Vazamentos ‘criam pânico nos altos escalões do Pentágono’, diz Washington Post
O vazamento na mídia e nas redes sociais de mais de 100 documentos secretos que detalham os planos dos EUA e da Otan para apoiar a Ucrânia contra a operação militar anti-fascista da Rússia, além de ações norte-americanas no Oriente Médio e na China, forçaram o Pentágono a declarar que está investigando a origem desses materiais, informou o New York Times.
Autoridades dos EUA disseram ao Washington Post que a liderança do Pentágono “restringiu o fluxo de inteligência” diante dos recentes vazamentos. Uma fonte descreveu as medidas como excepcionalmente rígidas e uma prova de “um alto nível de pânico” entre os altos escalões.
Tanto as autoridades americanas quanto seus parceiros estrangeiros ficaram “atordoados” e até “enfurecidos” com o nível de detalhes fornecidos nos documentos, que expunham como os EUA “espionam amigos e inimigos”, diz o relatório, sugerindo que os arquivos podem trazer problemas para as relações diplomáticas.
Os documentos foram divulgados no Twitter e no Telegram e contêm gráficos e detalhes sobre o envio de armas, reforço de batalhões e outras informações confidenciais. De acordo com o New York Times, as informações têm pelo menos cinco semanas e a mais recente é de 1º de março.
Embora não descrevam nenhum plano de batalha específico, os arquivos oferecem um panorama das avaliações da inteligência dos EUA para a situação das tropas russas e ucranianas, cronogramas para treinamento e entrega de equipamentos, dados meteorológicos, bem como gastos com munição – inclusive para a plataforma móvel de lançamento de foguetes HIMARS fornecida pelos EUA a Kiev.
Alguns dos documentos aparecem com várias versões diferentes circulando online mostrando estimativas muito variadas de perdas em ambos os lados do conflito.
Um dos arquivos, por exemplo, lista 12 novas brigadas de combate ucranianas – que geralmente são compostas de 4.000 a 5.000 soldados – observando que os EUA e o bloco da OTAN estão treinando e fornecendo armas a nove delas. O documento afirma que seis ficariam prontas para combate até o final de março e as três restantes até 30 de abril.
Se genuínos, os documentos representam um dos vazamentos de inteligência mais significativos desde o início do conflito Rússia-Ucrânia, e ocorrem quando Kiev declara está preparando uma grande contra-ofensiva contra as forças russas. Um dos documentos mostra duas rotas possíveis para as regiões de Donbass, Zaporozhya e Kherson. Não está claro se e quando os contra-ataques começariam, mas o major-general ucraniano Kyrylo Budanov afirmou recentemente que os dois lados travariam uma “batalha decisiva” e “final” em algum momento da primavera.
IMPACTOS
Os agentes de inteligência americanos chamaram o evento de “pesadelo para os Cinco Olhos” (FVYE, na sigla inglês, é ao grupo de inteligência que inclui os EUA, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido).
Mick Mulroy, ex-funcionário do Pentágono e da CIA, disse que o vazamento é uma “violação significativa de segurança que pode interferir no planejamento do Exército ucraniano”.
“É um vazamento que pode ser muito útil para os líderes russos, pois pode confirmar ou qualificar melhor os dados que eles já possuem sobre as armas ucranianas recebidas, seu estado, o estado de treinamento dos operadores ucranianos. Além disso, podem dar uma ideia do interesse estratégico dos Estados Unidos no campo de batalha ucraniano”, afirmou Karen Kwiatkowski, tenente-coronel aposentada da Força Aérea dos EUA e ex-analista do Departamento de Defesa dos EUA, em declarações à Agência Sputnik.
Sobre a possível conexão entre o vazamento e as possíveis ações das tropas ucranianas, Kwiatkowski acredita que pode ser uma frustração dos militares ou funcionários do Estado-Maior Conjunto com o governo Biden. Em particular, indica que a maior fonte dessa frustração pode ser “a exigência de Biden de uma vitória americana contra a Rússia, quando isso não é possível”.
“Também pode ser a frustração dos produtores de inteligência dentro do Pentágono ou em outro lugar com demandas políticas por informações moldadas e personalizadas, informações que eliminam análises factuais e examinadas para alinhar e apoiar os desejos políticos do governo”, explicou Kwiatkowski.
Fonte: Papiro