Dinheiro para a guerra acabaria com a fome no mundo
Os US$ 120 bilhões em entrega de armas e ajuda financeira para a guerra na Ucrânia equivalem a três vezes mais do que a ONU estima ser necessário para acabar com a fome no mundo a cada ano. Desses, menos de 5% são recursos destinados a ajuda humanitária na Ucrânia, pois o resto é tudo destinado a armamentos e salários para manter a disposição do governo Zelensky para a guerra.
Com US$ 40 bilhões por ano até 2030, a comunidade internacional erradicaria a insegurança alimentar em países como Somália, Burundi, Comores, Sudão do Sul, Síria, Iêmen, África Central, Chade, Congo e Madagáscar, os mais alarmantes, segundo o Índice Global da Fome de 2021. O destaque foi dado pelo colunista do UOL, Jamil Chade.
Mas não é só isso. Este fluxo de dinheiro é ainda 20 vezes maior do que é preciso para alimentar, durante um ano, os mais pobres espalhados por todos os continentes, segundo a ONU. É mais de duas vezes o volume de recursos pedidos para que, em 2023, se resgatem 230 milhões de pessoas em 69 países que vivem graves problemas naturais e de conflitos armados, como o Haiti.
Só nos últimos dias, o Japão anunciou mais US$ 5,5 bilhões para a Ucrânia, enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, colocou mais US$ 500 milhões sobre a mesa. Enquanto isso, os governos europeus se mobilizam para criar um consórcio para abastecer a Ucrânia com munição em 2023. Até países pobres do leste europeu contribuem com o que não podem para a guerra. A Estônia, por exemplo, mandou o equivalente de 1% de seu PIB para os ucranianos, contra 0,07% da França e 0,4% dos EUA.
O reposicionamento da Europa e aliados da Otan, ao enviar armas ainda mais avançadas para os campos ucranianos, favorece a possibilidade de países aliados da Rússia, como a China, começarem a gastar recursos também no conflito. Fora os que já colaboram de forma clandestina, como a Turquia que é acusada de manter uma fluxo paralelo de armas para a Rússia.
Biden destacou em seu discurso em Varsóvia na quarta-feira o fato de que a aliança ocidental mostrou seu compromisso com os ucranianos ao longo do ano, para a surpresa de analistas internacionais e mesmo do governo de Moscou. De fato, com a fome se alastrando até por países ricos, a inflação descontrolada, as dificuldades com combustíveis, os efeitos ainda sentidos da covid sobre as economias, e o desarranjo global com a guerra, se imaginava que as potencias ocidentais fossem ter prioridades diferentes e estimular a pacificação do conflito.
“Minha guerra é contra a fome”
A Casa Branca intensifica a busca por novos aliados, que possam também contribuir, inclusive na América do Sul, como no caso do Brasil. Mas a recente turnê do chanceler alemão Olaf Scholz pelo continente terminou sem resultados diante da recusa dos governos da região em se envolver na guerra.
Em recente viagem aos Estados Unidos, o presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, reforçou a Joe Biden a necessidade de criar um grupo de países que promovam uma nova mesa de negociações para levar o conflito ao fim.
Lula prefere ignorar a franca disposição dos países ricos ocidentais de intensificar o conflito, e mantém a retórica de busca pela paz. Ainda antes de assumir o governo, o brasileiro já dizia que sua guerra era contra a fome, ao ser questionado sobre um eventual apoio à Ucrânia.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, afirmou nesta quinta-feira (23) que o governo de Vladimir Putin está “analisando” as sugestões de Lula para encerrar a guerra. A aposta do brasileiro é pelo desgaste que o apoio à guerra tem causado principalmente nas populações dos países europeus, além dos próprios russos.
O russo dizer estar atento à possibilidade de mediação, “a fim de encontrar caminhos políticos para evitar a escalada na Ucrânia, corrigindo erros de cálculo no campo da segurança internacional com base no multilateralismo e considerando os interesses de todos os atores”, disse Galuzin à agência russa Tass.
O vice-ministro ainda disse que a Rússia “valoriza a posição equilibrada do Brasil” sobre o conflito, marcada pela “rejeição a medidas coercitivas unilaterais tomadas pelos Estados Unidos e por seus satélites e a recusa de nossos parceiros brasileiros em fornecer armas, equipamentos militares e munição para o regime de Kiev”.
Galuzin ainda mencionou o fato do Ocidente estar pressionando governos como o brasileiro para entrar na guerra, e sua resistência expressa nas propostas de Lula. “Ao mesmo tempo, podemos ver como Washington está pressionando o Brasil. Essa postura soberana merece respeito”, emendou Galuzin.
(por Cezar Xavier)