Rússia exalta Stalin e memória soviética nos 80 anos de Stalingrado
A vitória da União Soviética sobre a Alemanha na Batalha de Stalingrado – que durou 200 dias e custou a vida de quase 2 milhões de pessoas – completa 80 anos nesta quinta-feira (2). A mais longa e mais sangrenta batalha da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) foi um marco da resistência ao nazifascismo.
“É efetivamente uma questão de vida ou morte – e nosso prestígio, assim como o da União Soviética, depende grandemente desse resultado”, admitiu, no calor do combate, Joseph Goebbels, ministro de Propaganda da Alemanha nazista. No final, o triunfo dos comunistas soviéticos, liderados por Josef Stalin, mostrou ao mundo que, a despeito do poderio da Wehrmacht – as Forças Armadas de Adolf Hitler –, a paz não estava perdida.
Por sua complexidade e por suas contradições, Stalingrado lembra as primeiras linhas de Um Conto de Duas Cidades, de Charles Dickens: “Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez. Foi a época da crença, foi a época da descrença. Foi a estação da Luz, a estação das Trevas – a primavera da esperança, o inverno do desespero.”
Ao mesmo tempo que a “Grande Guerra Patriótica” chegava ao ápice com um rastro de destruição e morte, a batalha foi fundamental para ditar os rumos do conflito. Conforme sintetizou Boris Egorov no Russia Beyond, “a Alemanha nazista e o bloco militar e político dos países do Eixo sofreram um golpe terrível, os países-membros da coalizão anti-Hitler recuperaram seu ânimo e o Exército Vermelho tomou firmemente uma iniciativa estratégica na 2ª Guerra Mundial”.
A União Soviética deixou de existir em 1991, e a cidade que abrigou um dos mais épicos triunfos humanos, às margens do Rio Volga, hoje se chama Volgogrado. Mas o legado de Stalingrado é reivindicado não apenas pelos comunistas – mas também pelo governo russo, que está às voltas com a guerra na Ucrânia.
Nos 80 anos da vitória, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, comparou os dois conflitos. “Esquecer as lições da História leva à repetição de terríveis tragédias. A prova está nos crimes contra civis, na limpeza étnica e nas ações punitivas organizadas por neonazistas na Ucrânia”, afirmou o líder russo na sexta-feira (27/1), Dia Internacional das Vítimas do Holocausto.
Já nesta quinta, Putin homenageou os soldados mortos em Volgogrado, onde as autoridades declararam dois dias de feriado. Houve um concerto e um desfile militar com tanques da 2ª Guerra, além de sobrevoo de aviões. No ponto mais ousado da celebração, a cidade inaugurou bustos de Stalin e dos líderes militares Georgy Zhukov e Aleksandr Vasilevsky. O Museu de Stalingrado também organizou uma programação especial. Milhares de russos participaram das festividades.