Encontro da Organização de Cooperação de Xangai ao final de 2022 | Foto: MRE da Índia

O rei Salman bin Abdulaziz Al Saud assinou documentos que concedem à Arábia Saudita o status de “parceiro de diálogo” com a Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês) – o bloco político, econômico e de segurança atualmente presidido pela China e no qual a Rússia também tem grande relevo.

A assinatura ocorreu na semana passada no Palácio al-Salam em Jeddah, informou a Agência de Imprensa Saudita.

A SCO foi criada pela Rússia, China, Cazaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão em 2001, tendo se expandido para a Índia, Paquistão e Uzbequistão. O Irã está em processo de obtenção do status de membro pleno.

A parceria de diálogo foi criada em 2008 e inclui Armênia, Azerbaijão, Egito, Turquia, Catar, Sri Lanka e Nepal. Dedicada no primeiro momento a questões de segurança na região, a SCO passou a se distinguir por promover a cooperação em questões comerciais, econômicas e culturais.

Além de formalizar a parceria, o rei Salman também aprovou acordo de formação técnica e profissional com a China. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman agradeceu a Pequim por mediar as negociações com o Irã, que culminaram no restabelecimento de relações diplomáticas e de boa vizinhança no início de março.

De acordo com declaração de fevereiro do embaixador da Rússia no reino, Sergey Kozlov, a Arábia Saudita também expressou a disposição em se juntar ao BRICS. Rússia e Arábia Saudita mantêm parceria na OPEP +.

RUMO AO PETROYUAN

Em 15 de março, o Wall Street Journal registrou que a Arábia Saudita estava em negociações com a China para passar a vender seu petróleo em yuan, a moeda chinesa. 25% das exportações de petróleo saudita são para a China.

Na verdade, em janeiro, no Fórum Econômico Mundial de Davos, o ministro das Finanças saudita, Mohammed Al Jadaan, havia confirmado que Riad estava avaliando o uso de outras moedas que não o dólar no comércio de petróleo.

Após o fim do padrão Dólar-Ouro, os EUA lograram manter sua posição de moeda de reserva mundial ao imporem aos sauditas que a principal commodity do planeta, petróleo, a commodity da energia de que o mundo inteiro dependia, só seria comercializada em dólares, instituindo o petrodólar e turbinando a financeirização.

Na semana passada, pela primeira vez uma empresa ocidental aceitou receber em yuans, por uma exportação de gás natural liquefeito para a China. A empresa francesa TotalEnergies vendeu 65 mil toneladas de gás liquefeito dos Emirados Árabes Unidos para a estatal chinesa CNOOC. A transação foi mediada pela Bolsa de Petróleo e Gás Natural de Xangai.

A CÚPULA DE RIAD

Em dezembro do ano passado, na primeira Cúpula China-Estados Árabes e China-Conselho dos Países do Golfo, com a participação do presidente chinês Xi Jinping, realizada em Riad, a questão do uso das moedas nacionais no intercâmbio econômico esteve em debate. Ele exortou os monarcas do Golfo a “fazer pleno uso da Bolsa de Petróleo e Gás de Xangai como plataforma para conduzir as vendas de petróleo e gás usando a moeda chinesa”.

Alguns dias antes da cimeira, Xi publicou um artigo em que anunciou maiores parcerias estratégicas e comerciais com a região, incluindo “cooperação em setores de alta tecnologia, como comunicações 5G, nova energia, espaço e economia digital”. Arábia Saudita e China assinaram acordos comerciais no valor de 30 bilhões de dólares.

A Arábia Saudita também busca o apoio da China para sua industrialização e desenvolvimento, especialmente tendo em vista os projetos de descarbonização da economia global e eliminação dos combustíveis fósseis. Tem, ainda, interesse nos projetos de infraestrutura da Iniciativa Cinturão e Estrada, popularmente conhecida como “Rota da Seda”.

Como assinalou recentemente Vijay Prashad, do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, “o caminho da desdolarização passa pela Arábia Saudita”. Ele destacou a declaração ao Wall Street Journal de Gal Luft, co-diretor do Instituto de Análise de Segurança Global, de que “o mercado petrolífero, e por extensão todo o mercado global de commodities, é a apólice de seguro do status do dólar como moeda de reserva. Se esse bloco for retirado do muro, o muro começará a ruir”.

Ainda segundo Prashad, quanto à inadiável diversificação econômica desejada por Riad, a China apresenta “três vantagens que ajudam nessa que os EUA não têm: um sistema industrial completo, um novo tipo de força produtiva (gestão e desenvolvimento de projetos de infra-estrutura em imensa escala) e um vasto mercado consumidor em crescimento”.

Fonte: Papiro