Multidão em Munique exige negociações de paz para pôr fim ao conflito na Ucrânia | Foto: Twitter

“Guerra nunca mais”, “Negociar em vez de disparar” e “Desarmar em vez de armar” exigiram milhares de pessoas em Munique no sábado (18), em repúdio à guerra dos EUA por procuração contra a Rússia na Ucrânia e contra a 59ª Conferência de Segurança que leva o nome da cidade alemã e transformada explicitamente este ano em um foco de belicismo, provocação, endosso ao regime neonazista de Kiev e alargamento da Otan às fronteiras russas.

Com o aniversário de um ano de guerra ocorrendo nesta semana, começam a se multiplicar os atos por negociações e o cessar-fogo, ao invés da escalada anunciada quase diariamente pela Otan e Washington, com a entrega de mais armas e dinheiro ao regime de Kiev.

ATOS EM LONDRES E WASHINGTON

Também no sábado uma coalizão de ativistas e personalidades contra a guerra se concentrou diante do Memorial a Lincoln em Washington, juntando centenas de pessoas, inclusive ex-pré-candidatos à presidência. Em Londres está marcado o protesto no próximo sábado (25) NO2NATO, NO2WAR. Em Genova, Itália, está marcada, pela central sindical USB, no mesmo dia, uma manifestação sob o lema “Baixar as Armas e Elevar os Salários”.

Na conferência, somando-se às confissões de Merkel e Hollande de que o objetivo dos acordos de Minsk patrocinados por eles foi de dar tempo a “rearmar a Ucrânia” e não a pacificação, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyern, disse que a preparação com os EUA das sanções contra a Rússia começou em dezembro de 2021, isto é, antes do conflito ter início.

“Meu gabinete na Comissão começou a trabalhar com a Casa Branca e o Tesouro [dos EUA] em dezembro [de 2021], sobre possíveis sanções […] Foi um trabalho árduo, dia e noite, alinhar nossos sistemas comerciais muito diferentes, desenvolver sanções direcionadas a tecnologias e bens avançados que são insubstituíveis para a Rússia e estar completamente sincronizados também dentro do G7.”

Também o premiado jornalista Seymond Hersh revelou que a preparação da explosão dos gasodutos Nord Stream começou na Casa Branca também em dezembro de 2021.

Foi nessa mesma conferência, em 2007, que o presidente Putin proferiu o célebre discurso afirmando que o mundo não ia engolir a “ordem unipolar” de Washington, advertira contra a crise que estava sendo emprenhada com o avanço da Otan até às portas da Rússia, cujas linhas vermelhas eram a neutralidade e não armamento da Ucrânia e da Geórgia, apesar dos compromissos assumidos pelos EUA quando da reunificação alemã.

No ano seguinte, W. Bush anunciou que Ucrânia e Geórgia seriam anexadas à Otan – em 2002 ele havia rompido o tratado ABM (que limitava a um o sistema antimíssil que cada lado poderia ter) -, além de ter invadido o Iraque à revelia da ONU.

Sob Obama, a CIA organizou em 2014 o golpe de Estado que usou notórios nazistas como tropa de choque para instaurar o regime encarregado executar a anexação, e cujo programa era a “descomunização” e a “desrussificação”. Foi a política de desrussificação forçada que provocou a revolta do Donbass e faz nove anos que Kiev insiste na guerra e limpeza étnica dos russos étnicos que há séculos vivem na região.

Na conferência, prevaleceu um discurso tão divorciado da realidade – sobre as causas do conflito e a situação no terreno – a ponto da maníaca de guerra que agora é ministra das Relações Exteriores alemã, Madame Baerbock, proferir a disparatada exigência a Putin de que dê “um giro de 360º” (sic) na Ucrânia.

Ou, como registrou o portal Sputnik, “a Otan sobe as apostas: o mantra ‘derrotar a Rússia’ varre Munique”. Para as entidades organizadoras do protesto, a conferência de Munique tornou-se essencialmente a “conferência da Otan”.

CHINA PELA NEGOCIAÇÃO E A PAZ

Presente à conferência, em busca de frear o desvario em curso em Washington e Bruxelas o ex-chanceler e atual responsável a nível do Comitê Central do PCCh das Relações Exteriores, Wang Yi, disse que havia visto “o texto básico para a resolução pacífica [da questão na Ucrânia, mas o processo foi interrompido”, o que indicou ter ocorrido porque “algumas forças” não quiseram “que as negociações de paz se materializem”. “Elas não se importam com a vida ou morte dos ucranianos ou com os danos à Europa. Elas podem ter objetivos estratégicos maiores do que a própria Ucrânia.”

Wang Yi, que se reuniu com o secretário de Estado Antony Blinken, fez questão de explicitar o teor das conversações, após comentários do lado norte-americano sobre supostas ‘linhas vermelhas’. A China exortou os EUA a trabalhar em direção a uma solução política para o conflito na Ucrânia, em vez de “acender as chamas” desse impasse militar entre Moscou e Kiev e “lucrar com a situação”.

A própria China está “comprometida em promover negociações de paz”, disse o comunicado, acrescentando que uma parceria estratégica entre Moscou e Pequim é um “direito soberano de… dois estados independentes”. A China “não aceitaria as acusações dos EUA ou mesmo a coerção visando as relações China-Rússia”, alertou.

PRESENTE À CONFERÊNCIA, BRASIL DEFENDE A PAZ

Presente à conferência, o chanceler Mauro Vieira afirmou que em “em vez de participar de uma guerra”, o Brasil prefere “falar de paz”. Vieira também reafirmou que o país não enviará armas para a Ucrânia usar na guerra.

“O Brasil está pronto para ajudar sempre que possível” nas conversas para a paz. Ele acrescentou que o Brasil é um país pacífico e “o presidente Lula lutou para preservar a paz na nossa região e no mundo”.

Fonte: Papiro