Xi e Putin brindam à amizade entre os povos | Foto: Pavel Byrkin/Sputnik

Em visita de três dias à Rússia, o presidente chinês, Xi Jinping, convidou seu anfitrião, o presidente Vladimir Putin, para viajar à China ainda este ano. Na terça-feira (21), os dois líderes voltaram a se reunir no Kremlin, com a presença das respectivas delegações. As duas nações reiteraram seu compromisso de construir um mundo multipolar e fortalecer suas relações, descritas como uma “parceria estratégica”.

Xi disse que espera que Putin esteja na China ainda este ano para o terceiro Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional, evento de que já participou em 2017 e 2019. O Cinturão e Rota é a principal iniciativa da China para investimentos em infraestrutura de outras nações, com o objetivo de impulsionar o comércio internacional.

Putin tem enfatizado que desfruta do “relacionamento mais caloroso” com Xi, em uma parceria entre países que “se fortalece consistentemente” e atingiu “o nível mais alto de sua história”. Segundo Xi, estreitar os laços com a Rússia é “uma escolha estratégica que a China fez com base em seus próprios interesses fundamentais e nas tendências predominantes no mundo”.

A delegação russa incluía o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, o ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov, o embaixador russo na China Igor Morgulov, o ministro da Defesa Sergey Shoigu, a governadora do Banco Central Elvira Nabiullina, o diretor do Serviço Federal para Cooperação Técnico-Militar, Dmitry Shugayev, e o CEO da Roscosmos, Yury Borisov.

Acompanhavam o presidente Xi, entre outros, Wang Yi, o diplomata de mais alto escalão da China; o ministro das Relações Exteriores Qin Gang; e Cai Qi, diretor do Escritório Geral do Comitê Central do Partido Comunista Chinês.

“COORDENAÇÃO E COOPERAÇÃO”

“Graças aos nossos esforços comuns, a confiança política entre nossos países está se aprofundando, os interesses comuns estão se multiplicando”, disse Xi Jinping nas conversações. “Proponho fortalecer a coordenação e a colaboração para agregar valor adicional à cooperação prática. Senhor presidente, estou pronto para delinear com o senhor um plano de desenvolvimento das relações bilaterais e da cooperação prática no interesse da prosperidade e do renascimento da China e da Rússia”, disse o presidente chinês.

“Praticamente todos os parâmetros do projeto do gasoduto Força da Sibéria 2, através da Mongólia, foram acertados”, destacou o presidente russo.“São 50 bilhões de metros cúbicos de gás – de suprimentos confiáveis e estáveis da Rússia”, disse Putin.

Ainda na área de energia, estão avançando projetos conjuntos – Yamal LNG, Arctic LNG 2, planta gás-química do Amur e complexo de processamento de gás em Ust-Lug.

No complexo agroindustrial, a Federação da Rússia e a República Popular da China apoiam o projeto Novo Corredor de Grãos Terrestres, que garantirá o fornecimento de grãos, culturas de grãos e petróleo das regiões da Sibéria e do Extremo Oriente da Rússia para o mercado chinês, e que reforçará a segurança alimentar do grande país vizinho.

“Somando nosso rico potencial cientifico e capacidades de produção, a Rússia e a China podem se tornar líderes mundiais em tecnologias da informação, segurança de rede e inteligência artificial”, assinalou o líder russo.

A desdolarização é parte intrínseca do processo de constituição de uma ordem mundial multilateral e Putin disse nas conversações que Moscou apoia o uso do yuan chinês nas transações entre a Rússia e países da Ásia, África e América Latina. “Tenho certeza de que essas formas de pagamentos se desenvolverão entre parceiros russos e colegas de países terceiros em yuans”.

Ele também observou que é necessário incentivar ainda mais a prática de acordos mútuos entre a Rússia e a China em moedas nacionais. Putin acrescentou que dois terços do volume de negócios entre a Rússia e a China é realizado em moedas nacionais.

A Rússia, ele acrescentou, está pronta para ajudar as empresas chinesas a substituir as empresas ocidentais que saíram sob as sanções decretadas pelos EUA.

MEDIAÇÃO PELA PAZ

O presidente russo disse estar “aberto” as negociações de paz com a Ucrânia e aos esforços de mediação da China, cujo plano de 12 pontos considerou “equilibrado”.

“Acreditamos que muitas das disposições do plano de paz apresentado pela China estão em consonância com a posição russa e podem ser tomadas como base para um acordo pacífico quando estiverem prontas para isso no Ocidente e em Kiev. No entanto, até agora não observamos tal prontidão da parte deles”, afirmou Putin.

“Agradecemos a postura equilibrada sobre os eventos na Ucrânia adotada pela RPC, bem como sua compreensão de seus antecedentes históricos e causas profundas”.

“A crise na Ucrânia, que foi provocada e está sendo diligentemente alimentada pelo Ocidente, é a manifestação mais marcante, mas não a única, de seu desejo de manter seu domínio internacional e preservar a ordem mundial unipolar”, enfatizou o líder russo.

Putin advertiu ainda que a Otan “está se esforçando para um alcance global de atividades e buscando penetrar na Ásia-Pacífico”. É óbvio – acrescentou – que existem forças trabalhando persistentemente “para dividir o espaço comum da Eurásia em uma rede de ‘clubes exclusivos’ e blocos militares que serviriam para conter o desenvolvimento de nossos países e prejudicar seus interesses. Isso não vai funcionar”.

Antes que haja qualquer mediação, o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, já declarou “inaceitável” qualquer pedido de cessar-fogo.

ESTABILIDADE MUNDIAL

“O trabalho conjunto de política externa de Moscou e Pequim desempenha um papel fundamental para garantir a estabilidade global e regional”, afirmou Putin. “A China e a Rússia são os garantidores da segurança em muitos países. Em particular, imediatamente após a expulsão dos americanos do Afeganistão, os líderes chineses e russos discutiram “ameaças de terrorismo e tráfico de drogas provenientes do território do Afeganistão”. Putin e Xi concordaram em intensificar os trabalhos da Organização do Tratado de Xangai e em outros fóruns, como os BRICS.

Porta-vozes do mundo unipolar sob as regras de Washington tentaram minimizar a relevância da reunião Xi-Putin. “O principal líder da China reafirmará sua parceria ‘ilimitada’ com um pária global”, registrou a CNN, fazendo eco da provocação cometida nas vésperas da viagem pelo TPI. O que contrasta com a observação da publicação indiana The Print de que “Xi agendou sua visita a Moscou no 20º aniversário da Guerra do Iraque por uma razão”. A razão, como se sabe, é que essa guerra fabricada por W. Bush, com a farsa de Colin Powell diante da ONU, o bombardeio ‘choque e pavor’, o ‘sangue por petróleo’, os milhões de iraquianos mortos ou deslocados, as inexistentes armas de destruição em massa de Saddam, o massacre em Faluja, a tortura e sevícia em Abu Graib, a “solução El Salvador”, isto é, esquadrões da morte para explodir mesquitas e dividir a resistência, os jagunços da Blackwater, o assassinato colateral denunciado por Assange, são a cara escarrada da ordem unipolar sob Washington.

AMIGOS

Putin e Xi estão unidos não apenas por laços econômicos, mas por uma visão comum da história mundial. Os líderes mundiais têm uma diferença de idade de apenas seis meses. Seus pais lutaram na Segunda Guerra Mundial, escreve o portal norte-americano Politico.

O relacionamento dos dois líderes começou em 2013, quando Xi Jinping conheceu Putin na cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) em Bali. E aconteceu – simbolicamente – no aniversário de Putin.

BRINDE

Segundo o próprio Putin, Xi Jinping o presenteou com um bolo, enquanto o líder russo tirou uma garrafa de vodca para um brinde. Os dois líderes então relembraram. Seguiu-se uma viagem a Pequim, onde Xi Jinping presenteou Putin com a primeira medalha chinesa de amizade.

“Ele é meu melhor e mais próximo amigo”, disse Xi na época. E a posição do líder chinês permanece inalterada há anos: nenhuma calúnia ocidental contra Putin pode abalar a verdadeira amizade.

Fonte: Papiro