Governador de Rondônia é único que recusa assinar carta em defesa da Amazônia
O governador reeleito de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), recusou-se a assinar a carta do Consórcio dos Governadores da Amazônia Legal (AC AP, AM, MT, MA, PA, RO, RR, TO) com compromissos pelo desenvolvimento sustentável e preservação ambiental do bioma. O governador de Rondônia esteve na COP27.
O documento foi ratificado pelos poderes executivos estaduais e entregue ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante a conferência do clima da ONU, a COP27, realizada no Egito. A informação foi divulgada nesta terça-feira (22) pela Folha de S. Paulo.
Alçado a governador na onda bolsonarista de 2018, o policial militar é aliado de Jair Bolsonaro (PL) no estado onde mais ocorrem atentados violentos impunes contra caminhoneiros de grupos que não aceitam a derrota do presidente. “Sempre estaremos juntos [com Bolsonaro]”, publicou Rocha após a apuração dos votos, estimulando os bloqueios de estrada que continuam.
A postura de Rocha é compatível com a política ambiental de seu governo, marcado pelo enfraquecimento das normas ambientais, incentivo ao agronegócio predatório e redução de unidades de conservação. Lula, por outro lado, se comprometeu com “desmatamento zero” na Amazônia, retomar a fiscalização ambiental e acabar com os garimpos ilegais em terras indígenas.
Em declaração ao PCdoB, o professor de Meteorologia e Climatologia na UFAM e Diretor do Centro Ciências do Ambiente (CCA), Eron Bezerra, lembra que a base da economia de Rondônia é o agronegócio. “O governador é um desses militares de extrema direita eleito e reeleito no bojo da antipolítica, e estabelece a estúpida contradição entre produção e sustentabilidade”, diz o especialista.
Eron defende que a sustentabilidade pode ser produtiva e economicamente viável, com uma política acertada de meio ambiente e desenvolvimento. No entanto, a mentalidade retrógrada de alguns gestores e empresários prefere uma modalidade predatória que esgota as possibilidades naturais da região.
“Sua negativa [em assinar a carta] está dentro desse contexto e exige amplos movimentos para que o movimento popular possa, enfim, incluir Rondônia no processo do século 21, na medida em que boa parte da sua classe dominante ainda está no escravagismo”, acrescenta o ambientalista.
Na COP27, Rocha não participou da entrega da carta a Lula. A cerimônia teve a presença de outros governadores bolsonaristas da Amazônia. Entre os que endossaram o documento, estão Gladson Cameli (PP) do Acre; Helder Barbalho (MDB), do Pará; Mauro Mendes (União) do Mato Grosso; e Wanderlei Barbosa (Republicanos) do Tocantins.
1000% de queimadas após eleição
Em Rondônia e no Acre, as queimadas na primeira semana de novembro, logo após as eleições, ultrapassaram os piores números já registrados desde o início da série histórica, em 1998. Costuma ser o mês com mais chuvas e menos queimadas, habitualmente. As queimadas servem para abrir pasto para gado, geralmente por grileiros de terras.
Rondônia fechou a primeira semana do mês com 1302 focos de queimadas, contra 125 no mesmo período de 2021. O aumento foi de quase 1000% entre um ano e outro.
No Acre, 728 focos foram detectados pelo Inpe no acumulado do mês. O número é quase cinco vezes superior ao do início de novembro de 2011, o pior da série histórica, quando 152 queimadas foram registradas.
(por Cezar Xavier)