Transição aponta política externa de Bolsonaro negacionista e hostil aos parceiros comerciais
O governo de Jair Bolsonaro fez do Brasil um pária internacional por brigar desnecessariamente com parceiros comerciais, como a China, e pelo negacionismo em relação à pandemia de Covid-19, afirma relatório do Gabinete de Transição para a política externa.
“Durante a pandemia de covid-19, o governo Bolsonaro negou sua gravidade e questionou sistematicamente a capacidade da Organização Mundial da Saúde [OMS] como coordenadora dos esforços multilaterais de contenção da crise sanitária”, afirma o documento, que foi tornado público na quinta-feira (16), divulgado pelo UOL.
Além disso, o país “abandonou sua posição tradicional em favor do acesso a medicamentos, em prejuízo dos interesses de nossa própria população” quando o governo Bolsonaro deixou de apoiar a proposta, feita pela Índia e África do Sul, de suspender as patentes para a produção de medicamentos essenciais no combate à Covid-19.
O Gabinete de Transição, organizado em grupos de trabalho, analisou as posições e as ações do governo Bolsonaro para planejar a gestão nos próximos quatro anos.
O GT de política externa avaliou que “o governo Bolsonaro optou por não adquirir tempestivamente vacinas suficientes para efetuar campanha massiva de imunização e apostou na obtenção de hidroxicloroquina, sem respaldo científico”.
Pela “ausência de estratégia organizada e centralizada” para aquisição de suprimentos e materiais de saúde, os Estados e municípios foram “abandonados à própria sorte”.
“Prefeitos e governadores se viram forçados a buscar diretamente fornecedores externos, em contexto de extrema competição por insumos, para manter o suprimento regular de material de saúde junto a estados e municípios. O Brasil tornou-se uma ameaça sanitária global e quase 700 mil vidas foram perdidas, das quais se estima que 400 mil poderiam ter sido poupadas”, conta o relatório.
Enquanto sabotava as ações amparadas pela ciência, como o distanciamento social, uso de máscaras e a vacinação, o governo Bolsonaro insistia na “promoção de medicamentos sem eficácia” contra Covid, como é a hidroxicloroquina.
“Iniciativas não baseadas em evidências cientificas, como as relacionadas à falta de prioridade para a compra de vacinas, à promoção de medicamentos sem eficácia, (…) e à atuação na OMC em temas de propriedade intelectual, afastada dos pleitos de países em desenvolvimento, são exemplos de como o país abdicou de histórico protagonismo em defesa da saúde pública em foros multilaterais e em suas relações bilaterais”, continuou o relatório.
O Gabinete de Transição orientou o governo Lula a trabalhar pelo “reforço de arquitetura global da saúde que promova a prevenção, preparação e resposta a pandemias e o correspondente fortalecimento dos sistemas de saúde, assim como no que diz respeito aos determinantes sociais da saúde e suas consequências na equidade no acesso à saúde”.
De acordo com a Transição, o governo Bolsonaro “criou constrangimentos desnecessários com nosso principal parceiro comercial e país produtor de produtos hospitalares essenciais, vacinas e seus insumos básicos”, que é a China. Foram diversas agressões gratuitas por parte de Bolsonaro e seus aliados contra o país asiático.
O relatório do grupo de trabalho de política externa da transição de Lula, documento que ficou em sigilo até quinta-feira (16), indica que o novo governo deve resgatar o papel central do Brasil em debates sobre a saúde e reforçar relações com países em desenvolvimento.
O documento defende também “ampliar projetos de cooperação com países do sul global, nos continentes africano e asiático e em âmbito regional”.
Cita também a necessidade de “reforçar iniciativas de cooperação internacional na área de saúde”, em especial as “sul-sul”, isto é, entre países do sul global, “e/ou triangulares”.
O Gabinete de Transição aponta a importância de fortalecer e participar da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) “para estimular a promoção de agendas de saúde pública, em prol de todos os países do continente”.