4 bilhões, sendo a China responsável pelo enorme superávit acumulado pela balança comercial brasileira”.

POR UMA PARCERIA ESTRATÉGICA

“Por certo”, acrescentou Ricardo, “precisamos melhorar a pauta de exportação dos produtos brasileiros à China, majoritariamente concentrados hoje em commodities como minério de ferro, soja, petróleo, celulose e proteínas animais, mas precisamos também fazer nossa lição de casa para exportarmos produtos com maior valor agregado e ampliarmos a parceria estratégica abrangente com a China nessa nova era”.

José Ricardo enumerou as características novas e particulares no desenvolvimento que é proposto pela China, expresso na declaração conjunta Brasil-China em Pequim, “baseada em quatro pilares dessa relação, a saber:” 1) Fortalecimento da confiança política mútua, com base em um diálogo em pé de igualdade; 2) Aumento do intercâmbio econômico-comercial, com vistas ao benefício recíproco; 3) Promoção da cooperação internacional, com ênfase na coordenação das negociações; 4) Promoção do intercâmbio entre as respectivas sociedades civis, de modo a aprofundar o conhecimento mútuo”.

Foram feitas questões por parte dos jornalistas sobre a assinatura de acordo com o Brasil se integrando ao projeto transcontinental “Cinturão e Rota” e sobre as consequências da visita de Lula à China e também uma pergunta por parte do Hora do Povo sobre as restrições impostas por Washington à China quanto aos produtos de tecnologia produzidos nos Estados Unidos.

A cônsul respondeu dizendo que a China espera a integração do Brasil no projeto “Cinturão e Rota”, o mais breve possível e enfatizou a oportunidade que se abre com a visita do presidente Lula, destacando os acordos firmados e complementaridade entre os produtos e as visões dos dois países.

Quanto à questão das imposições norte-americanas Chen Peijie afirmou: “Essa é uma competição de rumo maligno. Os Estados Unidos, através de bloqueios tecnológicos, procuram conter o desenvolvimento da China e, com isso, acabam causando prejuízos ao desenvolvimento industrial global. É um tipo de competição que não contribui para a saúde da economia mundial”.

“Na raiz deste bloqueio está a mentalidade de Guerra Fria, do conceito de soma zero, uma estratégia geopolítica aferrada ao hegemonismo. Dessa forma eles abusam de sua força econômica para cercear o crescimento de outros países”, disse ainda a cônsul.

“Nossa posição é que os países devem fornecer e contribuir para um ambiente de imparcialidade, de acordo com as leis internacionais e não de ataque a outros países na exclusiva busca desse hegemonismo forçado. Queremos deixar claro que esta política de cerceamento contra nós, não vai impedir o avanço do nosso desenvolvimento. Ao contrário, vai estimular nossa busca de conhecimento e apropriação tecnológica e nossa determinação em ampliar nossa independência em todos os terrenos”.

“A China, por seu lado, segue em busca do desenvolvimento pacífico, assegurando que o desenvolvimento da China não será obstáculo para o desenvolvimento de outros países”, concluiu Chen Peijie.

Fonte: Papiro