Trabalhadores em greve ocuparam o centro de Londres | Foto: Justin Tallis/AFP

Professores, funcionários públicos, maquinistas de trem e motoristas de ônibus ingleses realizaram nesta quarta-feira (1º) a maior greve geral do país nos últimos 12 anos. A paralisação é um protesto de diversos setores, unidos pela reivindicação de melhores salários contra o arrocho e a inflação de 10,5%, com salários não repostos.

Ao mesmo tempo, o Trades Union Congress, federação que representa a maior parte dos sindicatos, está realizando mais de 75 atos em todo o Reino Unido para protestar contra um projeto de lei do governo que considera ser um “ataque” ao direito de greve.

O projeto de lei exige a manutenção de níveis básicos de serviço – em algumas situações quase total – praticamente proibindo diversas categorias de declararem paralisações.

As greves afetaram cerca de 23,4 mil escolas, cerca de 85%, na Inglaterra e no País de Gales.

A quarta-feira também marcou o início das greves de 70 mil membros do University and College Union (UCU), que atingirão 150 universidades do Reino Unido em 18 dias em fevereiro e março, suspendendo aulas para 2,5 milhões de estudantes.

Também mais de 100 mil membros do Sindicato dos Serviços Públicos e Comerciais, que representa os funcionários públicos, se somaram à greve por causa de salários, pensões e segurança no emprego em 123 departamentos e agências governamentais.

E apenas cerca de 30% dos serviços ferroviários funcionaram nesta quarta-feira, segundo a empresa ferroviária britânica Rail Delivery Group, que alertou, por comunicado em seu site, que a interrupção pode se arrastar pelo resto da semana porque muitos trens não estarão nos pátios certos.

Embora cada setor tenha suas reivindicações, todos estão unidos para exigir aumentos salariais diante de uma inflação que está há meses acima de 10% (10,5% em dezembro) e deixa muitas famílias sem outra opção a não ser os bancos de alimentos

Os grevistas incluem, entre as principais reivindicações:

– Aumentos salariais acima dos 5% ofertados pelo governo a professores;

– Equiparação dos salários com a alta da inflação no Reino Unido;

– Correção dos valores – segundo os principais sindicatos, a remuneração média de funcionários públicos piorou em 203 libras (mais de R$ 1.500), na comparação com 2010 e com o custo de vida atual.

DÉCADA DE EROSÃO SALARIAL

O aumento salarial médio de 5% para professores este ano é inadequado, principalmente porque segue uma década de “erosão salarial” que está levando a uma “crise de recrutamento e retenção”, disse à CNN a vice-secretária-geral do Sindicato Nacional de Educação (NEU), Niamh Sweeny.

De acordo com o sindicato, o pagamento de professores experientes caiu 23% desde 2010, considerando a inflação. O pessoal de apoio, como assistentes de ensino, viram os salários caírem 27% em termos reais durante esse período, e alguns podem ganhar mais trabalhando em um supermercado local do que na educação, de acordo com Sweeny.

“Não me lembro da última vez que recebi um aumento, o governo não valoriza professores experientes. Também estou muito preocupada com os jovens professores com quem trabalho. Já vi muitos irem e virem e é porque eles sentem que esse salário baixo não vale a pena”, disse Yvonne, 59, professora de escola primária, citada pelo NEU.

“Grande parte do meu salário vai para despesas com creche e com o aumento do custo de vida, tenho que pensar se posso comprar doces para meus filhos, sair de férias ou até mesmo me oferecer para ajudá-los no futuro se forem para a faculdade”, disse Emma, ​​40, outra professora primária.

No total, até 500.000 pessoas estão em greve. A última vez que houve uma greve geral da mesma dimensão no Reino Unido foi em 2011, quando mais de um milhão de trabalhadores do setor público fizeram uma paralisação por negociações sobre pensões com o governo.

A paralisação do Reino Unido acontece um dia depois de trabalhadores pararem a França com uma greve e grandes protestos contra a reforma da previdência do país.

Fonte: Papiro