Franceses fazem greve geral contra reforma previdenciária
Professores, maquinistas e trabalhadores de refinarias na França estão entre os que aderiram a um dia nacional de greves, enquanto a revolta aumenta com os planos do governo de aumentar a idade de aposentadoria em dois anos, para 64 anos. São 12 dos maiores sindicatos da França que se uniram para liderar o protesto, uma unidade rara entre eles.
Segundo levantamento do Le Monde, só na Place de la République em Paris são 400 mil manifestantes, 145 mil em Marselha, 60 mil em Bordeaux, 50 mil em Nantes, 30 mil tanto em Le Havre quanto em Strasbourg. Os sindicatos e a imprensa percebem que, muito além da previdência, a insatisfação dos manifestantes se expressa em torno de inúmeras outras precarizações do trabalho, além do alto custo de vida. Este caldo de revolta pode tornar as manifestações um enorme desafio para Macron.
Os protestos são um grande teste para o presidente Emmanuel Macron, que afirma que seu plano de reforma previdenciária – que é altamente desfavorável nas pesquisas de opinião, com 68% das pessoas contra o aumento – é crucial para a economia. Para ele, os planos de previdência colocam em jogo suas credenciais reformistas, tanto no país quanto entre seus pares da União Europeia, como forma de conter os gastos públicos.
Os sindicatos franceses pediram a mobilização em massa nesta quinta-feira. A última vez que fizeram isso foi há 12 anos, quando a idade de aposentadoria aumentou de 60 para 62 anos. O trabalhador francês entende que não apenas vai trabalhar mais, como também vai ocupar vagas que poderiam ser abertas para os mais jovens, num país com cada vez mais desemprego.
Embora as estimativas do Ministério do Trabalho francês digam que a reforma da aposentadoria traria um adicional de 17,7 bilhões de euros (US$ 19,1 bilhões) em contribuições anuais para pensões, permitindo que o sistema chegue ao ponto de equilíbrio até 2027, os sindicatos dizem que há outras maneiras de garantir a viabilidade do sistema previdenciário, como o aumento de impostos para os super-ricos.
Apesar dos protestos, a reforma tem grande probabilidade de ser aprovada, graças ao acordo de Macron com o principal partido conservador, Os Republicanos. Macron acredita que esse será seu grande legado de governo. Caso recue, estará enfraquecido no Congresso Nacional.
O transporte público de Paris está parado e os trens terão dificuldade para circular por toda a França.
De acordo com o principal sindicato dos professores, 70% dos professores primários estão em greve, já que muitas escolas fecham durante o dia. Os professores carregam faixas que dizem “Não a 64”.
A última tentativa de Macron de reforma previdenciária em 2019 foi interrompida um ano depois, quando a pandemia de covid-19 atingiu a Europa.
Nos territórios franceses ultramarinos, magistrados e funcionários da justiça participam das marchas em Nova Caledônia, refinarias estão bloqueadas pelos grevistas nas Antilhas (Índias Ocidentais), as escolas fechadas na Guiana, 3 000 manifestantes nas ruas de Saint-Denis de la Réunion apesar das férias escolares.
Em todos esses casos, as reivindicações se focam no aumento da idade de aposentadoria e em críticas à austeridade fiscal imposta pela União Europeia. Os sindicalistas também dizem que, nestes territórios, as condições de vida são mais difíceis, o que terá implicações ainda piores para os aposentados.
Terça-feira, na Assembleia Nacional, o presidente da recepção do ultramar, Moetai Brotherson, tinha desafiado o Governo sobre as especificidades dos territórios ultramarinos: “A esperança de vida aí é 6 anos inferior à de França, as pensões de reforma são 15% inferiores, a taxa de pobreza dos aposentados é mais alta, a insegurança no trabalho três vezes maior, há as vítimas do clordecone ou dos testes nucleares cujas carreiras são interrompidas porque morrem ou ficam inválidos. »
(por Cezar Xavier)