Exaltação ao colaboracionista Stepan Bandera é frequente nas marchas dos nazistas na Ucrânia | Foto: EPA

O chefe da milícia neonazista ucraniana denominada Setor Direita, ou Pravy Sector, Dmytro Kotsyubaylo, foi morto, na terça-feira (7), e novamente exaltado pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Falecido nos embates em torno da cidadela de Bakhmut (entroncamento rodo-ferroviário no epicentro da disputa entre as forças russas e ucranianas na região do Donbass), Dmytro Kotsyubaylo, conhecido como “Da Vinci”, recebeu das mãos de Zelensky, em 2021, a medalha de “Herói da Ucrânia” por chefiar massacres contra a população do Donbass, mantidas sob fogo hostil de Kiev desde 2014.

Agora, Zelensky lamentou a morte do que chamou de “homem-símbolo” e “homem-coragem”, em publicação feita em suas redes sociais.

Kotsyubaylo era um dos líderes do Setor Direita, partido político e milícia armada de extrema-direita que tem inspirações públicas nas ações de Stepan Bandera, que colaborou com os invasores nazistas na Ucrânia durante a 2ª Guerra Mundial.

O Setor Direita foi criado em 2013, inicialmente como um partido político de extrema-direita, e teve participação direta no golpe de estado de 2014, chamado Euromaidan.

No ano de 2014, foi criado o Corpo Voluntário Ucraniano (DUK-PS), que é o braço armado do partido. Desde então, age diretamente no massacre da população russófona do Donbass e na perseguição às organizações que reagiram aos ataques.

A milícia não era parte da organização oficial das Forças Armadas da Ucrânia, mas acordos firmados em 2014 garantiram estrutura, como armas e veículos de guerra, para o Setor Direita, que passou a responder à hierarquia das Forças Armadas, integrando-as, assim como outros grupamentos nazistas, a exemplo do Batalhão Azov.

O grupo participou do massacre em Odessa, em 2014, onde 42 pessoas foram assassinadas por defenderem a aliança entre a Ucrânia e a Rússia. Até hoje, o Estado ucraniano não puniu ninguém envolvido no massacre.

Em Kiev, capital da Ucrânia, o Setor Direita organizou, ao longo dos últimos nove anos, marchas militares para mostrar o poderio da milícia de extrema-direita.

O grupo é publicamente homofóbico. Um antigo líder, chamado Dmytro Yarosh, já denunciou uma suposta “invasão gay” que traria a “decadência moral” da Ucrânia. Em 2014, Yarosh foi eleito deputado, cargo que deixou em 2019.

Além disso, o Setor Direita é radicalmente anticomunista. Na postagem feita lamentando a morte de Kotsyubaylo, o Setor Direita publicou uma foto do miliciano ao lado de um retrato de Stepan Bandera.

O brasão do agrupamento é uma cópia do símbolo da Organização Nacionalista Ucraniana (OUN), que era liderada por Stepan Bandera. Bandera ajudou os nazistas, durante a 2ª Guerra Mundial, a assassinar milhares de poloneses, ucranianos incluindo massacres de judeus, em nome de uma suposta “libertação” da Ucrânia.

Depois do início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o Setor Direita parou de ser chamado como uma milícia neonazista pelos jornais e revistas ligados à União Europeia e aos Estados Unidos.

Em 2022, Dmytro Kotsyubaylo esteve na lista dos 30 jovens de menos de 30 anos mais importantes na “reconstrução da Ucrânia”, produzida pela revista Forbes. A revista diz que ele era “participante da guerra russo-ucraniana desde 2014”, mas nesta época a Rússia sequer tinha participação militar no conflito, mas os ataques à população do Donbass, de maioria de fala russa, já estavam em pleno andamento.

Existem na Ucrânia outras dezenas de organizações neonazistas que ganharam força e projeção na política desde 2014. Uma das mais conhecidas é o Batalhão Azov, que usa como símbolo idêntico ao da 2ª Divisão Panzer Das Reich, organização militar da Alemanha nazista

O Batalhão Azov foi incorporado oficialmente às Forças Armadas da Ucrânia, apesar de falar publicamente em supremacismo branco e outras ideias neonazistas.

Fonte: Papiro