Multidão ocupou o centro de Paris | Foto: Reprodução

Milhões de franceses tomaram as ruas e praças do país nesta quarta-feira (15) no oitavo dia de rebelião nacional com greves e marchas contra o assalto aos direitos. A “reforma da Previdência” do governo de Emmanuel Macron – em debate no parlamento – aumenta a idade das aposentadorias de 62 para 64 anos e amplia o tempo de contribuição, levando multidões a levantar a voz e cartazes em cidades como Paris, Marselha, Bouchain e Rennes. Até mesmo as pesquisas oficiais reconhecem que a oposição à reforma é superior a dois terços, estampando o isolamento dos neoliberais.

Com a manipulação da mídia pelo governo e pelas empresas interessadas em abocanhar o patrimônio, as fotos das gigantescas manifestações foram substituídas por montanhas de lixo ou serviços de transporte paralisados, sempre responsabilizando os grevistas pelo caos reinante. Da mesma forma, a Tropa de Choque vem sendo constantemente utilizada para reprimir os “agitadores” que conseguiram ampliar a denúncia sobre os impactos negativos da medida para a sobrevivência das famílias e, particularmente, para os mais idosos.

Para a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), a presença de mais de 450 mil pessoas em Paris é uma demonstração de que os franceses não estão dispostos a coonestar o assalto aos direitos. “Esta reforma atingirá duramente a todos os trabalhadores e, em particular, aqueles que começaram cedo, os mais precários, cuja expectativa de vida é menor do que o restante da população e aqueles cujo trabalho árduo não é reconhecido”, condenou.

“PROJETO É A ESCOLHA DO RETROCESSO”

De acordo com a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a medida “agravará a precariedade daqueles que não estão mais empregados antes da aposentadoria e reforçará as desigualdades de gênero”. “Este projeto de governo nada tem de necessidade econômica, é a escolha da injustiça e do retrocesso social”, sublinhou.

Entre os inúmeros setores paralisados ou que reduziram drasticamente a sua produção, encontram-se o de refinarias e centrais energéticas, informou a estatal Eletricidade de França (EDF). A Administração Autônoma de Transportes de Paris reconheceu haver “muitas interrupções” nos serviços entre a capital e os bairros e que cerca de metade dos trens de alta velocidade foi comprometida pela greve.

Na queda de braço entre governo e oposição, a jornada de lutas desta quarta-feira é vista como decisiva, já que deputados e senadores se encontram às vésperas de definir o projeto de lei já na quinta-feira (16).

Enquanto injeta criminosamente mais recursos para a guerra contra a Rússia na Ucrânia, Macron diz que o aumento do tempo de contribuição é chave para evitar o colapso do sistema estatal de aposentadorias e garantir que os mais jovens não assumam a responsabilidade pelas gerações mais velhas.

Denunciando a falácia, a juventude tem se incorporado como um tsunami aos protestos, lembrando que inicialmente Macron também havia alegado que o principal objetivo era “fazer um sistema mais justo”. Agora, o governo já fala em “economizar” e “evitar déficits” nas próximas décadas.

Diante da pressão popular, a avaliação é que a situação está bastante complicada para o governo na Assembleia Nacional, a Câmara Baixa do Parlamento, pois não se sabe se o oficialismo conseguirá reunir os votos para a trapaça. Além da esquerda anunciar que tem seu voto compacto contrário à medida, existem cada vez mais dissidências entre os conservadores, devido às grandiosas manifestações, o que põe em dúvida as probabilidades de aprovação.

Fonte: Papiro