Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador considerado a inflação oficial do país, fechou em 4,65% no acumulado dos últimos 12 meses até março, menor do que os últimos doze meses terminado em fevereiro (5,60%), sendo a menor taxa para 12 meses desde janeiro de 2021, de acordo com os dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (11).

Em março, a taxa de inflação ficou em 0,71%, puxada principalmente pelos preços dos combustíveis, que subiram 8,33% no mês.

“Os resultados da gasolina e do etanol foram influenciados principalmente pelo retorno da cobrança de impostos federais no início do mês, estabelecido pela Medida Provisória 1157/2023. Havia, portanto, a previsão do retorno da cobrança de PIS/COFINS sobre esses combustíveis a partir de 1º de março”, segundo o analista da pesquisa, André Almeida. 

Apesar da alta em março, a inflação desacelerou também na comparação com fevereiro, época em que o indicador marcou 0,84%. No ano, o IPCA  acumula alta de 2,09%, o que também é menor do que foi registrado para o mesmo intervalo de tempo do ano passado (3,42%).

Os dados vêm na contramão das “expectativas” do “mercado”, que tem projetado valores maiores para inflação a fim de pressionar pela manutenção dos juros elevados, os maiores do mundo – com aval do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

No Boletim Focus, divulgado ontem (10), os analistas de “mercado”, diga-se das instituições financeiras, consultados pelo BC, voltaram a elevar a projeção de inflação, passando de 5,96% para 5,98%. Um mês antes, metade das instituições ouvidas pelo BC indicava 5,96%. Se considerado apenas as 61 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, a mediana para 2023 também subiu, de 6,03% para 6,04%.

Já a previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) foi mantida em 12,75% para este ano. Ou seja, pela mediana das projeções, metade das instituições indicaram uma Selic ainda maior.

A inflação no Brasil não é de demanda, mas resultado de um choque de oferta que está produzindo efeitos negativos, principalmente, nos preços de energia e alimentos – questões que os juros altos nada podem interferir.  Ou seja, os juros nos atuais patamares não irão resolver o problema da inflação, mas estão levando a economia para recessão ao reprimir os investimentos e a demanda por consumos de bens e serviços no país e elevando o endividamento das empresas e das famílias.

Entre os pilares que sustentam a inflação a ser derrubado está a dolarização nos preços dos combustíveis, o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação), que, desde sua implantação em 2017, fez os preços dos combustíveis dispararem, puxando o indicador de inflação para o alto. 

O presidente Lula já debate o tema com a Petrobrás e reafirmou, na semana passada (6), que a política de preços dos combustíveis da estatal vai ser modificada. Com a implementação de uma política de preços interna dos combustíveis, que leve em consideração os interesses nacionais, os preços dos combustíveis poderão voltar a patamares acessíveis à população, ajudando também a reduzir os custos da produção e transportes de alimentos, o que consequentemente influenciará na diminuição dos custos da alimentação no país.

De acordo com o IBGE, em março, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta. A exceção foi Artigos de residência (-0,27%), que tinha subido 0,11% em fevereiro. O maior impacto (0,43 p.p.) e a maior variação (2,11%) no índice do mês vieram de Transportes. O principal destaque foi a gasolina (8,33%). O etanol (3,20%) também subiu, enquanto gás veicular (-2,61%) e óleo diesel (-3,71%) continuaram em queda. As passagens aéreas, que já haviam recuado 9,38% em fevereiro, caíram 5,32% em março.

Na sequência, vieram Saúde e cuidados pessoais (0,82%), influenciado principalmente pela alta de 1,20% do plano de saúde, e Habitação, cuja maior contribuição (0,09 p.p.) veio da energia elétrica residencial (2,23%). 

Os demais grupos ficaram entre o 0,05% de Alimentação e bebidas – influenciado pela queda da alimentação no domicílio, que passou de 0,04% em fevereiro para -0,14% em março – e o 0,50% de Comunicação.

Fonte: Página 8