Com o PIB em desaceleração, Lula cobra Campos Neto por taxa de juros
A economia brasileira entrou em ritmo de desaceleração no último trimestre de 2022, registrando queda de 0,2%. O mau desempenho, divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (2), levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a reforçar às críticas à elevada taxa básica de juros (Selic), que é mantida pelo Banco Central em 13,75% desde agosto de 2022.
Sobrou, mais uma vez, para Roberto Campos Neto, o presidente do BC indicado por Jair Bolsonaro (PL). “Esse país tem uma pessoa que foi eleita para presidi-lo. Mesmo assim, essa pessoa não tem autonomia – eu tenho que prestar contas ao Congresso Nacional, à Câmara, ao Senado, ao Tribunal de Contas da União, à sociedade brasileira, aos meios de comunicação, que estão toda hora cobrando. Ora, por que esse cidadão (Campos Neto), que não foi eleito para nada, acha que tem o poder de decidir as coisas?”
Para Lula, o PIB em queda é mais uma razão para a autoridade monetária baixar a Selic. “Qual é a explicação de você ter juros de 13,75% em um país em que a economia não está crescendo?”, questionou o presidente. “Você tem uma economia que não está crescendo, um desemprego e empregos informais em que o trabalhador está ganhando pessimamente mal, porque a massa salarial caiu muito. O crédito está escasseando, logo nós poderemos ter uma crise de crédito – e eu queria uma explicação apenas de por que os juros estão a 13,75%.”
Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, Lula lembrou que, além do combate à inflação, o Banco Central também tem compromisso com o nível de emprego e a atividade econômica. Por isso, o temor inflacionário alegado por Campos Neto não pode justificar, sozinho, a taxa abusiva de juros.
“Não posso é ser leviano e dizer coisas que não sejam verdadeiras. Estou dizendo a máxima verdade: não existe explicação para a taxa de juros ser 13,75%”, declarou. “Não existe excesso de consumo, não existe inflação de consumo neste país, a economia não está crescendo, o povo não está comendo. Então não tem nenhuma razão de juros altos. Apenas isso.”
Antes da entrevista de Lula, os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) também associaram o recuo do PIB à taxa de juros. “Não estamos trabalhando com perspectiva de recessão – mas evidentemente a manutenção desse patamar nas taxas de juros desencadeia uma desaceleração da economia”, afirmou Haddad.
Tebet disse que o governo aguarda um “sinal positivo” do Banco Central, que avalia a próxima taxa básica de juros nos dias 21 e 22 de março, em reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). “Estamos fazendo o dever de casa”, disse a ministra. “Consequentemente, é possível um gesto (do Banco Central). Não queremos nenhuma generosidade – mas um gesto positivo a favor do Brasil na próxima reunião do Copom.”