Aviões com ajuda humanitária pousam no aeroporto de Damasco | Fot: Islam Times

A pressão mundial pela suspensão das sanções à Síria acabou obrigando os Estados Unidos expedir uma isenção por seis meses para todas as transações relacionadas ao fornecimento de ajuda ao país devastado pela guerra e pelo bloqueio perpetrados por mais de década por Washington.

“Quero deixar bem claro que as sanções à Síria não ficaram no caminho dos esforços para salvar vidas do povo sírio”, disse, em sua dúbia declaração, o subsecretário do Tesouro, Wally Adeyemo, nesta quinta-feira (9). A declaração mostra que a isenção é, além de temporária (por um semestre), é parcial, uma vez que se refere a isenção para atender a “esforços de salvar vidas” e, portanto, não é uma suspensão total.

Como observou o acadêmico do Middle East Institute, Karam Shaar, a “recente isenção terá impacto positivo, mas limitado”.

“Torna mais fácil o envio de fundos à Síria”, acrescenta Shaar. Segundo o portal Al Jazeera, antes da medida, tinham que gastar dinheiro e tempo para tentar obter uma isenção (provando que era para ajuda humanitária) para cada remessa.

A prática é que vai dizer, diz a Al Jazeera, até que ponto a medida vai ser efetiva, ou se as instituições financeiras vão ainda permanecer com receio de transacionar com a Síria por medo de retaliação, alegando ultrapassagem de normas do bloqueio.

A Síria não considerou a medida da Casa Branca suficiente e, através de seu Ministério do Exterior, exigiu, nesta sexta (dia 10), que “Estados Unidos ponha fim sem hesitação, sem condicionamentos ou exceções, às medidas coercitivas unilaterais impostas sobre o povo sírio, e pare com suas práticas hostis e violações da lei internacional e da Carta da ONU”.

O MRE da Síria reforçou a conclamação que “todos os países e organizações internacionais, que têm se postado ao lado do povo sírio – diante do sofrimento causado pelo terremoto devastador e pela guerra que foi forçada a manter em luta contra o terrorismo – a exigirem a suspensão incondicional do bloqueio desumano, imoral e ilegal imposto contra o povo sírio”.

Neste sentido, o MRE da Síria enfatiza que a declaração do governo norte-americano não deve enganar ninguém pois é parcial e foi realizada para “passar uma falsa impressão de humanitarismo”.

A declaração lembra da pilhagem do petróleo realizada pelos EUA em partes do território soberano da Síria que, neste mesmo momento, tem dificuldades até de combustível para deslocar comboios rodoviários com mantimentos até os locais atingidos pelo terremoto.

Para a chancelaria síria, trata-se de uma decisão “enganadora” pois “trata de um congelamento parcial e temporário de algumas das medidas coercitivas, unilaterais e fatais impostas ao povo sírio”.

A declaração conclui destacando que as “políticas dos EUA têm privado o povo sírio de suas riquezas naturais, que vêm sendo pilhadas e têm limitado a capacidade de instituições estatais sírias de melhorar os padrões de vida, de desenvolver plenamente seus objetivos e prover os

“Frequentes ataques militares [dos EUA] e duras sanções econômicas causaram um grande número de vítimas civis e privaram os sírios de seu sustento”, disse o Ministério das Relações Exteriores da China.

Um dia antes da declaração norte-americana de isenção parcial das sanções, a China, através de seu Ministério de Relações Exteriores, a China expressou sua repulsa à política de dos Estados Unidos de impor sanções unilaterais a países que considera inimigos, ao abordar caso da tragédia que atingiu a Síria.

Segundo a porta-voz da chancelaria chinesa, Mao Ning, a política norte-americana de bloqueio à Síria atrapalha os esforços internacionais para envio de ajuda humanitária. “Os terremotos devastadores, além dos anos de guerra e turbulência política, levaram a Síria a uma terrível crise humanitária, que precisa de ajuda internacional para socorrer aquelas pessoas que estão sofrendo neste momento”.

Ning também lembrou que “os frequentes ataques militares dos EUA foram uma das causas da situação atual que o país vive, além das duras sanções econômicas, que tiraram os meios de subsistência dos sírios. Essas sanções são ainda mais cruéis em um momento como o atual”.

“Diante de uma catástrofe dessa natureza, os Estados Unidos devem deixar de lado suas obsessões geopolíticas, suspender imediatamente as sanções unilaterais contra a Síria, para abrir as portas à ajuda humanitária”, exigiu a porta-voz.

Na terça-feira (07), o chanceler da Venezuela, Yván Gil afirmou que “este é o momento de a comunidade internacional levantar sua voz para exigir o fim das sanções contra a Síria”.

Quanto à ONU, coube ao coordenador de missões humanitárias, Jens Laerke clamar pelo fim das sanções: “Este país sofreu onze anos de guerra, sua infraestrutura está danificada. Precisamos de uma atitude das autoridades que seja mais compreensiva com as necessidades dessas pessoas em um momento tão delicado”.

Apelos vieram do interior dos Estados Unidos, a exemplo do Comitê Árabe-Americano Anti-Discriminação. “O levantamento das sanções permitiria o envio de mais ajuda, um alívio que milhares de pessoas estão precisando urgentemente neste momento”.

O Centro Carter também se somou aos apelos, chamando não só o governo norte-americano, mas de todos os países tomar as medidas necessárias e fornecer as garantias para “facilitar o fluxo de assistência aos necessitados”.

Joshua Landis, diretor do Centre for Middle East Politics, da Universidade do Oklahoma, destacou: “Os Estados Unidos tem interposto sanções muito severas sobre a Síria. É impossível mandar dinheiro aos entes queridos através dos bancos. Os Estados Unidos controlam todo o petróleo sírio e isso significa que máquinas e veículos permanecem parados”.

O presidente do Crescente Vermelho da Síria (equivalente árabe da Cruz Vermelha), Khaled Hboubati, exigiu, em conferência de imprensa nesta terça-feira, que a União Europeia também levante as sanções impostas desde 2011. “São sanções que pioram a difícil situação humanitária na Síria”.

Entre os países que já estão enviando ajuda à Síria destacamos a Rússia, México, Venezuela, China, Irã, além de vários países árabes, como Egito, Líbano, Jordânia, Paquistão, Argélia, Iraque e Tunísia.

Entre os europeus, a ajuda a qual temos notícias veio da França, que informa haver enviado 12 milhões de euros. Além do pequeno apoio francês, ainda não temos notícia de envio de mantimentos ao povo sírio, através de seu governo, por países europeus.

Fonte: Papiro