Manifestação exigiu investimento em educação pública e recomposição salarial | Reprodução

“150 mil desfilaram no sábado (11) pelas ruas de Lisboa na maior manifestação da história de Portugal”, afirmou o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, frisando que os “docentes reclamam justiça, efetivação dos seus direitos e respeito pelo horário de trabalho”. “Não vamos aceitar que o tempo de serviço trabalhado não seja contado. Tempo trabalhado não pode ser roubado”, criticou.

Conforme as entidades do magistério, o gigantesco protesto na capital coroou a série de greves realizadas pelo país inteiro contra a política de abandono e desvalorização do ensino, em meio ao agravamento da crise econômica, que retira direitos e arrocha os salários. O reajuste salarial acima da inflação é, portanto, uma necessidade imediata, defenderam os trabalhadores da educação. Esta é a terceira vez em menos de um mês que eles marcham em massa para que suas reivindicações sejam atendidas.

Portugal é um dos países mais pobres da Europa Ocidental e, conforme dados do próprio governo, mais de 50% dos trabalhadores ganhavam menos de 1.000 euros por mês no ano passado. O salário mínimo é de 760 euros por mês. Os professores de faixa salarial mais baixa recebem cerca de 1.100 euros e, mesmo os professores mais abonados ganham normalmente menos de 2.000 euros.

Enquanto isso, o valor dos imóveis subiu 18,7% em 2022, o maior aumento em três décadas, e os aluguéis também dispararam. O baixo poder real dos salários pode ser melhor compreendido quando vemos que o aluguel de um apartamento de apenas um quarto na cidade do Porto está por volta de 700 euros. Em Braga, cidade de cerca de 200 mil habitantes, o apartamento de um quarto fora do centro é de 450 euros e de 560 euros mais no centro.

“Estou indignado com os salários miseráveis, as avaliações discriminatórias e os horários desumanos. Esta é a realidade da nossa profissão hoje”, desabafou o professor Augusto Figueiredo, de 64 anos.

“Sinto-me roubada todos os dias da minha vida”, sintetizou Albertina Baltazar, professora de educação especial, esclarecendo que “reivindica é que nossa profissão seja respeitada”.

Assegurando que o nível de adesão foi de cerca de 95%, Mário Nogueira ironizou a postura do ministro da Educação, João Costa, a quem acusa de desonestidade no cálculo sobre o massivo apoio. “Está enxergando mal o doutor João Costa, a quem aconselhamos que compre uns óculos para que saiba fazer contas sem serem tão atabalhoadas”, declarou.

Para o secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE), João Dias da Silva, os professores deixaram claro que “exigem respostas rápidas e concretas”, e que esta foi a forma encontrada pela categoria para “fazer o governo abrir os olhos”.

“Há muito tempo somos maltratados”, disse a professora de português Maria Coelho, sustentando uma faixa exigindo “Respeito”.

“SEMANA DE LUTA”

Na próxima semana, está marcada uma “semana de luto e de luta”. Na quarta (15) e sexta-feira (17) os sindicatos farão atos na porta das escolas, dialogando com pais e estudantes sobre a política de precarização que vem sendo implementada, como a falta de progressão na carreira. Caso não haja acordo com o governo, já estão marcadas paralisações para os dias 2 e 3 de março.

Um ano após o primeiro-ministro Antonio Costa ter conseguido a maioria no Parlamento, seu governo enfrenta uma enorme queda de popularidade e uma forte onda de protestos não apenas de professores, mas de várias categorias.

Maior central do país, a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) realizou na quinta-feira (9) mobilizações e paralisações pelo país contra o aumento dos preços e exigiu que o governo reajuste os salários dos trabalhadores com ganho real.

“Se formos persistentes e não desistirmos da luta, estou convencido de que o governo vai ter de nos ouvir”, concluiu o professor Carlos Faria.

Fonte: Papiro