100 mil lotam a frente do parlamento de Israel contra o ataque de Netanyahu ao Judiciário
“Na Alemanha nazista, eles também chegaram ao poder democraticamente”, comparou o deputado Ram Ben Barak, que preside o Comitê de Relações Exteriores e de Defesa do Knesset, parlamento israelense, por indicação do partido Yeshn Atid (Há Futuro) presidido pelo ex-premiê Yair Lapid.
“Estamos no caos”, declarou Ben Barak, “vocês pensam que consentiremos em viver sob sua ditadura? Vocês pensam que nós não entendemos o que é esse primeiro passo? Amanhã vocês vão passar leis que os manterão no poder para sempre. O que está acontecendo aqui é um movimento ilegal e nós não permitiremos que destruam o que nos tomou 75 anos para construir”.
Netanyahu reagiu como se sentindo indignado e acusando o opositor daquilo que está perpetrando ao dizer que “a oposição saiu dos trilhos e Ram Ben Barak vergonhosamente e escandalosamente compara o governo de Israel aos nazis”.
A resposta de Barak não tardou: “Netanyahu, Ben Gvir e todos seus companheiros de viagem leiam a história e vejam como o partido nazista subiu ao poder democraticamente e logo se tornou uma ditadura. O processo legislativo que se está avançando em forma alegadamente democrática logo também se tornará uma ditadura”.
O primeiro-ministro que antecedeu Bibi Ntanyahu, Yair Lapid, também denunciou o atual governo israelense: “A História os julgará por esta noite, por este dano à democracia, economia e segurança, por rasgar o povo israelense em pedaços e por simplesmente não ligar”.
O debate transcrito acima é uma pequena mostra da tensão presente durante toda a sessão onde foram aprovadas em primeira leitura (ainda restam mais duas) duas das leis que integram o projeto de anulação do Judiciário israelense: a primeira muda a composição do comitê parlamentar especial que indica os juízes da Corte Suprema e a segunda que tira desta Corte quase todo o poder de rejeitar leis aprovadas pelo parlamento quando estas estiverem em desacordo com direitos básicos do cidadão.
O projeto não para por aí. Ainda estão em andamento no Comitê de Lei e Justiça propostas como a que vai no sentido oposto; qualquer decisão da Corte Suprema pode ser anulada pelo Knesset com a vantagem de apenas um voto a mais do que a metade dos parlamentares, ou seja, com 61 dos 120 votos possíveis no parlamento israelense.
Durante a sessão foram retirados à força manifestantes que, nas galerias, batiam no vidro que as separam do plenário. Do plenário foram retirados deputados que, em protesto, se envolviam com a bandeira de Israel.
A tensão esteve presente durante toda a sessão e atingiu o auge quando o deputado Simcha Rothman, que preside o Comitê de Lei e Justiça, leu a o projeto a ser votado.
A proposta de castração dos poderes dos juízes passou por 63 votos (dois a mais do que a maioria simples). Votaram contra 47 deputados. A bancada do partido Israel Beiteinu de seis deputados se recusou a participar da excrecência parlamentar e outros 4 foram afastados do plenário pela segurança a pedido da direção dos trabalhos a cargo de Amir Ohana, da coalizão fascista encabeçada por Netanyahu, pois estariam tumultuando a sessão.
Enquanto a tensa discussão acontecia no plenário do Knesset os manifestantes, que vieram de todo o país em caravanas para se juntarem aos moradores de Jerusalém, enchiam as avenidas centrais principalmente a Kaplan e Rupin.
Grupos de manifestantes jovens se postaram desde cedo, na segunda-feira, na porta das residências dos deputados da coalizão fascista para dificultar a ida deles ao parlamento. Foram tirados destas residências e detidos pela polícia.
Mesmo que este conjunto de propostas passe pelo Knesset, há ainda a possibilidade de se configurar uma situação de duplo poder com a Corte Suprema considerando a lei de supressão do Judiciário como ilegal.
Fonte: Papiro