Credit Suisse foi comprado pelo UBS no começo da manhã desta segunda | Foto: Busness News

Em pleno domingo o maior banco suíço, o UBS, anunciou a compra do segundo maior banco do país e um dos maiores da Europa, o Credit Suisse, pela irrisória soma de US$ 3,25 bilhões, em uma troca de ações, após o Conselho Federal Suiço mudar a legislação para permitir a fusão sem a aprovação dos acionistas e depois do BC suíço garantir ao USB suporte de até US$ 280 bilhões de liquidez.

Na mesma operação, US$ 17 bilhões em títulos de risco A1 do Credit foram apagados e não valem mais nada.

É o segundo domingo consecutivo de fortes emoções no sistema financeiro global, com as autoridades suíças freneticamente buscando uma saída antes da abertura das bolsas nesta segunda-feira, dia 20, “desesperadas para evitar que o colapso se espalhasse pelo sistema financeiro global na segunda-feira (20)”, de acordo com a CNN. O Credit Suisse tem 167 anos de existência.

Como registrou o portal Zero Hedge na véspera, “a situação no CS é tão terrível que uma solução precisa ser encontrada antes da abertura de segunda-feira (20 de março). O banco não pode sobreviver em sua forma atual”.

O UBS e o Credit Suisse estão entre os 30 bancos mais importantes do sistema financeiro global, totalizando quase US$ 1,7 trilhão em ativos.

Ao anunciar o acordo, o presidente da Suiça, Alain Berset, disse que era “um grande passo para a estabilidade das finanças internacionais”. “Um colapso descontrolado do Credit Suisse traria consequências incalculáveis para a Suíça e para todo o sistema financeiro internacional”, admitiu.

“Essa aquisição foi possível com o apoio do governo federal suíço, da Autoridade Supervisora do Mercado Financeiro Suíço e do Banco Nacional Suíço”, acrescentou o BC. As negociações também envolveram até consultas ao Federal Reserve e ao Banco Central Europeu (BCE).

Os acionistas do Credit Suisse receberão apenas 1 ação do UBS por cada 22,5 ações do Credit Suisse que possuem. “É um dia histórico, triste e muito desafiador para o Credit Suisse, para a Suíça e para os mercados financeiros globais”, disse o presidente do Credit Suisse, Axel Lehmann.

“É um dia histórico. Na Suíça é um dia que, francamente, esperávamos que não viesse”, disse o presidente do USB, Colm Kelleher. O UBS decidiu suspender a recompra de ações, mas manterá a distribuição de dividendos. Também irá eliminar o setor de banco de investimento do Credit. Na crise financeira global de 2008, havia sido UBS o resgatado.

A previsão é de que haverá um grande número de demissões, já que os dois bancos se sobrepõem em muitas áreas. O Credit Suisse tem 50 mil funcionários, 17 mil dos quais estão na Suíça.

AUMENTA A MONOPOLIZAÇÃO

Outra consequência é o agravamento da monopolização do sistema bancário, com todas as suas mazelas. A fusão pode vir a transformar o UBS no maior gestor de patrimônio do mundo, com trilhões em ativos totais investidos, mas há temor sobre a ‘saúde’ dos ativos do Credit Suisse adquiridos.

“Um problema é que o preço informado de US$ 3,24 bilhões equivale a aproximadamente apenas 4% do valor contábil e cerca de 10% do valor de mercado do Credit Suisse no início do ano. Isso sugere que uma parte substancial dos ativos de US$ 570 bilhões [valor face] do Credit Suisse pode ser prejudicada ou percebida como estando em risco de se tornar prejudicada. Isso pode desencadear um nervosismo renovado sobre a saúde dos bancos”, disse Neil Shearing, economista-chefe do grupo Capital Economics, à CNBC.

Em paralelo, o Fed, o BCE, o Banco Nacional Suiço, o Banco do Canadá, o Banco da Inglaterra e o Banco do Japão anunciaram uma ação coordenada para aumentar o fornecimento de liquidez por meio de acordos permanentes de linha de swap de liquidez em dólares americanos, cuja frequência passará de semanal para uma diária nervosa.

Os swaps diários, que começam nesta segunda-feira e se estendem pelo menos até o final de abril, “servirão como um importante suporte de liquidez para aliviar as tensões nos mercados globais de financiamento”, disse o Fed em um comunicado. Haja ‘alívio’.

Na frente interna, o Fed adicionou vultosos US$ 297 bilhões ao seu balanço de ativos desde a sexta-feira passada, marcando a volta ao Quantitative Easing, ou seja, a impressão de uma montanha de dinheiro, despejada no sistema financeiro que teve início com o colapso do Silicon Valley Bank (SVB).

Dados oficiais mostram ainda que, de lá para cá, os bancos norte-americanos pegaram US$ 152.9 bilhões em crédito a juros descontados do Fed, a fim de impedir novas corridas bancárias. Também pegaram emprestado US$ 11,9 bilhões do novo Programa de Financiamento Bancário (BTFP), que exige como contrapartida títulos do Tesouro. US$ 142.8 bilhões foram emprestados para os novos ‘bancos pontes’ criados pelo órgão regulador norte-americano, o FDIC, que substituem os falidos SVB e Signature Bank.

ESTADO TERMINAL

O Credit ficou em uma situação terminal na semana passada, após admitir “fragilidades” no quarto trimestre e pesadas perdas (US$ 7,9 bi) em 2022, enquanto o maior acionista, o Banco Nacional Saudita, declarou que não haveria novo aporte de capital ao buraco sem fundo, dias após a segunda e a terceira maiores falências de banco da história dos EUA.

Nem mesmo um empréstimo de emergência do Banco Nacional Suiço, o BC de lá, de US$ 54 bilhões, conseguiu deter a sangria, vista como um desdobramento do colapso de Silicon Valley Bank e do Signature Bank do outro lado do Atlântico.

O valor de mercado do Credit despencara para US$ 8 bi no fechamento na sexta-feira e acabou ‘resgatado’ no domingo por 40% disso. A certa altura, os correntistas estavam retirando mais de US$ 10 bilhões por dia, segundo o Financial Times.

Fonte: Papiro