França mantém protestos e greves contra o esbulho de Macron às aposentadorias
Os protestos contra o ataque de Macron à Previdência não diminuíram e o uso pelo governo francês do artigo 49.3 – através do qual excluiu a Assembleia Nacional do processo decisório sobre o projeto – e sancionar o aumento da idade mínima para a aposentadoria de 62 para 64 anos levaram a mais indignação entre os franceses. Na segunda-feira (20), quando foram votadas duas moções de censura contra o Governo, ambas rejeitadas, milhares voltaram às ruas, houve estradas bloqueadas, transportes interrompidos.
O repúdio contra a insistência em forçar mudanças no sistema mesmo com 70% da população contra essa reforma se mantém e se expande a mais regiões do país.
Ao sul da cidade de Rennes, o acesso ao depósito de petróleo de Vern-sur-Seich está bloqueado, segundo Eric Sellini, coordenador do ramo petrolífero da Confederação Geral dos Trabalhadores, enquanto em Caen, na Normandia, o anel viário teve que ser parcialmente fechado devido a uma manifestação.
Perto de Boulogne-sur-Mer (Pas-de-Calais), no norte do país, centenas de manifestantes com bandeiras da Confederação Geral do Trabalho (CGT), bloqueiam os três acessos ao parque empresarial Inquétrie.
Em várias áreas do país existem postos de gasolina que ficaram sem nenhum tipo de combustível: até 17% no departamento de Marselha, 4% nacionalmente.
PARIS
Já em Paris, milhares de pessoas saíram às ruas em manifestação pacífica que derivou em choques com a polícia que tentou impedir que as pessoas se aproximassem da Assembleia Nacional. Nos confrontos, os manifestantes atearam fogo em latas de lixo e atiraram pedras e garrafas contra os policiais. Por sua vez, os agentes usaram gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Mais de 100 pessoas foram detidas.
A greve na coleta de lixo já dura duas semanas consecutivas em metade dos 20 bairros de Paris onde é administrada por um serviço municipal (na outra metade empresas subcontratadas continuaram trabalhando), mas há milhares de toneladas de lixo na rua.
Várias centenas de estudantes da parisiense Universidade Sorbonne decidiram, na segunda-feira, ocupar o campus Tolbiac para denunciar a reforma previdenciária e o uso do Artigo 49.3 pelo governo.
GREVE GERAL
Por apenas nove votos, Macron conseguiu uma sobrevida diante da votação por censura no Parlamento, nesta segunda-feira (20).
O voto de desconfiança contra o governo alcançou 278 dos 287 votos necessários e a oposição anunciou a continuidade das mobilizações contra o aumento da idade mínima de 62 para 64 anos depois que o governo insistiu em forçar mudanças no sistema sem o aval da Assembleia Nacional. Se a moção de censura do governo da primeira-ministra Élisabeth Borne fosse aprovada, a mais do que impopular reforma da Previdência também seria descartada, a premiê seria afastada e Macron forçado a convocar eleições.
Todos os sindicatos convocaram para a próxima quinta-feira (23) mais um dia geral de greves e manifestações, o nono desde o início do movimento contra a reforma da Previdência.
“GOVERNO SAIU ENFRAQUECIDO”
“O Governo saiu muito enfraquecido depois dessa votação. A moção de censura não foi apoiada pela maioria, faltaram apenas nove votos para a sua aprovação. Mas o Governo esperava ter mais apoio. Eles [o Gabinete] têm uma má ideia do que está acontecendo no estado e o que os franceses querem”, declarou Marine Le Pen, líder do grupo parlamentar do partido de direita Rassemblement National (Agrupamento Nacional), à rádio Europe 1.
As autoridades “não têm piedade dos franceses”, denunciou, uma vez que decidiram fazer a reforma das pensões num período em que a população luta contra os aumentos de preços e a inflação.
Os partidos de oposição pretendem continuar a luta contra a lei da reforma previdenciária e declararam que se dirigirão ao Conselho Constitucional da França, esperando que se encontre nesse documento uma violação das normas da Carta Magna do país.
O Conselho pode decretar a falta de correspondência com a Constituição de um projeto de lei que, imediatamente após sua aprovação, tenha sido contestado e ainda não tenha entrado em vigor.
Fonte: Papiro