Militares israelenses da reserva em protesto conjunto no bairro de Bnei Brak, Tel Aviv | Foto: Tomer Appelbaum/Haaretz

“O passo de maior impacto que posso dar é não aparecer na base do meu esquadrão esta semana e tomar parte nos protestos”. Escreveu um dos pilotos da reserva em mensagem por twitter. Referindo-se ao ataque ao Poder Judiciário, enfatizou que “as próximas duas semanas são críticas”.

Junto com ele, 180 pilotos, de um total de 250 integrantes da reserva da força aérea israelense tomaram esta atitude para expressar seu profundo desacordo com o golpe parlamentar que Netanyahu e sua coalizão fascista puseram em andamento para formar um governo ditatorial através da anulação do poder Judiciário, entre outras intervenções a exemplo do projeto de total controle sobre a Comissão Eleitoral que – se esse rolo passar – dirá quem pode e quem não pode se candidatar em Israel sob o mando da Coalizão judaico supremacista de ultradireita.

Assim que souberam da decisão dos integrantes da força aérea, outros 1.300 militares da reserva firmaram uma carta aberta afirmando: “Damos o total apoio aos nossos companheiros pilotos e membros da tripulação em sua decisão de não comparecerem esta semana aos treinamentos. Isto é só o começo”.

“Chamamos o primeiro-ministro e o ministro da Defesa a pararem com o colapso, a fazerem tudo o que for possível para pôr fim a essa espiral e a arquivarem as leis ditatoriais”.

Junto aos integrantes da força aérea, outros 650 integrantes dos serviços de inteligência militar também se declararam em ausência das atividades.

Aqui é bom salientar que os militares da reserva, no sistema israelense, seguem como parte da força ativa desde o momento em que passa à condição de reservista até completar os 60 anos de idade. Estes reservistas fazem treinamento e participam de ações militares pelo menos um mês durante cada ano. Quando se trata dos pilotos, o treinamento ocorre uma vez por semana durante todos os estes anos, para mantê-los em condição de combate. Portanto, a manifestação dos reservistas que, nesta condição podem se colocar como civis, é no caso israelense uma manifestação de uma parcela integrada ao todo do sistema militar e, ao mesmo tempo, demonstra um comportamento de protesto nunca antes presenciado nestas dimensões no interior da força armada do país.

Outro reservista mandou mensagem ao seu comandante por WhatsApp: “Infelizmente não poderei vir esta quinta-feira. Estou indo ao Knesset [parlamento israelense] para lutar por democracia. Shabat Shalom [Sábado de Paz]”.

Um terceiro reservista deixou claro em sua mensagem pública: “Acabo de noticiar ao comandante de minha unidade que não irei a minha base e não estarei disponível se de mim necessitarem. Depois que entendi que o governo não quer deter a blitz legislativa, estou dedicando meu tempo e esforços lutando na guerra pela democracia”.

Apesar de alertar as “Forças de Defesa de Israel não operar com plenitude sem o espírito dedicado dos reservistas” o chefe do Estado Maior israelense, Herzl Halevi, falando em uma cerimônia na Universidade de Tel Aviv, nesta quinta-feira, declarou seu “grande apreço” pelos reservistas e que eles podem contar com seu “total apoio”.

A tensão se elevou ao ponto de o próprio Netanyahu ter feito uma ligação desesperada para o chefe do Estado Maior, durante reunião do seu gabinete, para chama-lo a “lutar contra esta onda de recusas”, ressaltando que “não há espaço para o discurso público de recusa”.

O ex-chefe do Estado Maior e líder do Partido da Unidade Nacional, Benny Gantz, respondeu: “Netanyahu, a questão não é como o chefe do Estado Maior vai lutar os que se recusam a servir ou como o chefe de polícia vai garantir a ordem pública. O problema e sua recusa em parar com esta guerra fratricida e com sua tentativa de criar anarquia no sistema judicial.

Já o ex-ministro Yair Lapid destacou: “Netanyahu, pare com essa legislação e o chefe do Estado Maior não vai ter que enfrentar os que se recusam a servir. Pare de colocar nos outros a sua reponsabilidade”.

Enquanto a disposição de lutar em defesa da democracia – ou do que foi possível conquistar em termos de liberdades democráticas em um regime especializado em oprimir outro povo -, avança no interior das forças armadas, centenas de milhares voltam a tomar as ruas de Tel Aviv, Jerusalém, Haifa, Herzlia, Netanya, Beer Sheva, Hedera, Kfar Saba e incluindo cidades onde os integrantes da coalizão venceram, a exemplo de Ashdod, onde estes partidos obtiveram 70% dos votos e que agora abrigam atos de milhares de pessoas. Em Or Akiva, outro reduto da direita, houve manifestação pela democracia pela primeira vez.

Foram quase duzentas manifestações espalhadas pelo país neste sábado.

Em Tel Aviv a avenida Kaplan voltou a lotar com centenas de milhares e em Haifa mais de cinquenta mil voltaram às ruas.

Nesta décima-primeira semana consecutiva de protestos, o que se viu foi o crescimento da violência por parte de elementos apoiadores do desgoverno Netanyahu.

Em Tel Aviv, os fascistas atacaram manifestantes usando máscaras e portando bandeiras da organização fascista Lehava (fundada pelo rabino Meir Kahane e banida em Israel).

Perto de Tel Aviv, em Kiriat Ono, um dos delinquentes direitistas disparou um rojão contra os manifestantes.

Em todos os casos a polícia agiu para conter os agressores de direita, como ocorreu em Herzlia onde um homem foi preso depois de jogar seu carro contra manifestantes. Outro foi preso em Givataim por jogar sua moto contra os que protestavam contra o golpe de supressão do Judiciário.

Em Tel Aviv, a surpresa foi o discurso do ex-presidente do Banco de Israel (o BC) durante parte do governo Netanyahu a quem acusou de estar “minando tudo o que foi construído em termos da economia”. Ele acrescentou, dirigindo-se a Netanyahu: “Peço a você que não destrua tudo, pare esta loucura, reconsidere”.

O ex-chefe do Estado Maior, Dan Halutz, falou no ato de Haifa também se dirigindo a Netanyahu: “Você é o único responsável pela presente crise e arcara com a responsabilidade pelo dano à economia e à segurança, por uma sociedade arruinada e por qualquer derramamento de sangue”.

Fonte: Papiro