Clérigos e fiéis rezam durante a Páscoa no interior do mosteiro ameaçado por Zelensky | Foto: Adam Pemble/AP

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, condenou na terça-feira (11) o “silêncio dos Estados Unidos” diante da perseguição à Igreja Ortodoxa Canônica Ucraniana (UOC) por parte do regime de Kiev, além de uma série de ocupações de catedrais por partidários da dissidente Igreja Ortodoxa da Ucrânia (UCO), criada após o golpe de 2014.

A diplomata referiu-se à coletiva de imprensa dada pelo vice-porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Vedant Patel, na qual foi questionado sobre se o órgão responsável pelas relações internacionais do país tinha conhecimento dos ataques violentos contra as paróquias da UOC. “Não estou ciente desses relatórios específicos”, disse Patel, acrescentando que “não podia falar” sobre os episódios em questão, mas que o Departamento de Estado ficaria “feliz em examiná-los”.

“Isto é integridade. Resolveram não comentar […], não veem, não ouvem, não percebem. […] ‘Perseguição de UOCs? O que vocês estão dizendo? Violação de direitos humanos e liberdades religiosas na Ucrânia? Eu realmente não fiquei sabendo’”, ironizou Zakharova.

O conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podoliak, em entrevista ao canal de TV Ucrânia 24, pediu a eliminação da Igreja cristã ortodoxa Ucraniana (UOC) – nas palavras dele, “limpeza física” – e, em um rompante eugenista, comparou a religião de milhões de ucranianos e russos a “um abscesso que deve ser fechado cirurgicamente”.

Esses episódios de discriminação com buscas, apreensões de igrejas e acusações por uma suposta atividade pró-Rússia, foram registrados e condenados pela própria ONU. Nos últimos dias se concentraram na tentativa do governo de Volodymyr Zelensky de expulsar os monges do secular Mosteiro das Cavernas em Kiev.

Os religiosos do lendário convento, fundado no século XI, persistem na recusa de abandonar o local até que haja uma decisão judicial que revalide o incumprimento unilateral do arrendamento por parte do governo ucraniano. Seu líder, o bispo metropolitano Pavel, teve sua prisão domiciliar decretada por dois meses, após sua residência ser invadida e revistada.

Durante dias a resistência de fiéis e religiosos impediu a consumação do esbulho. Monges espargiram água benta nos provocadores que, gritando slogans nazistas, tentavam ocupar o mosteiro. À noite, os fiéis permanecem de guarda para proteger os santuários da invasão.

O governo Zelensky havia arbitrariamente anunciado que 220 monges deveriam deixar o mosteiro, por supostamente não estar mais valendo acordo de usufruto, a menos que os religiosos se filiassem à Igreja pró-Maidan instituída durante o governo Poroshenko, a UCO, uma igreja “ucraniana pura”. Em 19 de janeiro, o regime de Kiev apresentou um projeto de lei para banir qualquer igreja que fosse acusada de “ligação com a Rússia”.

IGREJAS DESTRUÍDAS

O prefeito da cidade ucraniana de Lvov, Andrei Sadovoi, declarou na última quinta-feira que a Igreja Ortodoxa Canônica deixou de existir na cidade.

“Nestes dois dias terminamos a história do Patriarcado de Moscou em nossa cidade”, esbravejou Sadovoi.

Neste contexto, disse que foi demolida uma igreja de madeira que as autoridades qualificaram de construção ilegal, adiantando que os edifícios de várias outras igrejas da cidade serão entregues à Igreja Ortodoxa da Ucrânia (UCO), promovida por Kiev, ou outras organizações.

Fonte: Papiro