Xi Jinping e Vladimir Putin se encontram no Kremlin | Foto: Presidência da Rússia

Durante sua estada de três dias (de 20 a 22) o presidente chinês conversará com o presidente Vladimir Putin acerca do desenvolvimento da parceria e cooperação entre a China e a Rússia, e os passos para um mundo verdadeiramente soberano e multilateral. A data do encontro coincide com o início da invasão do Iraque pelos EUA, à revelia da ONU e da lei internacional.

Esta visita é sua primeira viagem ao exterior após sua reeleição para o cargo de chefe de Estado da China para um terceiro mandato. As conversas informais no Kremlin duraram 4:30.

Ao chegar ao aeroporto de Vnukovo, em Moscou, o líder chinês publicou sua declaração por escrito. “Em nome do governo e do povo chinês, dirijo sinceras saudações e os melhores votos ao governo e ao povo da Rússia.”

“Durante estes dez anos, os laços bilaterais foram fortalecidos e desenvolvidos com base no não alinhamento, não confrontação e não direcionalidade contra terceiros, criando um novo modelo de relações intergovernamentais no espírito de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação mutuamente benéfica”, destacou Xi.

Para o líder chinês, o avanço das relações sino-russas não só “traz benefícios consideráveis para os povos dos dois países, mas também dá uma contribuição significativa para o progresso do mundo em geral”.

“Em um mundo muito intranquilo, a China está pronta para defender resolutamente com a Rússia um sistema internacional centrado na ONU, proteger uma ordem mundial baseada no direito internacional e nas normas fundamentais das relações internacionais, com base nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, seguir um multilateralismo genuíno, promover a multipolaridade no mundo e a democratização das relações internacionais, favorecer o desenvolvimento da governança global em uma direção mais justa e racional.”

“Tenho certeza que a visita será frutuosa e dará um novo impulso para o desenvolvimento saudável e estável das relações sino-russas de parceria abrangente e interação estratégica numa nova era.”

COMÉRCIO MAIS QUE DOBROU

Ao receber o presidente Xi no Kremlin, o líder russo destacou que passos significativos no desenvolvimento das relações entre a Rússia e a China foram dados nos últimos dez anos, o volume de negócios mais do que dobrou, agora equivale a US $ 185 bilhões de dólares.

“A China fez um avanço colossal nos últimos anos, isso desperta um interesse genuíno em todo o mundo, nós até invejamos vocês um pouco”, declarou o presidente Putin.

Ele disse que tivera o prazer de felicitar pessoalmente o líder da China pela sua reeleição para o cargo de chefe da República Popular da China e expressou confiança que, sob a presidência de Xi Jinping, a China fará progressos ainda maiores.

“É simbólico que exatamente dez anos atrás nos encontramos – o senhor fez sua primeira visita como presidente da República Popular da China à Rússia. Durante esse período, demos passos significativos no desenvolvimento de nossas relações”, disse Putin na reunião com o presidente Xi.

SISTEMA MUITO EFICAZ

Putin assinalou que a China deu um tremendo salto em seu desenvolvimento. Segundo ele, a China criou “um sistema muito eficaz para desenvolver a economia e fortalecer o Estado”.

O presidente russo disse acreditar que interação entre a Rússia e a China na arena internacional contribui para fortalecer os princípios fundamentais da ordem mundial e da multipolaridade.

“Eu sei que você, pessoalmente, e todos os nossos amigos chineses prestam muita atenção ao desenvolvimento das relações sino-russas, assumem uma posição justa e equilibrada sobre a maioria das questões internacionais mais urgentes.” Putin acrescentou que “temos muitas tarefas e objetivos conjuntos”.

“O lado chinês presta grande atenção ao desenvolvimento das relações sino-russas, porque isso tem sua própria lógica histórica, já que somos os maiores países vizinhos, somos parceiros em cooperação estratégica abrangente. É precisamente esse status que determina que deve haver relações estreitas entre nossos países”.

Além disso, Putin declarou que estudou atentamente o plano da China para solucionar conflito com Ucrânia. “Nós estudamos com atenção suas propostas de regulação da grave crise na Ucrânia. Teremos oportunidade de falar sobre isso.”

Na véspera da viagem, jornais dos dois países publicaram cartas assinadas pelos respectivos chefes de Estado.

“O mundo hoje está passando por profundas mudanças não vistas em um século”, escreveu Xi em um artigo publicado no domingo pelo jornal Rossiyskaya Gazeta. “A tendência histórica de paz, desenvolvimento e cooperação ganha-ganha é imparável. As tendências predominantes de multipolaridade mundial, globalização econômica e maior democracia nas relações internacionais são irreversíveis”.

Xi observou que o mundo enfrenta “desafios de segurança tradicionais e não tradicionais”, bem como “atos prejudiciais de hegemonia, dominação e intimidação”. Ele acrescentou que os países de todo o mundo estão “ansiosos para encontrar uma saída cooperativa para a crise”, enquanto tentam passar por uma “longa e tortuosa recuperação econômica global”.

“UM MUNDO UNIDO E PACÍFICO”

A comunidade internacional reconheceu que nenhum país é superior a outro, nenhum modelo de governo é universal e nenhum país deve ditar a ordem internacional. “O interesse comum de toda a humanidade é um mundo unido e pacífico, em vez de dividido e volátil”.

Em artigo publicado pelo jornal chinês Diário do Povo, Putin fez uma retrospectiva do desenvolvimento de sua cooperação com o atual líder chinês. Eles se encontraram mais de 40 vezes em vários formatos nos últimos dez anos.

“Sei que a China dá grande importância à amizade e às relações humanas. Não é por acaso que o sábio Confúcio disse: ‘É uma alegria quando um amigo vem de longe!’ Nós na Rússia também valorizamos muito essas qualidades, para nós um verdadeiro amigo é como um irmão de sangue. Nossos povos são muito parecidos nisso.”

A meta de 200 bilhões de dólares americanos em volume anual de comércio russo-chinês, que na verdade estava definida para 2024, já será alcançada e superada este ano, destacou Putin. A proporção do comércio liquidado em moedas nacionais também crescerá.

Sobre o conflito na Ucrânia, agradeceu à “linha equilibrada” de Pequim, salientando que a China “não ignore a história e as verdadeiras causas dos eventos”. A disposição chinesa de participar construtivamente na resolução do conflito – acrescentou – “é bem-vinda em Moscou”.

“Como nossos amigos chineses, defendemos a adesão estrita à Carta da ONU e o respeito ao direito internacional, incluindo o direito humanitário. Estamos comprometidos com o princípio da indivisibilidade da segurança, que é flagrantemente violado pelo bloco da Otan. Estamos profundamente preocupados sobre ações irresponsáveis e francamente perigosas que podem minar a segurança nuclear global. Não aceitamos as sanções unilaterais ilegais que devem ser suspensas”, sublinhou Putin.

CANAIS DIPLOMÁTICOS

Rússia está pronta para resolver a crise na Ucrânia por meio dos canais diplomáticos, escreve Vladimir Putin, lembrando que não foi Moscou que interrompeu as negociações de paz em abril de 2022. As perspectivas de negociação dependem apenas da vontade de encetar “conversações sérias” que tenham em conta as novas realidades geopolíticas. Infelizmente, as “exigências finais” dirigidas à Rússia não deixaram motivos para otimismo. Eles mostraram que o outro lado não estava interessado em encontrar uma saída para a situação.

Putin lembrou aos leitores chineses que a “crise provocada pelo Ocidente e cuidadosamente alimentada na Ucrânia” está longe de ser a única expressão de seu desejo de manter a ordem mundial unipolar e seu domínio. O próximo ponto problemático – apontou – “está na região da Ásia-Pacífico. Graças às sólidas relações russo-chinesas, a intenção de provocar uma divisão em blocos aqui também falhará”.

Fonte: Papiro