Venezuela celebra legado de Chávez, 10 anos após sua morte
A Venezuela teve um fim de semana lotado de homenagens de todos os tipos pelos 10 anos da morte do ex-presidente Hugo Chávez, falecido no dia 5 de março de 2013, vítima de um câncer. Milhares de venezuelanos foram às ruas de Caracas no domingo (5) e cerca de 200 lideranças internacionais de 50 países estiveram no local para celebrar a vida e o lado de Chávez.
Os manifestantes se reuniram em diversos pontos da capital da Venezuela e marcharam juntos até o antigo forte militar localizado no bairro periférico 23 de Enero que se converteu no mausoléu onde o corpo do ex-mandatário está enterrado.
Até hoje, os setores mais pobres do país afirmam a conexão especial que passaram a ter com a política, depois de Chávez. Além da percepção de que a revolução não precisava ser armada ou movida à destruição, mas à construção de novas lógicas econômicas que deram autonomia para muitas populações rurais.
Este sentimento se expressou de forma emocionada pelos sindicalistas e militantes sociais ao reafirmar que o ex-presidente era diferente de todos os que o antecederam, conectando o povo com o sentimento revolucionário e soberano de uma Venezuela livre pela proximidade humilde e compreensiva do sofrimento de seu povo.
Forte entusiasta de projetos de integração entre países da América Latina e do Caribe, Chávez inicia seu mandato em 1999 dedicado a este objetivo, preocupado em criar a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), alguns anos depois a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e logo depois a CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos).
Homenagens internacionais
Na Venezuela, lideres latino americanos evocaram a vigência do pensamento do comandante Hugo Chávez, há dez anos de sua partida física. Durante todo o fim de semana, ocorreram foruns, encontros, concertos e debates, além de uma peregrinação até o Quartel da Montanha 4F, onde descansam os restos mortais de Chavez. Os seminários procuram discutir a vigência do pensamento de Hugo Chávez, no que refere a descolonização e o socialismo no século XXI.
Os eventos reúnem no Quartel da Montanha cerca de 200 lideranças políticas internacionais, de 50 países, para comemorar sua vida e seu legado. O presidente Nicolás Maduro liderou o encontro com os presidentes da Nicarágua e Bolívia (Daniel Ortega e Luis Arce, respectivamente); o premier de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves; o de Dominica, Roosevelt Skerrit; e o ex-presidente cubano Raúl Castro. Também participaram os ex-presidentes de Bolívia, Evo Morales; Equador, Rafael Correa; e Honduras, Manuel Zelaya.
Os discursos refletiram as anedotas pessoais de quando conheceram o comandante e a potência que suas ideias traziam para todo o continente. O presidente Nicolás Maduro, indicado por Chavez para dar continuidade a seu legado, apontou as agressões, ameaças, sanções criminosas, que tentaram impor um modelo colonial contra a Venezuela. No entanto, a Venezuela decidiu pelo futuro de soberania e pátria livre, em vez disso, segundo ele.
“Dez anos depois e não houve ausência, houve uma presença permanente do seu ideal e do compromisso juramentado de avançar na construção da pátria independente, soberana e socialista”, declarou Maduro, que recebeu o reconhecimento de parte dos seus pares presentes por “resistir” às sanções econômicas americanas.
Destacou-se nos discursos a intenção de que os latino-americanos passaram a olhar para o sul e para o orgulho de ser latino-americano, depois da dominação econômica e cultural que predominou até os anos 1990. Segundo discursaram várias lideranças, houve então uma série de mudanças culturais no continente.
O comandante da Revolução Cubana, Raul Castro apontou a grandiosidade do significado de Hugo Chavez para o continente e para os povos do mundo. “Suas ideias estremeceram e impactaram a história contemporânea de Nossa América. Fomos marcados por Chávez. Temos sido testemunhas das agressões e da guerra econômica para derrocar o processo bolivariano. Temos sido testemunhas também, e presenciado com orgulho, que o povo venezuelano tem sabido defender suas conquistas e não defraudar a Chavez”, disse o líder cubano.
“Fomos testemunhas da liderança também de Maduro para continuar a obra de Chávez, e sua capacidade de resistir e vencer. Nessa batalha Cuba esteve e estará ao lado do seu povo, Nicolás. Esta é a nossa homenagem a Chávez, acompanhá-lo e segui-lo sempre”, disse Castro em um breve discurso.
O presidente da Bolívia, Luis Arce disse que o pensamento integracionista de Chávez é a resposta ante uma globalização, que hoje faz água ante a realidade do neoprotecionismo em vários países. “É obrigação de todos os revolucionários seguir construindo esse pensamento integracionista e esta Pátria Grande. É o melhor que podemos fazer para lembrar o legado de Chavez”, afirmou.
O ex-presidente boliviano, Evo Morales, explicou que a melhor forma de honrar Chávez era seguir nesta linha antiimperialista, como grande catalizador da integração latino-americana.
O presidente da Nicarágua Daniel Ortega afirmou que Chavez tem um grande valor pelo que significa de síntese das lutas que deflagrou o povo venezuelano, desde que chegaram os primeiro invasores. “E conseguiu isso tudo pela vitória eleitoral!”.
O Movimento Sem Terra, em São Paulo, também organizou homenagens ao comandante Hugo Chavez. A Escola Florestan Fernandes foi sede de um ato emocionante, numa reafirmação do compromisso do movimento com seu legado. Em 2022, Maduro reconheceu o trabalho do MST na produção de alimentos saudáveis e Manifestou interesse em replicar a experiência na Venezuela.
Em Buenos Aires, uma exposição fotográfica na Embaixada venezuelana também reuniu lideranças de esquerda da Argentina para saudar a influência de Chavez para as lutas locais, em confluência com o legado dos Kirshner.
A feira cultural Iran e Venezuela em caracas não pode deixar de tratar do legado e influência de Chavez para a resistência patriótica do Irã contra as agressões dos EUA. As sanções dos americanos e seus aliados com objetivo de mudar o regime de Caracas e Teerã favoreceram uma aproximação econômica, estratégica e cultural entre os países. Com a feira, o debate sobre a dominação e a violência provocada pelos EUA no Oriente Médio, assim como na América Latina, são ilustradas para o povo venezuelano que a frequenta.
(por Cezar Xavier)