Deputados erguem cartazes e entoam a Marselhesa quando a premiê Borne defendeu o achaque às aposentadorias | Vídeo

Por apenas nove votos, Macron conseguiu uma sobrevida diante da votação por censura no Parlamento nesta segunda-feira (20), enquanto as marchas e greves contra o seu assalto aos direitos previdenciários dos franceses seguem por todo o país.

O voto de desconfiança contra o governo alcançou 278 dos 287 votos necessárias e a oposição anunciou a continuidade das mobilizações contra o aumento da idade mínima de 62 para 64 anos depois que o governo insistiu em forçar mudanças no sistema sem o aval da Assembleia Nacional. Se a moção de censura do governo da primeira-ministra Élisabeth Borne fosse aprovada, a mais do que impopular reforma da Previdência também seria descartada, a premiê seria afastada e Macron forçado a convocar eleições.

“A França vive uma grande crise parlamentar e política e, obviamente, a poderosa mobilização social durante dois meses pesou enormemente nas posições dos deputados. Eles entenderam o quanto o mundo do trabalho e a maioria popular rejeitam essa brutal e injusta reforma previdenciária”, afirmou Nathalie Verdeil, dirigente da Confederação Geral dos Trabalhadores, convocando uma nova greve geral para a próxima quinta-feira (23).

O fato de Macron e da primeira-ministra Elisabeth Borne não conseguirem garantir a maioria na Assembleia Nacional para a sua insensatez é resultado das crescentes mobilizações desde o dia 19 de janeiro.

Conforme a mídia francesa, o governo escapou por um triz, mas ainda terá de se enfrentar com a ira da sociedade, com 95% dos trabalhadores contrários à medida.

“O fato é que quando não se quer votar, há riscos democráticos e hoje o casal executivo se vê encurralado”, assinalou Nathalie Verdeil.

“Reitero meu apelo ao presidente: retire esta lei, não a promulgue. Isso acalmaria as coisas”, declarou o líder da Confederação Francesa Democrática do Trabalho, Laurent Berger, que acusou Macron “responsável pelo que acontecer”.

Numa expressão da revolta popular na França, cartazes erguidos durante os protestos lembravam os acontecimentos que atingiram o pescoço de Luis XVI e pediam guilhotina para Macron.

Uma pesquisa divulgada pela Elabe apontou que 68% dos entrevistados queriam que o voto de desconfiança fosse aprovado, 68% achavam que Borne deveria renunciar se a moção fosse rejeitada e 69% acreditavam que usar a medida constitucional ditatorial, chamada Artigo 49.3 – usada para não debater com os parlamentares -, era uma negação da democracia.

No dia seguinte à recusa do governo em submeter o texto à votação, recorrendo ao artigo 49.3, a grande maioria da população já havia se posicionado contra e pela continuação do movimento (pesquisa Harris Interactive).

De acordo com a Instersindical, além de dificultar as aposentadorias, as alterações propostas por Macron afetarão negativamente os idosos, as mulheres, os funcionários do setor público e as pessoas com salários mais baixos, tudo para beneficiar as grandes empresas.

Diante do escárnio, as refinarias do país permanecem paralisadas há duas semanas, enquanto o lixo se acumula em montanhas por toda a capital. Os trabalhadores do transporte e os professores também se somaram ao movimento e várias categorias anunciaram que estarão unidos na quinta-feira. Para enfrentar o protesto, o governo tem usado cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, levando centenas de manifestantes ao cárcere.

Fonte: Papiro