Canhões autopropulsados russos Msta-SM2 disparam contra posições ucranianas em Soledar (foto MD da Rússia)

As forças russas assumiram o controle total de Soledar, estratégica cidade do Donbass, confirmou o Ministério da Defesa de Moscou na sexta-feira (13). “A libertação de Soledar, importante para a continuação das operações ofensivas bem-sucedidas na região de Donetsk, foi concluída na noite de 12 de janeiro”, disse o porta-voz do MD russo, Igor Konashenkov, em entrevista coletiva.

Soledar, com cerca de 10 mil habitantes antes do conflito, é um centro logístico (ferroviário e rodoviário) com uma vasta rede de 201 km de túneis subterrâneos da maior mina de sal da Europa e desde agosto do ano passado ocorriam ali combates, com pesadas perdas para os ucranianos em novembro, chegada de reforços de Kiev em dezembro, mais confrontos, até o ferrolho começar a se romper no início de 2023. Batalhas longas e sangrentas foram travadas literalmente por cada casa.

De acordo com o Ministério da Defesa russo, a tomada de Soledar permitirá “cortar as rotas de abastecimento das tropas ucranianas em Artemovsk (Bakhmut), localizada a sudoeste, e depois bloquear e levar para o caldeirão [fechamento de cerco] as unidades das Forças Armadas da Ucrânia que permanecem nele”.

A tomada de Soledar tornou-se possível devido à constante destruição de fogo do inimigo por assalto e aviação do exército, tropas de mísseis e artilharia de um grupo de tropas russas. Eles desferiram continuamente ataques concentrados nas posições das Forças Armadas da Ucrânia na cidade, impedindo a transferência de reservas, o fornecimento de munições e as tentativas de retirar o inimigo para outras linhas de defesa”, disse Konashenkov.

Na operação conjunta, participaram paraquedistas russos, milícias do Donbass e os voluntários da PMC Wagner, mais aviação, artilharia e drones. Segundo o MD russo, as tropas russas pressionaram o inimigo de “forma extremamente sistemática e concertada”, com ataques frontais e pelos flancos, ocupando gradativamente as alturas dominantes e as aldeias adjacentes transformadas pelas Forças Armadas da Ucrânia em redutos. Duas cidades – Bakhmut e Soledar – já estavam em um semicerco no Ano Novo. Um pouco mais tarde, a rodovia que ligava esses nós defensivos foi cortada.

LINHA FORTIFICADA

As forças ucranianas, auxiliadas por conselheiros dos EUA e da OTAN, passaram oito anos construindo uma complexa rede de fortificações e trincheiras no Donbass, de que Soledar é parte, e usaram essas posições para lançar ataques indiscriminados de artilharia e mísseis contra civis em Donetsk e outras cidades do Donbass e contra as forças russas e as milícias antifascistas.

“Assumir o controle de todo o território de Soledar significa que essa cadeia defensiva ininterrupta ucraniana foi quebrada” disse o analista militar Mikhail Onufrienko Onufrienko ao jornal Izvestia. Ele explicou que Soledar, Seversk, Artemovsk, Konstantinovka, Druzhkovka, Kramatorsk e Slavyansk eram uma cadeia contínua de fortificações na forma de uma ferradura – da curva de Seversky Donets e ao sul até Toretsk.

De acordo com o líder interino da República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, com Soledar livre, as possibilidades de libertação de Artemovsk (Bakhmut) e Seversk se ampliam. A libertação de Soledar abre o acesso ao aglomerado Slavyansk-Kramatorsk, onde está concentrado o principal e mais fortificado agrupamento inimigo no Donbass.

A exemplo do que aconteceu em Mariupol, nos próximos dias as forças russas estarão ocupadas fazendo uma limpeza em Soledar.

Enquanto o ministro da Defesa do regime de Kiev, Oleksiy Rezniko, em declaração pública explicitava que a serventia dos ucranianos era ser bucha de canhão para a guerra por procuração dos EUA/Otan contra a Rússia, até mesmo órgãos de mídia norte-americanos se viram forçados a publicar informações in loco que punham em xeque a tese de que “os ucranianos estão vencendo Putin e os russos malvados”.

Assim, a CNN teve de registrar um dramático relato de um soldado ucraniano em Soledar, dias antes da cidadela do regime de Kiev ruir: “ninguém mais conta os corpos”. A situação, admitiu o “Departamento de Estado no ar”, na definição da então secretária de Estado Madeleine Albright, é “crítica”.

“É difícil. Vamos aguentar até o último momento. Ninguém vai dizer quantos mortos e feridos há. Porque ninguém sabe ao certo. Nem uma única pessoa. Não só no quartel-general, mas em qualquer lugar. As posições estão sendo

constantemente tomadas. O que era nossa posição hoje, é Wagner no dia seguinte. Ninguém conta mais os mortos em Soledar”, disse o soldado à CNN.

Ele disse à CNN que os ucranianos perderam muitos soldados em Soledar, mas as fileiras de soldados estão sendo reabastecidas à medida que a batalha pela cidade continua. “As unidades foram cortadas pela metade. Não temos nem tempo de lembrar os nomes uns dos outros e já estão chegando novos”, acrescentou o interlocutor da CNN.

“Todos entendem que a cidade será abandonada. Eu só quero saber qual é o sentido de lutar. Por que devemos morrer, se vamos deixá-la de qualquer maneira hoje ou amanhã?”, perguntou o soldado ucraniano.

As perguntas do soldado parecem ser respondidas pelo ministro da “defesa” do regime de Kiev: “derramamos nosso sangue” para que o sangue dos “civilizados” seja poupado. Em contrapartida, mais armas, mais lucros excepcionais para o complexo industrial-militar ianque – que, aliás ofereceu em Washington um almoço de homenagem a Zelensky – e mais dinheiro para a corrupção sabidamente rompante, para os sátrapas de plantão e para o Batalhão Azov.

Segundo a RT, “levando em conta o grande número de soldados gravemente feridos e desaparecidos, tanto das unidades mencionadas quanto das tropas que chegam a Soledar há meses como reforços, as perdas totais de todas as formações armadas da Ucrânia em Soledar são estimadas em 20 mil a 25 mil pessoas no período desde o início do outono de 2022 até agora”.

De acordo com o Wall Street Journal, autoridades, soldados e analistas ocidentais e alguns ucranianos estão cada vez mais preocupados com o fato de Kiev ter se permitido ser arrastada para a batalha por Bakhmut nos termos russos, “perdendo as forças necessárias para sua planejada ofensiva de primavera”.

De acordo com as estimativas de analistas militares, escreve o WSJ, faria sentido recuar para uma nova linha defensiva nas colinas a oeste de Bakhmut e, assim, preservar a força de combate do exército ucraniano.

“Não sou eu, é o rei Leônidas que entendeu que você deve lutar contra o inimigo no terreno que lhe convém”, disse um comandante ucraniano em Bakhmut, referindo-se ao governante de Esparta que lutou contra o Império Persa nas Termópilas, relata o jornal americano, que cita as palavras de seu interlocutor, um oficial ucraniano:

“Até agora, a taxa de câmbio de nossas vidas pelas deles está a favor dos russos. Se isso continuar, podemos ficar sem mão de obra.”

Como diz o blogueiro Serguei (The Saker), após citar a proporção de baixas entre a Otan (Kiev) e a Rússia de aproximadamente 10 para 1: “Simplificando, a OTAN quer lutar contra a Rússia até o último ucraniano, enquanto a Rússia não quer lutar contra a OTAN até o último russo. É por isso que a OTAN luta com corpos e a Rússia com (principalmente) projéteis de artilharia”.

Pouco tempo após a confissão, da ex-primeira-ministra alemã Angela Merkel e do ex-presidente francês François Hollande, de que os acordos de Minsk não eram para levar a paz a Ucrânia, mas para lhe dar tempo para se rearmar, eis que agora um general de marines faz o mesmo, como registrado pelo articulista Dagmar Henn, da edição alemã da RT.

A indiscrição foi cometida pelo tenente-general de marines James Bierman, comandante da III Força Expedicionária dos EUA no Japão, em entrevista ao Financial Times. Declaração considerada pelo jornal como “comparação extraordinariamente aberta entre a guerra na Ucrânia e um possível conflito com a China”.

“Como alcançamos o nível de sucesso que alcançamos na Ucrânia? Grande parte porque, após a agressão russa em 2014-2015, começamos a nos preparar seriamente para o futuro conflito: treinamento para ucranianos, preparação de bases de abastecimento, identificação os locais de onde poderíamos garantir suprimentos e manter as operações. Chamamos isso de ‘preparar o cenário’. E estamos preparando o cenário no Japão, nas Filipinas, em outros lugares” [contra a China], afirmou Bierman.

Em suma, o general Bierman agora está declarando sem rodeios que os EUA “usaram” o tempo para preparar a Ucrânia como um teatro de guerra.

A bem da verdade, a agressão à Rússia é anterior, com o anúncio do então presidente W. Bush de 2008 que a Ucrânia seria ‘convidada’ a ‘ingressar na Otan’, um ano depois do histórico discurso de Putin na Conferência de Segurança de Munique, exigindo o respeito ao acordo Rússia-Otan de 1994 e ao princípio da segurança coletiva.

GOLPE CIA-AZOV DE 2014

Agressão que seguiria em 2014, com o golpe CIA-Azov de 2014, abrilhantado pela presença na praça Maidan da então secretária de Estado adjunta para Europa e Eurasia, Victória Nulan, e do senador republicano John McCain, fotografados calorosamente cumprimentando o neonazista mais conhecido do país na época, e pela instauração de um regime cujos objetivos centrais eram assumidamente a “descomunização” e a “desrussificação, além da entronização como ‘patriarcas’ da ‘nova Ucrânia’ de colaboracionistas de Hitler na II Guerra Mundial.

A resistência ao fascismo e perseguição aos falantes de russo, mais o fracasso da tentativa do regime de Kiev de aplastar pela força a revolta, levaram aos acordos de Minsk, que poderiam ter evitado o atual conflito, mas conforme as confissões de Merkel e Hollande, o objetivo jamais foi a paz ou a concessão dos direitos aos russos étnicos.

A gota d’água foi quando o regime de Kiev se desobrigou em relação aos acordos de Minsk, anunciou na Conferência de Munique em 2021a disposição de obter armas nucleares e de se anexar à Otan, o que em fevereiro de 2022 foi seguido por uma campanha de bombardeio às repúblicas do Donbass, em um nível que só se vira em 2014/15, tornando patente que uma iminente operação para expulsar os russos étnicos de suas terras ancestrais, como a OTAN fez com os sérvios da Krajina, não era apenas “rumores”.

Antes disso, a Rússia apresentou aos EUA e à Otan uma proposta de restauração do princípio da segurança coletiva e a retirada das armas ofensivas e tropas para a linha vigente em 1997, o que foi recusado por Washington e acatado caninamente por Bruxelas. Na falta de disposição do Ocidente em admitir o fim do mundo unipolar sob ordens dos EUA, a Rússia, cumprindo a advertência apresentada, agiu para defender sua soberania, denunciou os acordos de Minsk, reconheceu a independência do Donbass e iniciou sua operação de ‘desmilitarização e desnazificação’ da Ucrânia.

Papiro (BL)