Republicanos em guerra: após 11 votações, Câmara continua sem presidente
Pela 11ª vez em três dias os republicanos fracassaram na quinta-feira (5) em eleger o presidente da Câmara dos deputados, batendo assim o recorde do último século, que havia sido registrado em 1923, quando foram necessárias nove rodadas.
Nenhum candidato obteve os 218 votos necessários. O líder republicano Kevin McCarthy obteve 200 votos, mas não chegou aos votos necessários por causa de uma ala inda mais extremista do partido (‘Freedom Caucus’) ter apresentado dois candidatos alternativos, que receberam 13 e 7 votos, respectivamente. O candidato democrata Hakeem Jeffries obteve 212 votos.
Para deleite da bancada democrata, com 222 deputados republicanos eleitos para a Câmara para o mandato de 2023, McCarthy só pode permitir que quatro membros desertem. A nova legislatura na Casa não pode começar até que o presidente seja eleito e o regulamento prevê apenas que as votações ocorram até que alguém seja o vencedor.
Situação descrita pela senadora republicana Shelley Moore como “Obtemos a maioria [na Câmara] e então iniciamos um pelotão de fuzilamento circular”. Para o portal Axios, o caos na Câmara “é emblemático de uma guerra civil mais ampla e contínua dentro do partido republicano”
“DOLOROSA DERROTA”
A mídia dos EUA não perdoou. “Dolorosa derrota”, destacou a CNN sobre o fiasco. “McCarthy perde 11ª votação para presidente”, assinalou o New York Times. “Impasse histórico continua: McCarthy sofre outra derrota na 11ª votação”, pontuou o Los Angeles Times, que previu ainda que “quem vencer, servir como presidente da Câmara será mais como ‘ser prefeito do inferno’”.
Parte dos dissidentes já se apresenta como “Never McCarthy” (“McCarthy nunca”). Caso do republicano da Flórida Matt Gaez: “Existem apenas dois resultados aqui. Ou Kevin McCarthy se retira da corrida para presidente ou ele tem que acordar todas as manhãs e vestir a melhor camisa de força do mundo antes do início de cada sessão da Câmara”. “Um acordo não está fechado”, tuitou na tarde de quinta-feira o presidente do Freedom Caucus, Scott Perry.
Além de exigirem “firmeza” contra imigrantes, gastos públicos e Biden, os dissidentes vêm pleiteando a redução do limite para que um único membro da Conferência Republicana da Câmara possa oferecer uma moção para destituir o presidente da Câmara, mais membros e aliados do Freedom Caucus no Comitê de Regras; e um compromisso de realizar uma votação sobre a legislação de limites de mandato para os membros do Congresso.
O próprio Trump interveio publicamente em defesa de McCarthy, instando a bancada a votar nele. “Feche o acordo, ganhe a vitória”, escreveu Trump em letras maiúsculas. “Não transforme um grande triunfo em uma derrota gigantesca e embaraçosa”, ele conclamou.
Já para o ex-líder republicano nos anos Clinton, Newt Gingrich, trata-se de “um desmoralizante início de 2023 para os congressistas republicanos”, referindo-se tanto ao caos na Câmara quanto no Senado, com a bancada, como salientou, “cada vez mais dividida entre uma maioria republicana tradicional e uma minoria republicana de Biden”.
Ele observou ainda que o líder da minoria democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, e sua predecessora Nancy Pelosi, estavam assistindo “alegremente os republicanos derreterem na frente de todo o país como um grupo de crianças cansadas (esta será, sem dúvida, a eleição de orador mais assistida da história)”.
Segundo ele, “a realidade da ala Biden-Republicana do Senado se tornará óbvia quando o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, e o presidente Biden se encontrarem em Kentucky para celebrar a ponte de $ 1,63 bilhão sobre o rio Ohio, que estava contida no projeto de lei de infraestrutura de quase $ 1 trilhão”.
Quanto ao estrago na Câmara, Gingrich lamuriou-se de que “é um pouco como assistir alguém incendiar a própria casa para poder desfrutar do fogo. Você se pergunta se algum desses membros intransigentes respondeu – ou até mesmo pensou sobre – a pergunta: ‘E depois?’”.
Para o ex-líder, “o republicano médio é forçado a contemplar a perspectiva da corrida de indicação presidencial mais divisiva desde a amargura de 1964 entre Barry Goldwater e Nelson Rockefeller”, que “dividiu o partido” e levou a um desastre (apenas 32 assentos no Senado e apenas 140 assentos na Câmara)”.
Ainda segundo Gingricht, “o potencial para um amargo processo de nomeação entre Trump e os never-Trump é real” – assim como a possibilidade de que Trump concorra como candidato de um terceiro partido. “Portanto, há muitos bons motivos para republicanos racionais e conservadores ponderados entrarem em 2023 se sentindo incomodados”.
Papiro (BL)