Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Os juros elevados no crédito ao consumidor corroendo a renda mantêm o elevado percentual de 78,3% das famílias brasileiras endividadas em março, após o indicador crescer entre janeiro e fevereiro, segundo Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada nesta terça-feira (4).

Do total de famílias que relataram ter dívidas a vencer, 17,1% consideravam-se “muito endividadas”, indicador que também se manteve inalterado frente a fevereiro, após duas altas consecutivas. E a proporção de consumidores sem condições de pagar dívidas atrasadas de meses anteriores chegou a 11,5% do total em março.

São dívidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa, apuradas na pesquisa.

O volume de consumidores com dívidas atrasadas por mais de 90 dias vem crescendo e alcançou 44,5% do total de inadimplentes em março. Um aumento tanto em relação a fevereiro (44,2%) quanto em comparação com o mesmo mês do ano passado (44%).

“Quem tem dívidas atrasadas há mais tempo segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência, por causa dos juros elevados”, destaca a CNC.

“Temos mais gente atrasando por mais tempo, e os indicadores mostram que apesar de o consumidor se esforçar para pagar suas contas em dia, quando ele atrasa, mais dificuldade ele tem para pagar”, diz a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira.

“Isso porque além de os juros estarem altos, esse consumidor não consegue linhas melhores porque o sistema financeiro está retraído na concessão para ele – ainda mais se ele já estiver com algum compromisso atrasado”, completa a economista.

O comprometimento da renda com dívidas de todos os brasileiros está em cerca de 30% (29,9%). Ou seja, significa que, a cada R$ 1.000,00 de renda, o consumidor gastou, em média, R$ 299,00 com o pagamento de dívidas em março. Já os consumidores com renda de até três salários mínimos fecharam o trimestre entregando 30,9% da sua renda para o pagamento de dívidas.

Os números refletem o mal dos juros altos sobre a economia do Brasil. O Banco Central (BC) vem impondo aos brasileiros uma taxa Selic de 13,75% ao ano – nível em vigor desde agosto do ano passado – com isso, o custo do financiamento do crédito do cartão de crédito, do cheque especial, do empréstimo pessoal, entre outros, ficou ainda mais caro, agravando ainda mais as dívidas das famílias, principalmente as mais pobres que se encontram em dificuldades financeiras pelo ambiente de baixo crescimento econômico que o Brasil vivencia nos últimos anos, o alto desemprego e queda da renda, com inflação de alimentos e outros itens básicos.

Fonte: Página 8