Professora Desai em sua exposição ao Clube de Discussão Valdai | Foto: Pavel Cheremisin/Valdai

A hegemonia do dólar está em franco declínio e os EUA têm poucas armas para evitá-lo, disse a analista canadense Radhika Desai, professora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba, durante simpósio na quarta-feira (5) em Moscou sobre a desdolarização. Ao se livrarem de “vampiro sugador” do mercado financeiro dos EUA, países não ocidentais terão seus produtos e moedas devidamente valorizados, assinalou.

O debate, com a presença de especialistas russos e canadenses, aconteceu no simpósio do clube de discussão Valdai sobre “A nova ordem econômica: é realmente possível acabar com o monopólio do dólar?”.

A nova configuração geopolítica – destacou a Sputnik Brasil – trouxe o tema para o centro da agenda, sendo inclusive incluído na nova concepção de política externa russa.

A desdolarização veio para ficar e é fruto da perda de confiança no Ocidente, apontou o chefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky.

“Eles congelam os ativos de diversos países e no nosso caso praticamente roubaram ativos avaliados em US$ 300 bilhões. Outros países entendem que hoje isso é feito contra a Rússia, mas amanhã pode ser feito com qualquer um deles”, sublinhou o diplomata.

De acordo com o jornal Financial Times, cerca de US$ 300 bilhões dos US$ 630 bilhões de reservas internacionais da Rússia foram detidos por EUA, União Europeia, Reino Unido e Canadá, após o agravamento do conflito ucraniano. Anteriormente, confiscos semelhantes já haviam sido cometidos contra a Venezuela e o Irã.

Por isso, países do BRICS “discutem ativamente” a formação de sistemas de pagamentos alternativos ao liderado pelos EUA e diminuem a formação de reservas em dólares.

“O sistema financeiro forjado após a Segunda Guerra Mundial garantiu que o centro privilegiado fosse financiado às custas da maioria mundial”, explicou Birichevsky. “Para nós, isso é um sistema neocolonial.”

Ele destacou que acordos como o firmado por Brasil e China para comercializar em moedas nacionais são um passo fundamental para superar a hegemonia do dólar.

“A posição da economia americana ainda é considerável […] sua capacidade de chantagear e pressionar países terceiros ainda é grande”, ponderou Birichevsky. “Vemos como os norte-americanos conseguem resultados, por exemplo, na Assembleia Geral da ONU: através da chantagem e da intimidação que, infelizmente, muitos países ainda não têm condições de resistir.”

Para a professora Desai, por outro lado, a capacidade dos EUA de reagir ao declínio do dólar é, atualmente, limitada.

“Os EUA no passado foram de fato à guerra contra países que questionaram a hegemonia do dólar, como o Iraque e a Líbia”, ela disse à Sputnik Brasil. “Mas os Estados Unidos não ganharam essas guerras, o que abalou o apoio popular a esse tipo de medida.” Ao que se somam os problemas econômicos internos graves enfrentados pelos EUA, como a crise bancária e o aumento recorde da desigualdade social doméstica.

“A habilidade dos EUA de reagir a movimentos como o brasileiro está limitada. Eles com certeza gostariam [de reagir] e estão comprometidos com o sistema do dólar”, considerou Desai. “Mas as contradições internas do sistema estão em ebulição dentro dos próprios EUA.”

Para a especialista canadense, o fim da hegemonia do dólar liberará o mundo do “vampiro sugador que é o sistema financeiro norte-americano” e será positivo para países não ocidentais, que sofrem com a desvalorização artificial de suas moedas e produtos.

“Uma das maiores vantagens de substituir esse sistema delirante por um mais sadio é que os produtos produzidos por países não ocidentais atingirão o valor que merecem. As moedas dos países não ocidentais são artificialmente desvalorizadas, por isso produtos russos, indianos e até chineses não recebem o valor que merecem”, concluiu Desai.

Fonte: Papiro