Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Mais um passo em direção à desconstrução do obscurantismo bolsonarista foi dado nesta semana. A primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, anunciou, durante a posse da ministra da Cultura, Margareth Menezes, que a obra Orixás, da artista plástica Djanira Motta e Silva (1914-1979) retornará ao Salão Nobre da sede da Presidência da República depois de ter sido retirada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). 

“Havia um furo feito de caneta na tela. Mas vai voltar ao local que pertence, o Palácio do Planalto. Vai estar numa exposição agora em janeiro, mas vai voltar. Aliás, faremos todo o trabalho de recomposição do acervo, vamos tratar isso com muito carinho”, explicou Janja sobre a obra datada dos anos 1960. 

Conforme noticiado, não ficou totalmente clara a motivação para a retirada da obra, mas é amplamente sabido que o obscurantismo e a intolerância religiosa foram marcantes durante o governo Bolsonaro. 

Além disso, conforme noticiado pela Folha de S.Paulo, ainda em 2018, após a eleição de Bolsonaro, a ex-primeira-dama, Michelle, que é evangélica, havia mandado guardar obras e imagens sacras, ou seja, pode ter sido por motivação religiosa a retirada da obra, que retrata divindades de matriz africana. 

Segundo a BBC Brasil, “na época, Bolsonaro desmentiu a informação de que mexeria nas obras do Alvorada, mas nada mencionou sobre Orixás”. 

À revista Piauí, em matéria publicada em agosto de 2020, “a secretaria da Presidência alegou que a retirada da obra foi um ‘procedimento usual que visa o descanso e o rodízio das peças de arte como medida de conservação preventiva, conforme as boas práticas da museologia’”, explicação tida como “absurda” por especialistas da área. 

Conforme apontou a revista naquela reportagem, “a ironia sobre a possibilidade de o quadro ter sido retirado por motivo religioso é que Djanira era profundamente cristã. ‘A religiosidade dela foi tanta que em 1973 ingressou na ordem das carmelitas, a Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro. Ela foi uma carmelita descalça, recebeu um hábito e o nome religioso de Teresa do Amor Divino. Porque era devota de Teresa de Ávila [santa do século XVI]. Quando faleceu, foi sepultada vestindo esse hábito’, disse o escritor e jornalista de Avaré (SP) Gesiel Júnior, 56, que escreveu quatro livros sobre a conterrânea ilustre, incluindo a biografia História de Djanira, brasileira de Avaré (ed. Arcádia, 2000, 144 págs.). O enterro de Djanira com a roupa do convento é confirmado por reportagens da imprensa na época de sua morte, ocorrida a 31 de maio de 1979”. 

No entanto, a fé da artista nunca interferiu em sua posição respeitosa com relação a outras manifestações e em seu fascínio com rituais como o candomblé, que figurou em algumas e suas obras. 

“A primeira coisa a dizer é que ela tinha fé em Cristo, praticava a religião, mas isso não significava que as outras religiões não tivessem o seu respeito, como merecem todas as pessoas. Cada um tem sua fé, e ela respeitava. Em segundo lugar, ela se encantou com o candomblé pela beleza dos rituais, pelas roupas, pelos tecidos brancos e coloridos. É um ritual de dança, é alegre”, disse à revista o escultor e ex-leiloeiro de arte Evandro Carneiro, que foi amigo da pintora. 

Com agências

(PL)