Qin Gang, ministro do Exterior da China | Foto: SCMP

Os ministros das Relações Exteriores da China e do Japão conversaram em Pequim sobre as difíceis relações bilaterais em meio às restrições às exportações de 23 tipos de tecnologias de ponta para a fabricação de chips, recém anunciadas por Tóquio, sob ordens de Washington.

Qin Gang, ministro das Relações Exteriores da China, exortou no domingo (2) o Japão a não endossar a guerra tecnológica dos EUA contra a indústria chinesa de semicondutores, assinalando que tal bloqueio só fortalecerá a determinação de Pequim de alcançar a autossuficiência.

“No passado, os EUA suprimiram implacavelmente a indústria japonesa de semicondutores, mas agora estão repetindo suas antigas táticas no caso da China. Não faça aos outros o que você não quer que outros façam a você”, afirmou Qin, de acordo com a Bloomberg.

O chanceler japonês Yoshimasa Hayashi visitou a capital da China, na primeira viagem de um alto diplomata de Tóquio em mais de três anos. Sua visita ocorre em um momento crucial, quando os laços bilaterais caíram para a “situação mais grave” desde a normalização das relações diplomáticas China-Japão há 51 anos, registrou o jornal Global Times. A China é o maior parceiro comercial do Japão.

O chanceler Qin chamou o Japão a se encontrar com a China “no meio do caminho”, fortalecer o diálogo e a cooperação, além de administrar as divergências. Ele afirmou que acoexistência pacífica e a cooperação amigável são a única escolha para as relações China-Japão.

Na reunião, Qin e Hayashi discutiram ainda o plano do Japão de despejar águas residuais contaminadas por energia nuclear de Fukushima no oceano e a questão de Taiwan.

Qin disse que a questão de Taiwan está no centro dos principais interesses da China e instou o Japão a cumprir os princípios dos quatro documentos e compromissos políticos sino-japoneses assumidos até agora, não interferir na questão de Taiwan nem prejudicar a soberania da China de qualquer forma.

A mídia japonesa tem divulgado a detenção de um cidadão japonês supostamente suspeito de espionagem na China, descrevendo-a como a tarefa central da visita de Hayashi a Pequim. Qin disse no domingo que a China lidará com o caso de acordo com a lei.

Hayashi também foi recebido pelo primeiro-ministro chinês, Li Qiang, que destacou sua expectativa de que China e Japão trabalhem juntos para construir um relacionamento exigido pela nova era e conclamando a obter benefícios mútuos e alcançar uma cooperação ganha-ganha em um nível superior.

Em paralelo, o ex-primeiro-ministro japonês e ex-presidente do Fórum Boao para a Ásia, Yasuo Fukuda, se reuniu na sexta-feira com Wang Yi, que encabeça a Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista da China. A ele, Wang alertou que a China tem motivos para estar preocupado com a possível regressão da política do Japão em relação à China e para questionar se o Japão continuará a aderir à direção do desenvolvimento pacífico.

MIOPIA

A razão fundamental, de acordo com Wang Yi, para essa deterioração nas relações bilaterais é que certas forças no Japão estão deliberadamente seguindo a política errada dos EUA para a China, tentando provocar e difamar os interesses centrais da China. Movimentos que classificou de “estrategicamente míopes, errados em uma frente política e imprudentes em termos de diplomacia”.

O Japão entrou de mala e cuia na aliança Quad, na chamada estratégia Indo-Pacífico dos EUA, e que inclui ainda a Austrália e a Índia, e se envolveu em provocações em relação a Taiwan.

Em dezembro de 2022, a coalizão governante do Japão concordou com uma atualização da Estratégia de Segurança Nacional que descreve a China como um “desafio estratégico sem precedentes”. Além disso, o Japão anunciou a extensão de suas capacidades de ataque de longo alcance. Ainda, seu orçamento de defesa planeja atingir 2% do PIB em cinco anos, ultrapassando o limite original de 1% estabelecido por sua Constituição Pacifista.

Como sinal positivo, os ministérios da defesa chinês e japonês concluíram recentemente uma linha telefônica direta para um mecanismo de ligação marítima e aérea. Isso contribuirá para manter a paz e a estabilidade regionais, anunciou na sexta-feira o Ministério da Defesa chinês.

RISCO DE RETROCESSO

Ao Global Times, o ex-primeiro-ministro japonês Fukuda disse discordar da ideia do chamado desacoplamento, observando que “encolheria as atividades e até arriscaria desencadear um conflito militar, o que não traria nenhum bem à economia mundial”.

Para o GT, seja qual for o motivo ou desculpa, “a tentativa do Japão de estender sua aliança de segurança com os EUA para o campo econômico e comercial representa um retrocesso em termos de livre comércio. Como um país que depende fortemente do comércio exterior, o Japão precisa avaliar cuidadosamente se sua economia pode suportar as consequências de seguir o impulso de ‘desvinculação’ dos EUA da China, seu maior parceiro comercial por mais de uma década”.

“As complementaridades do comércio China-Japão determinam que, se o Japão cortar a China da cadeia de suprimentos tecnológicos para ceder aos EUA, a economia japonesa também sofrerá significativamente. O desenvolvimento da China não é uma pressão, mas uma oportunidade para o Japão”.

“Se o Japão ficar do lado dos EUA para suprimir o desenvolvimento da China, é ilusório pensar que a China não reagiria”, advertiu o GT, sobre a necessidade de evitar “perturbações e choques nas cadeias de suprimentos regionais”.

“Atualmente, a Ásia é uma das regiões mais prósperas do mundo, com previsão de recuperação robusta para a China, ASEAN e Índia neste ano. Supõe-se que esta seja uma oportunidade sem precedentes para a China e o Japão fortalecerem a cooperação, injetando impulso na economia japonesa, mas a pré-condição é que o Japão precisa se livrar de seus grilhões geopolíticos antes de se integrar ao desenvolvimento econômico asiático”.

Fonte: Papiro