Visita de Xi a Moscou fortalece parceria estratégica China-Rússia
“Neste momento, há mudanças – do tipo que não víamos há 100 anos – e estamos conduzimos essas mudanças juntos”, disse o presidente chinês Xi Jiping ao se despedir do anfitrião Vladimir Putin, resumindo o resultado da sua visita de três dias à Rússia que reafirmou a parceria estratégica Moscou-Pequim e o avanço irreversível do multilateralismo, e que se concluiu na quarta-feira (22).
O roteiro de paz chinês de 12 pontos – um objetivo essencial da viagem de Xi – foi saudado pelo presidente Putin, que o considerou “equilibrado”, “com muitas das provisões em consonância com as abordagens russas e que podem ser tomadas como base para um acordo pacífico, quando estiverem prontos para isso no Ocidente e em Kiev”.
Na declaração conjunta emitida no final da visita de Estado de Xi a Moscou, os dois líderes alertaram contra quaisquer medidas que possam levar o conflito ucraniano a uma “fase incontrolável”, sublinhando que não pode haver vencedores em uma guerra nuclear.
Putin acusou as potências ocidentais de lutar “até o último ucraniano”, enquanto Xi reiterou seu apelo pelo retorno às negociações para buscar uma solução diplomática para as hostilidades. “Sempre defendemos a paz e o diálogo e estamos firmemente do lado certo da história”, acrescentou.
MEDIAÇÃO
A visita do presidente Xi é a primeira à Rússia desde a eclosão do conflito Moscou-Kiev, e também sua primeira viagem ao exterior desde que garantiu um terceiro mandato sem precedentes como chefe de Estado da China. Sua ida também foi valorizada pela vitória diplomática conduzida por Xi quase na véspera da visita, com Arábia Saudita e Irã anunciando em Pequim a restauração de relações, rompidas há sete anos.
Até aqui, como Putin cansou de dizer, o que prevalece em Washington e arredores é o desejo de escalada, com o anúncio de fornecimento de munição com urânio depletado, drones de guerra norte-americanos rondando a Crimeia e a provocação do ‘mandado de prisão’ contra Putin na véspera da ida do presidente Xi a Moscou, além da recusa de qualquer negociação ou cessar-fogo. Isso, depois do presidente Biden, ter explodido os gasodutos Nord Stream, conforme a denúncia de Seymour Hersh.
“Na época em que discutíamos as possibilidades do plano de paz chinês, soube-se que o Reino Unido anunciou não só o fornecimento de tanques à Ucrânia, mas também projéteis com urânio empobrecido. Parece que o Ocidente realmente decidiu lutar com a Rússia até o último ucraniano, não em palavras, mas em ações”, disse Putin.
“Se tudo isso acontecer, a Rússia será forçada a reagir de acordo, tendo em vista que o Ocidente coletivo já está começando a usar armas com componente nuclear”, alertou.
Em Pequim, o porta-voz da chancelaria, Wang Webin, rebateu as declarações do secretário de Estado Antony Blinken e do conselheiro de Segurança Nacional, John Kirby, contra os esforços da China de mediação da paz na Ucrânia.
“O lado dos EUA afirma que a postura da China não é imparcial. Mas é imparcial fornecer continuamente armas ao campo de batalha? É imparcial escalar constantemente o conflito? É imparcial permitir que os efeitos da crise se espalhem globalmente?”, questionou Wang.
“Aconselhamos o lado americano a repensar sua própria posição sobre a questão da Ucrânia, afastar-se do caminho errôneo de colocar lenha na fogueira e parar de jogar a culpa na China”, acrescentou. O que a China fez “se resume a uma coisa, promover negociações de paz.”
Ele acrescentou que a comunidade global apoia a China no lado da busca diplomática pela paz, ao contrário do que acredita o Ocidente.
“Sobre a questão da Ucrânia, vozes pela paz e racionalidade estão crescendo. A maioria dos países apóia o alívio das tensões, apoia negociações de paz e é contra colocar mais lenha na fogueira. Essa também é a posição da China. A visita do presidente Xi Jinping à Rússia é uma jornada de amizade, cooperação e paz. Foi calorosamente recebido internacionalmente. Pedimos aos EUA que reflitam sobre seu próprio papel na questão da Ucrânia, parem de alimentar as chamas e parem de desviar a culpa para a China”.
“PARCERIA ESTRATÉGICA”
Durante as negociações, a Rússia e a China assinaram a Declaração sobre o Aprofundamento da Parceria Abrangente na Nova Era e o Plano para o Desenvolvimento da Cooperação Econômica até 2030, e mais doze documentos.
Incluindo um protocolo de fortalecimento da cooperação em pesquisa científica fundamental, um programa de cooperação na construção de reatores nucleares, um acordo de cooperação na produção de programas conjuntos de TV, e outros memorandos de entendimento em vários campos.
Foram fixados 8 pontos básicos da cooperação econômica russo-chinesa em um futuro próximo, segundo o jornal Komsomolskaya Pravda.
O primeiro é o crescimento da escala e otimização da estrutura do comércio por meio de ferramentas eletrônicas e inovadoras. O segundo é a melhoria da logística para o desenvolvimento do comércio bilateral (novas pontes sobre o Amur, novas rotas).
O terceiro é o crescimento da cooperação financeira (o uso de moedas nacionais no comércio bilateral, investimento, empréstimos). A Rússia anunciou a disposição de utilizar o yuan em suas transações comerciais com países da América Latina, África e Ásia. O uso das moedas nacionais no comércio bilateral Rússia-China já atingiu 65% do total.
O quarto ponto é o desenvolvimento de projetos de energia (NPPs) e a garantia de segurança energética mútua e global (o gasoduto Poder da Sibéria-2 – por ano 50 bilhões de metros cúbicos de gás). Como salientou Putin, a Rússia já se tornou o principal fornecedor de petróleo da China e o quarto em termos de gás natural liquefeito.
Quinto, o aumento da oferta de fertilizantes e produtos da indústria química. O sexto é a intensificação da cooperação no desenvolvimento de tecnologias e inovações (espaço, aviação, AI, reatores nucleares, indústria automobilística). Entre esses projetos, a base lunar conjunta.
Sétimo – elevar o nível de cooperação industrial. Oitavo – projetos conjuntos na agricultura e no agrocomplexo (aumento da oferta de carnes, laticínios e grãos para a China). Oitavo – crescimento do comércio bilateral até 200 bilhões de dólares este ano.
“NOVA ERA”
Em entrevista à Sputnik, Kiyul Chung, editor-chefe da revista 4ª Midia e professor visitante da Universidade de Tsinghua, disse que a reunião do presidente russo, Vladimir Putin, e seu colega chinês, Xi Jinping, em Moscou, deve inaugurar mudanças geopolíticas dramáticas, mudando o foco da hegemonia unilateral para uma ordem mundial mais cooperativa, igualitária e democrática.
Kiyul destacou três principais conclusões da reunião: primeiro, os dois líderes deixaram claro que a chegada do “mundo multipolar” agora é “irreversível”.
“Em segundo lugar, eles iniciaram o processo de mudança tectônica da ‘ordem mundial unipolar’ colonial, ditatorial e imperial lider [20:21, 22/03/2023] +55 11 95305-0193: ada pelo Ocidente para um mundo multipolar baseado no respeito mútuo, coexistência pacífica e coprosperidade”.
Em terceiro lugar, Xi e Putin expressaram preocupações crescentes com as ações bélicas dos EUA e da Otan, abrangendo “atividades biológicas militares”; o “desenvolvimento de potencial em armas não nucleares precisas para conduzir um ataque de desarmamento” dos EUA e “aspiração para implantar mísseis terrestres” de vários tipos na Europa e na Ásia-Pacífico; e, finalmente, o reforço militar dos EUA no Ásia-Pacífico no âmbito do pacto AUKUS que inclui o reforço das forças armadas australianas com submarinos de ataque nuclear.
Fonte: Papiro