Russos homenageiam o jornalista assassinado em atentado | Foto: Olga Maltseva/AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto concedendo postumamente a Ordem da Coragem ao correspondente de guerra Vladlen Tatarski, que foi morto em 2 de abril em um atentado em um café em São Petersburgo.

O decreto, assinado um dia após o ataque, reconhece postumamente Maxim Fomin (nome verdadeiro de Vladlen Tatarski) “pela coragem demonstrada no desempenho de seu dever profissional”.

Tatarski foi morto depois que uma mulher identificada como Daria Trepova entregou a ele uma caixa contendo um busto, que, por sua vez, continha uma bomba. A explosão também deixou um saldo de 32 pessoas feridas.

No mesmo dia do ataque, as autoridades russas detiveram Trepova, que admitiu ter entregado a caixa a Tatarski antes da explosão. Durante um primeiro interrogatório gravado e divulgado pelo Comitê de Investigação da Rússia, a detida não quis revelar quem ordenou a entrega do explosivo. São conhecidos os vínculos dela com a assim chamada Fundação Anticorrupção de Navalny.

Trepova foi apresentada perante o Tribunal de Basmanny em Moscou e teve decretada sua prisão preventiva por dois meses. Ela será defendida pelo mesmo advogado que defende o recentemente preso e acusado de espionagem, o norte-americano Gershovich. De acordo com a legislação vigente, ela pode pegar até 35 anos de prisão.

Ainda não está claro, para as autoridades russas, porque o plano de fuga de Trepova falhou, já que ela havia comprado uma passagem para o Uzbequistão, presumivelmente a caminho da Ucrânia. As autoridades policiais já teriam também identificado que Trepova executara outras missões para os ucranianos, recebendo 20.000 rublos/tarefa, em criptomoeda.

O Comitê Nacional Antiterrorista da Rússia e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, responsabilizaram os serviços especiais ucranianos pelo ataque que matou Tatarski.

“Este é um ato terrorista. Vimos a declaração do Comitê Nacional Antiterrorista (NAC). A fase ativa da investigação está em andamento. Vemos medidas bastante vigorosas para deter os suspeitos. Sejamos pacientes neste caso e aguardem as próximas declarações de nossos serviços especiais”, disse Peskov.

Quando perguntado se a Federação Russa estava enfrentando uma onda de terrorismo, Peskov respondeu: “A Rússia enfrenta o regime de Kiev. Este é o regime que apóia ações terroristas, que está por trás do assassinato de Daria Dugina, um regime que está por trás da matança de pessoas há muitos anos, desde 2014”.

No ano passado, a jornalista russa Daria Dugina foi assassinada na explosão de uma bomba em seu carro, plantada por uma mulher ucraniana a soldo do regime de Kiev. Acredita-se que o alvo da bomba fosse o pai dela, que viu a filha morrer a poucos metros e que estava em outro carro, o filósofo Alexander Dugin, conhecido pelas idéias soberanistas e por sua concepção de ‘mundo russo’.

FILHO DO DONBASS

Natural do Donbass, Tatarski, 40 anos, nasceu na cidade de Makeyevka, em Donetsk. Em 1982 adotou o pseudônimo de Vladlen Tatarski, inspirado em um romance de Viktor Pelevin. Ele foi homenageado nesta terça-feira na Duma, o parlamento russo, bem como em Donetsk.

Após o golpe CIA-nazis em Kiev de 2014, que derrubou o presidente legitimo e instaurou o regime pró-Otan, Tatarski se juntou a revolta antifascista, ingressando na Milícia Popular de Donbass, onde ajudou a deter a “operação antiterrorista” desencadeada pelo Batalhão Azov e destacamentos semelhantes, que tentaram subjugar os russos étnicos. Em 2019 ele deixou o serviço militar e se estabeleceu em Moscou. Em fevereiro de 2022, retornou ao Donbass como correspondente de guerra.

Curiosamente, a mídia pró-Otan vem tratando o assassinado no atentado, não como um correspondente de guerra, aliás muito respeitado, nem como uma vítima de ataque terrorista, mas como um “blogueiro pró-Putin” – como, se alguém concordar com o presidente russo, então está valendo ser explodido.

Fonte: Papiro