Trabalhadores alemães entram em greve contra arrocho salarial
A Alemanha parou nesta segunda-feira (27). Trabalhadores de aeroportos, portos, ferrovias, ônibus e linhas de metrô entraram na maior greve do país em mais de 30 anos, com impactos em praticamente toda a sociedade alemã, exigindo aumentos salariais em meio à inflação a taxas aceleradas.
A inflação no país fechou 2022 em 7,9%, a maior taxa anual registrada no país desde a Reunificação, em 1990, apontaram dados definitivos divulgados pelo Departamento Federal de Estatísticas (Destatis). E, com a situação agravada pela falta de atualização dos salários dos trabalhadores, acelerou para 8,7% em janeiro último, de acordo com a primeira leitura dos dados publicados pela agência federal de estatística alemã.
Dois dos mais importantes sindicatos da Alemanha, que juntos somam mais de dois milhões e meio de membros – o Sindicato dos Ferroviários (EVG) e sindicato do setor público alemão, Verdi, convocaram uma greve conjunta, planejada para coincidir com o início da terceira rodada de negociações salariais.
Os sindicatos exigem aumentos de pelo menos 10,5%, devido à inflação que afeta diretamente os custos de vida. Nas outras rodadas de negociações, aumentos de pagamentos de bônus únicos oferecidos pelo governo foram rejeitados.
O tráfego de longa distância nas ferrovias está quase completamente interrompido, afetando também países vizinhos, visto que muitas linhas têm trajetos além das fronteiras alemãs. No tráfego regional, a maioria dos trens também não circula, de acordo com a companhia ferroviária alemã Deutsche Bahn (DB).
Todos os grandes aeroportos estão em greve, com exceção do de Berlim – Brandemburgo, que está operando voos internacionais, já que os domésticos não estão chegando nem partindo devido à paralisação nos outros aeroportos do país. Estima-se que 400 mil passageiros sejam afetados.
Além disso, em sete Estados – Baden-Württemberg, Hesse, Baixa Saxônia, Renânia do Norte-Vestfália, Renânia-Palatinado, Saxônia e grandes partes da Baviera – ônibus urbanos, metrôs e bondes também estão parados.
O transporte de cargas, tanto na rede ferroviária quanto nos portos, é atingido, pois os estivadores se uniram aos grevistas. Consequentemente, entregas de mercadorias que seguiriam por barcos e trens também foram afetadas, segundo informações da Agência alemã Deutsche Welle.
Os dois grandes sindicatos estão na fase inicial da negociação com os empregadores dos setores públicos locais e federais em várias áreas setores de transporte – incluindo ferroviário, transporte público local e pessoal de terra em aeroportos.
Para fortalecer a exigência de conversas e de um acordo, 350 mil trabalhadores de outros diferentes setores se somaram à chamada “greve de advertência” nesta segunda-feira, que foi precedida por paralisações pontuais nas últimas semanas.
No caso do Verdi, uma nova rodada de conversas da Federação Alemã de Funcionários Públicos e União Salarial (DBB) com representantes do governo federal e dos governos locais começou nesta segunda-feira em Potsdam para definir o destino dos salários de 2,4 milhões de pessoas. O sindicato exige 10,5% de salário por mês. Anteriormente, os empregadores ofereceram um aumento salarial de 5% por um período de 27 meses. Em junho, no último aumento ocorrido, a remuneração de seus trabalhadores subiu em 6,5%.
O EVG, por sua vez, recomeça no meio da semana negociações coletivas com a Deutsche Bahn e cerca de 50 outras empresas. Se não houver um acordo, o sindicato não descarta novas paralisações no feriado de Páscoa. O EVG pede aumentos salariais de 12% ao longo do período de um ano.
Hoje são 7,8 milhões de pessoas sindicalizadas, de acordo com estudo da Fundação Friederich Ebert.
Os trabalhadores alemães conseguiram manter um nível de razoável unidade sindical, com um modelo intermediário entre o que conhecemos de sindicatos por categoria e Centrais Sindicais reunindo sindicatos de diversas categorias.
O Verdi, por exemplo, reúne trabalhadores de mais de mil profissões e é o segundo maior do país em número de filiados, informa a Agência Reuters.
Fonte: Papiro